A igreja de pedra e cal, de estilo neoclássico moderno, como hoje a vemos, junto do Jardim Camões, data de 1638, conforme consta no cruzeiro do adro. Sofreu reconstruções em 1688 e 1809, como se lê também no ângulo esquerdo da fachada, sendo a mais importante a realizada após o tufão de 1874. Antes daquela data, porém, já existia, como é tradição, uma pequena ermida de madeira, em honra do mesmo taumaturgo. Segundo cremos, o templo primitivo é um dos três de que nos fala o primeiro vigário de Macau, Gregório Gonçalves, na carta enviada (por volta de 1570) ao embaixador de Espanha em Portugal, D. Juan de Borja, na qual escreve: “Vim a fazer no decurso do tempo (que foram doze anos), uma povoação muito grande, na ponta da terra firme que se chama Macau, com três igrejas”. Ora, segundo consta, foi junto da primitiva ermida de Santo António que começou a desenvolver-se a cidade cristã e onde se instalaram os primeiros jesuítas recém-chegados a Macau, em 1562, ou seja, os Padres Luís Fróis e João Baptista de Monte. Estes habitaram numa casa pertencente ao comerciante espanhol, Pedro Quinteiro. Seguidamente, permaneceram também na mesma habitação os Padres Francisco Pérez e Manuel Teixeira e o Irmão André Pinto, até fundarem a primeira residência da Companhia de Jesus, em 1565, não longe de Santo António e da residência de Quinteiro. Igualmente junto da ermida (onde está hoje a Escola Canossa), viriam os jesuítas a criar a sua primeira escola pública, por volta de 1572, cuja direcção foi entregue ao Padre António Vaz. Sobre as relações da figura de Santo António com os habitantes de Macau, cuja presença e veneração remonta, por conseguinte, à chegada dos primeiros portugueses, em 1554-1557, assinalemos que o “Santo de todo o Mundo” (nascido em Lisboa, em 1195 e falecido em Pádua em 1231) tem sido, desde há muitos anos, considerado, não só em Macau como noutras partes da diáspora lusitana, o “capitão” da Cidade, auferindo, até, um salário anual, conforme rezam os documentos. Digamos que o montante do soldo tem variado com os anos. No Boletim Eclesiástico de Macau, de Março de 1976, há informações diversas acerca dos festejos tradicionais e do soldo entregue pelo Leal Senado. Aí vemos que em 1975, por exemplo, o Senado pagou 6 mil patacas. Entretanto, fomos informados de que em 1995 foram entregues 40 mil patacas de soldo anual ao “capitão” Santo António. Mas é o campo da assistência social e religiosa aquele que se nos afigura mais relevante. Assim, cabe referir que, desde os inícios do século XX, se encontra instituído pela Confraria de Santo António o chamado “Pão dos Pobres”. Neste domínio, foi distribuído, entre 1903 e 1930, o elevado número de 7.374 picos de arroz, ascendendo, em 1931, a cerca de duzentas as famílias atendidas. E durante a última Grande Guerra (1939-1945), foi muito importante a assistência aos necessitados e refugiados de Macau. Actualmente (1999), são ainda à roda de três dezenas as famílias pobres que, nos primeiros sábados de cada mês, acorrem à distribuição de arroz nas dependências da igreja. O interior da igreja é de uma só nave de madeira, de forma cilíndrica. Digno de referência é o painel que se encontra logo à direita de quem entra. Obra do pintor espanhol Casuso, foi colocado no altar do Pão dos Pobres em 1904, e nele estão representados alguns passos ou “milagres” que a devoção popular atribui ao santo taumaturgo. A frontaria exterior do templo remata em triângulo e aqui contemplamos também uma das estátuas do santo. Para finalizar a importância do templo de Santo António na História de Macau, digamos que num recanto da torre se guardaram, até 1997, os dois últimos sinos da célebre igreja da Madre de Deus, retirados depois do incêndio de 1835 para os campanários da igreja de Santo António. Perdidos ou esquecidos, ali teve o autor destas linhas a ideia de chamar a atenção para eles, sugerindo a sua remoção para o Museu de Macau, onde os podemos contemplar agora. Os sinos contêm as datas de 1714 e 1736. Dos novos sinos colocados na igreja de Santo António, em 1931, um deles, com a data de 1929, é dedicado a Nossa Senhora da Fátima. [A.R.B.]
Bibliografia: BAPTISTA, António Rodrigues, “A Fundação de Macau e os Espanhóis nas Filipinas”, in Revista Macau, (Macau, Junho 1997); VALENTE, Maria Regina, Igrejas de Macau, (Macau, 1993).
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