Informações relevantes
Data de atualização: 2023/06/19
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
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CASTRO, D. JOÃO PAULINO DE AZEVEDO E (1852-1918). Filho de Amaro Adrião de Azevedo e Castro e de Maria Albina Carlota da Silveira, D. João Paulino de Azevedo e Castro nasceu nos Açores (Lajes do Pico), no dia 4 de Fevereiro de 1852. Depois de frequentar os estudos primários e secundários nos Açores, ingressou no Seminário de Coimbra e matriculou-se no curso de Teologia da Universidade de Coimbra, que concluiu em Julho de 1879. Neste mesmo ano, a 31 de Agosto, foi ordenado sacerdote na Capela do Paço Episcopal de Angra do Heroísmo. Mantendo-se ligado à Sé desta cidade açoriana, D. João Paulino de Azevedo e Castro, em 1890, foi promovido a tesoureiro-mor, chegando a ocupar o lugar de vice-reitor do Seminário. A par da sua carreira eclesiástica, D. João Paulino de Azevedo e Castro dedicou-se à actividade docente no seminário diocesano, tendo leccionado Teologia, Filosofia, História Eclesiástica e Direito Canónico. Apesar de ter sido nomeado Arcediago, acabou por não tomar posse em virtude de ter sido eleito Bispo de Macau pelo papa Leão XIII, o que foi confirmado em 9 de Junho de 1902. D. João Paulino de Azevedo e Castro pertenceu a um grupo de prelados com origem nos Açores que desempenharam um relevante papel religioso e político no Território. Lembremos a figura de D. José da Costa Nunes, Vigário-Geral de D. João Paulino a partir de 14 de Julho de 1906, que o substituiu à frente do bispado de Macau em finais de 1910. Uma vez em Macau, onde chegou no dia 4 de Julho de 1903, D. João Paulino de Azevedo e Castro deparou-se com alguns problemas de grande complexidade político-religiosa a que teve de dar resposta. O primeiro dizia respeito à redefinição dos limites da diocese de Macau e da prefeitura apostólica de Cantão, determinada pela Sagrada Congregação de Propaganda: a ilha de Hainão passava para a jurisdição da prefeitura e o distrito de Zhaoqing 肇慶 ficava sob a alçada da diocese de Macau. O governo francês e o prefeito apostólico tentaram opor-se à aplicação desta determinação, o que obrigou D. João Paulino de Azevedo e Castro a protestar energicamente junto do governo de Lisboa, reclamações que foram encaminhadas para Roma. Em Macau, D. João Paulino dirigiu os destinos do bispado no período crítico da implantação do regime republicano. O decreto de 8 de Outubro de 1910 ordenou a expulsão dos Jesuítas, determinação que foi executada em Macau no dia 19 de Novembro. As repercussões do regime republicano na vida dos religiosos de Macau estendeu-se a outras ordens, quando, em 29 de Novembro, se determinou a sua saída do Território. Depois de entregar o bispado a D. José da Costa Nunes, D. João Paulino de Azevedo e Castro saiu de Macau com destino à China no dia 4 de Dezembro. Depois de uma breve passagem por Hong Kong, dirigiu-se a Cantão em visita pastoral às Missões da China. Em Janeiro de 1911 passou por Singapura e por Malaca, regressando a Macau no dia 7 de Abril. Os momentos políticos difíceis que passou em Macau, no seguimento da proclamação da República, estimularam D. João Paulino de Azevedo e Castro a reflectir sobre as relações entre o Estado e a Igreja e sobre o papel que esta desempenhava no Extremo Oriente. A testemunhar esta sua preocupação, encontramos os muitos escritos que nos legou, devendo ser dado especial destaque a iO Padroado Português no Extremo Oriente e a Lei de Separação do Estado das Igrejas. Neste texto, dividido em três capítulos, D. João Paulino de Azevedo e Castro defende a ideia de que a evangelização tinha sido uma trave-mestra do processo de expansão da civilização nas nações “idólatras” e “selvagens”, sublinhando o seu alcance moral, utilitário e político. Enaltece o papel de Macau enquanto centro donde irradiava a acção missionária no Extremo Oriente, tentando provar a utilidade política da acção missionária portuguesa na China e em todo o Extremo Oriente. Um exemplo é avançado: o direito de Portugal reclamar a soberania sobre a ilha da Lapa e a ilha Verde devia-se à acção missionária desenvolvida naqueles locais desde o século XVII. A pertinência deste argumento assumiu um significado político muito particular, atendendo a que a questão da definição dos limites de Macau permaneceu em aberto no diálogo luso-chinês durante todo o primeiro quartel de Novecentos. Em 1915, iniciou a publicação de Os Bens das Missões Portuguesas na China. Os seus textos revelam um homem profundamente conhecedor da acção da Igreja, particularmente no Extremo Oriente, tema que norteou a sua investigação e a sua intervenção política e religiosa, através da palavra escrita e oral. Da sua acção em Macau ressaltaram a criação do Colégio de Perseverança, entregue ao cuidado das religiosas canossianas, vocacionado a acolher raparigas sem família; a criação de um orfanotrófio para o ensino de artes e ofícios a jovens chineses, entregue aos salesianos de D. Bosco; a promoção de escolas e asilos nos subúrbios da cidade de Macau; a criação do Boletim da governo da diocese de Macau. D. João Paulino de Azevedo e Castro permaneceu em Macau, onde faleceu no dia 17 de Fevereiro de 1918. Bibliografia: CASTRO, João Paulino de Azevedo e, Os Bens das Missões Portuguesas na China, (Macau, 1995); TEIXEIRA, Padre Manuel, Arquivos da Diocese de Macau, (Macau, 1970).
CASTRO, D. JOÃO PAULINO DE AZEVEDO E (1852-1918)
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016). Bispo de Macau, nascido em S. Mateus, Ilha do Pico, Açores, 8 de Julho de 1924. Cursou o Seminário de Macau e ordenou-se sacerdote (1949). Depois de leccionar cinco anos no Seminário, segue para Roma onde obtém a licenciatura em Direito Canónico, na Universidade Gregoriana. Regressado ao Seminário de Macau (1960), foi professor e depois Reitor. Visita Timor em 1963. Na ausência do Prelado, no Concílio Vaticano II, foi nomeado Governador do Bispado. Em 1968 foi professor e prefeito de estudos no Seminário Diocesano de Hong Kong. Falecido D. Paulo José Tavares (1973), é eleito Vigário Capitular da Diocese de Macau e depois é nomeado Bispo; foi ordenado a 25 de Março de 1976. Na celebração do IV Centenário da Diocese (1976), exorta a um profundo e empenhativo exame de consciência perante a responsabilidade da evangelização. Em 1977, assina com os Bispos de Malaca-Johor e Singapura o acordo de transferência dos enclaves da diocese de Macau. No seu múnus pastoral, pautou-se pela discrição, evitando faustos e envolvimentos desnecessários. Colaborou com o Governo, por exemplo, no respeitante aos assentos nos livros paroquiais, e incentivando a população ao recenseamento eleitoral. Exprime-se com facilidade em oito línguas, incluindo o cantonense. Participou em todas as reuniões da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia, desde 1974 a 1988. Procurou novos reforços do pessoal missionário, conseguindo que se estabelecessem na Diocese a Prelatura pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, os Irmãos (MCO) e Irmãs da Caridade (MCA), os Paulistas (SSP), e as Irmãs da Caridade de Sant’Ana (HCSA). Publicou mensagens pastorais, das quais destacamos o Baptismo das Crianças e o Sacramento da Reconciliação. Promulgou o Calendário Litúrgico próprio da Diocese. Promoveu a renovação do semanário O Clarim e do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau (actual Boletim Eclesial de Macau) e fez a reestruturação do Centro Diocesano de Comunicação Social. Instituiu (1981) a capelania da Universidade da Ásia Oriental (actual Universidade de Macau). Procurou assegurar a manutenção da vasta rede de escolas católicas. Através dos serviços da Caritas Diocesana prestou notável ajuda aos refugiados e população carenciada, criando a Escola de Assistentes Sociais (1977), e o Centro Diocesano de Apoio à Família (1978); em Macau, acolheu o II Encontro do Instituto Asiático para a Acção Social (1988). Assegurou a presença possível e discreta junto dos católicos da sua diocese na República Popular da China. Efectuou em 1985 uma visita de carácter oficial à China. Foi recebido pelo Bispo de Pequim e também pelo Bispo da Associação Patriótica da Igreja da China. Ficou esclarecido sobre a situação da Igreja Católica na China e da sua relação com o Governo. No encontro com o Director do Gabinete para os Assuntos Religiosos foi-lhe afirmado que a Igreja da China e o Gabinete não interfeririam na Igreja de Macau. Nas visitas aos bispos de Nanquim (Nanjing 南京), Xangai (Shanghai 上海) e Cantão (Guangzhou 廣州), ficou impressionado com o entusiasmo da fé nas liturgias, a seriedade na formação no Seminário de Xangai (Shanghai 上海), o espírito de oração no santuário de Sheshan 佘山 e o convite para renovar a peregrinação de Macau a Sanchoão. Aceite por Roma o seu pedido de resignação (1988), sucedeu-lhe D. Domingos Lam, seu Bispo Coadjutor e primeiro bispo de etnia chinesa na Cidade do Santo Nome de Deus de Macau. Em 1984 foi agraciado pelo Governo Português com o grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência; em 1986 recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade de Macau; e, em 1988, pelo Presidente Mário Soares, o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito. De regresso aos Açores, colabora na pastoral; faz parte do grupo de Bispos do Movimento dos Focolares (Obra de Maria). Bibliografia: CARDOSO, Padre Tomás B. (coord.), Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa, Bispo de Macau, 1976-1988, (Macau, 1999).
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016)
No dia 20 de Novembro de 1704, o Papa Clemente XI aprova um decreto da Inquisição contra os “Ritos”.
Decreto da Inquisição contra os “Ritos”
Melchior Miguel Carneiro Leitão, de seu nome completo, nasceu em Coimbra, por volta de 1516. Entrou para noviciado da Companhia de Jesus em 1543, na mesma cidade portuguesa. Poucos anos mais tarde, em 1551, fazia parte do grupo fundador do colégio Jesuíta de Évora, de que, aliás, foi reitor, o qual viria a dar origem a uma universidade. Entre 1553 e 1554 foi a Roma, incumbido de missão oficial pela Companhia de Jesus. De regresso a Lisboa, partiu para o Oriente em 1555, com o título de bispo de Niceia, a bordo de uma nau portuguesa da carreira da Índia, que chegou à Índia no mesmo ano. Durante algum tempo, exerceu funções docentes no colégio Jesuíta de Goa, capital do Estado Português da Índia. As fontes Jesuítas indicam que sofria de asma e que era “colérico em sumo grau”. Apontado como sucessor do Patriarca da Etiópia, acabou no entanto por ser enviado para Macau, com as funções de bispo da China e do Japão, por força de um breve de 1566 do Papa Pio V. Após escala em Malaca, D. Melchior já se encontrava no porto de Macau em meados de 1568. O porto luso-chinês, por esses anos, era sobretudo utilizado pelos religiosos Jesuítas como base de apoio às missões japonesas. Residindo inicialmente na casa dos seus correligionários Jesuítas, o bispo estabeleceria pouco depois residência própria, mais consentânea com o seu cargo episcopal. Consigo residia algum tempo o padre Gregório Gonzales, prelado espanhol que assistira à fundação de Macau, já que estanciava neste entreposto luso-chinês, ininterruptamente, desde 1555. Documentação da época revela que nem toda a comunidade Jesuíta de Macau via com bons olhos o facto de o bispado estar entregue a um membro da Companhia de Jesus. Contudo, apesar desta oposição, D.Melchior Carneiro continuou a exercer as suas funções religiosas e assistenciais, tanto mais que as condições climatéricas de Macau se revelaram especialmente benéficas para a enfermidade de que sofria. Entre outras actividades, fundou um hospital para leprosos, que, como a doença era, então, conhecida como ‘mal de São Lázaro’, veio a adoptar o nome deste santo; fundou um outro hospital designado de São Rafael; e abriu uma confraria da Misericórdia, organismo muito típico de todos os estabelecimentos ultramarinos portugueses. D. Melchior visitou a cidade de Cantão em pelo menos duas ocasiões, a primeira em 1569 e a segunda em 1576. Da primeira vez, pretendia inteirar-se das possibili¬dades de alargar a missionação Jesuíta ao interior da China; como outros Jesuítas antes e depois dele, constatou que seria impossível conseguir entrada no Celeste Império sem conhecimentos mínimos de língua chinesa. Da segunda vez, tentava resgatar das mãos das autoridades cantonenses um bonzo chinês que se convertera ao cristianismo e que, efectivamente, com ele regressou a Macau. Em 1581, alegando motivos de saúde, renunciou ao episcopado e solicitou aos superiores autorização para regressar a Portugal, talvez por ter chegado à cidade, D. Leonardo de Sá, que vinha nomeado como bispo de Macau. Este último, de resto, envolver-se-ia em disputas com a comunidade Jesuíta macaense, a respeito da posse das casas da residência episcopal, que afirmava serem suas e não dos Jesuítas. Mas, numa das suas cartas, o visitador Alessandro Valignano comentaria: “não me custou pouco trabalho para lhas tornar a sacar das mãos”. O padre Melchior passou a partir de então a viver com os seus correligionários, sem qualquer cargo ou autoridade. Um missionário Jesuíta que então passou por Macau escrevia que o antigo bispo se desfizera de todos os seus bens e que vivia “com grande edificação, pobreza e humildade”. Faleceu em meados de 1583, sendo sepultado na Igreja de São Paulo. Bibliografia: DEHERGNE, Joseph, Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, (Roma, 1973) ; Diccionario Histórico de la Compañía de Jesús, O’NEILL, Charles E.; DOMÍNGUEZ, Joaquín María (dirs.), 4 vols., (Roma, 2001); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. III, (Macau, 1956-1961).
CARNEIRO, D. MELCHIOR (?-1583)
CHIESA, D. FREI BERNARDINO DELLA (1644-1721). Nasceu em Veneza a 8 de Maio de 1644. Ingressou na ordem dos Franciscanos reformados, em Assis, tendo recebido o hábito a 6 de Agosto de 1663. Concluídos os estudos e recebida a ordenação sacerdotal, exerceu as funções de leitor e de guardião e ainda as de confessor da rainha Cristina da Suécia, que, após a sua conversão ao catolicismo, passou a residir em Roma. Em 1679, ofereceu-se para as missões da China, cuja reorganização estava em curso na Propaganda Fide. Prosseguindo no propósito de subtrair as missões chinesas à jurisdição do Padroado Português, o papa Inocêncio XI aprovou o projecto apresentado pela Propaganda e dividiu o extenso Império do Meio em dois vicariatos apostólicos com sede em Nanquim (Nanjing 南京) e Fujian 福建. Pelo breve, Eclesiae Catholicae de 15 de Abril de 1680, o primeiro vicariato foi confiado ao Dominicano Gregório Lopez que, para esse efeito, fora nomeado bispo de Basileia. Além de Nanquim (Nanjing 南京), o novo prelado ficaria com a administração das províncias de Zheli, Shanxi 山西, Shaanxi (Shanxi 陝西), Henan 河南, Shandong 山東 e ainda com a da Coreia e da Tartária. Para o segundo vicariato, era indicado o nome de Monsenhor François Pallu que, além de Fujian 福建, passava a administrar as províncias chinesas de Zhejiang 浙江, Guangdong 廣東, Guangxi 廣西, Jiangxi 江西, Hubei 湖北, Sichuan 四川, Guizhou 貴州 e Yunnan 雲南 e ainda as ilhas de Hainan 海南 e Taiwan 臺灣. Antes ainda da publicação do referido breve, Monsenhor Pallu, que estava em vias de ser nomeado administrador geral das missões da China, propôs que Frei Bernardino della Chiesa fosse nomeado seu coadjutor. Aceite a proposta, o frade Franciscano viria a ser sagrado bispo com o título de Argólis, no início de 1680, na capela da Propaganda Fide, em Roma. O novo prelado partiu para a China em Abril de 1680, mas, enquanto decorria a sua viagem, a cúria romana decidiu dispensar Monsenhor Pallu do governo do vicariato de Fujian 福建 e deixá-lo unicamente como administrador geral das missões com jurisdição sobre os restantes bispos que estivessem na China. Na sequência desta nomeação, foi desmembrado o vicariato de Fujian 福建 que, com as províncias que lhe tinham sido anexadas, deu origem aos novos vicariatos de Fujian 福建 e Guangdong 廣東. Para administrar o primeiro foi proposto o nome do Padre Duchesne, das Missões Estrangeiras de Paris, que estava no Sião, e para o de Guangdong 廣東 foi indigitado Monsenhor Bernardino della Chiesa. A recusa do missionário francês em aceitar a nomeação que lhe era proposta, motivou um novo reajustamento definido em 1685. Entretanto, D. Frei Bernardino della Chiesa e os seus confrades Gianfrancesco Nicolai di Leonissa e Basilio Brollo de Gémona chegavam ao Sião, eclodindo aqui as primeiras desinteligências com os padres das Missões Estrangeiras de Paris e com Monsenhor Pallu. Estando todos destinados à China, viajaram separadamente, tendo Monsenhor Pallu e o Padre Charles Maigrot rumado directamente para a província de Fujian 福建, onde chegaram em Janeiro de 1684, enquanto que os Franciscanos, navegando pelas Filipinas, desembarcaram, em Cantão, em Agosto desse mesmo ano. Ao chegar à missão, Monsenhor della Chiesa encontrou uma certa contestação a Monsenhor Pallu, que insistia em executar o decreto da Propaganda Fide que obrigava os religiosos a fazer um juramento de submissão à autoridade dos vigários apostólicos. Os mendicantes espanhóis – Dominicanos, Franciscanos e Agostinhos, estes últimos acabavam de criar a sua missão na China – resistiram a esta pretensão, invocando as regalias que lhes haviam sido concedidas pela Santa Sé. Monsenhor della Chiesa apoiou os regulares, propondo a Monsenhor Pallu a adopção de uma atitude mais conciliadora. Esta intervenção foi reprovada pelo bispo francês que, por este e outros desentendimentos, sugeriu à Propaganda Fide que afastasse o bispo Franciscano de lugares de direcção por carecer de qualidades para a liderança. Com o falecimento do administrador geral das missões, em Outubro de 1684, eclodia um novo foco de tensão entre Monsenhor della Chiesa e Charles Maigrot por este ter sido nomeado sucessor de Monsenhor Pallu em detrimento do seu ex-coadjutor que, nessa altura, era o único bispo na China. Esta disputa jurisdicional foi, momentaneamente, ultrapassada pela mediação de Monsenhor Gregório Lopez, sagrado bispo em Cantão por Monsenhor della Chiesa, em Abril de 1685. Entretanto, chegou a notícia de que o bispo de Argólis tinha sido nomeado vigário apostólico de Zhejiang 浙江, Hukwang (Huguang 湖廣) (Hubei 湖北 + Hunan 湖南), Sichuan 四川 e Guizhou 貴州, mas a animosidade entre o novo vigário apostólico e os missionários franceses só se atenuaria com uma nova reorganização das missões chinesas levada a efeito pela Propaganda Fide, em 1687. Aos dois vicariatos existentes, confiados a Monsenhor della Chiesa e a Monsenhor Gregório Lopez, vieram juntar-se mais três, sendo nomeados Charles Maigrot para Fujian 福建, Jean Pin para Jiangxi 江西 que não foram elevados ao episcopado, e o Dominicano Fran¬cisco Varo, sagrado com o título de bispo de Lídia, para o vicariato apostólico de Guangdong 廣東, Guangxi 廣西 e Yunnan 雲南. Apesar das sucessivas reformulações, D. Frei Bernardino della Chiesa permaneceu em Cantão até partir para Nanquim (Nanjing 南京), onde se fixou, nos finais de Novembro de 1692. Ao longo destes anos, Monsenhor della Chiesa teceu severas críticas aos missionários franceses e, de modo especial, ao Padre Charles Maigrot, denunciando diversas prepotências e entre estas a de lhe reter o subsídio enviado pela Propaganda Fide para a sua manutenção. Com a criação, em Abril de 1690, das dioceses de Pequim (Beijing 北京), Nanquim (Nanjing 南京) e Macau, D. Frei Bernardino della Chiesa foi nomeado bispo de Pequim (Beijing 北京), todavia por qualquer razão jamais explicitada, a carta régia remetida de Lisboa informava-o que tinha sido indigitado para a diocese nanquinense. Este equívoco manteve-se e, sem qualquer explicação, o prelado tomou conhecimento da nomeação de D. Alexandre Ciceri para a diocese nanquinense e recebeu de Portugal o convite para se transferir do bispado de Pequim (Beijing 北京) para o de Malaca. Este inadmissível procedimento da corte portuguesa foi, pelo menos parcialmente, motivado pela pretensão de confiar a mitra de Pequim (Beijing 北京) aos Jesuítas, tendo sido proposto o Padre Filipe Grimaldi para titular da diocese e o Padre Tomás Pereira para seu coadjutor. Estas tergiversações atrasaram o envio das bulas de nomeação de D. Frei Bernardino della Chiesa, reconhecidas com o placet régio. Nomeado em 1690, só passados dez anos recebeu as bulas remetidas de Lisboa e um ano depois de ter recebido a cópia autenticada das mesmas bulas expedida pela Propaganda Fide. Foi com esta cópia que, a 3 de Dezembro de 1699, o nomeado bispo de Pequim tomou posse da sua diocese por procuração passada ao frade agostiniano Frei Nicolau Agostinho de Cima. Ultrapassada a questão das bulas, manteve-se a das côngruas, cujo pagamento só começou a ser feito a partir de 1703 e, segundo o prelado, muito abaixo daquilo que se declarava na bula de erecção da sua diocese. Por proposta dos Jesuítas, o bispo não fixou a sua residência em Pequim (Beijing 北京), tendo, por isso, escolhido Linqing 臨清, capital de Shandong 山東, que distava da capital chinesa entre 8 a 10 jornadas. Aqui chegou a 25 de Junho de 1700, mas teve de comprar a casa para se acomodar, porque o rei de Portugal não lhe providenciou a moradia. Acresce ainda que a igreja designada para catedral pertencia aos Jesuítas do Padroado que, por ordem régia, mantiveram a posse da mesma. D. Frei Bernardino della Chiesa era bispo do Padroado, mas não tinha catedral própria, nem residência episcopal e para a sua manutenção apenas podia contar com uma modesta côngrua que só ao fim de treze anos começou a auferir. Todas estas atribulações reforçaram a mudança de atitude do bispo de Pequim (Beijing 北京) que, a partir de 1692, deixou de criticar os padres das Missões Estrangeiras e passou a dirigir as suas críticas para o Padroado e os seus missionários. Na sua correspondência para o Papa e para a Propaganda Fide, D. Frei Bernardino della Chiesa afirmava que as recém criadas dioceses chinesas não dispunham das condições necessárias para sobreviver, propondo a sua transformação em vicariatos apostólicos com bispos nomeados pelo Sumo Pontífice. Saliente-se ainda que, enquanto criticava os missionários do Padroado, elogiava os Jesuítas franceses, destacando as suas disponibilidades financeiras, a abundância de missionários e as boas relações que mantinha com estes, devido, sobretudo, às muitas qualidades do Padre Francisco Gerbillon, que considerava digno de ser elevado à categoria episcopal. Esta aspiração do superior dos Jesuítas franceses de Pequim manifestar-se-ia em 1706, durante a permanência do Patriarca de Antioquia, D. Carlos Tomás Maillard de Tournon, na capital chinesa. De acordo com o testemunho do Legado Apostólico, o Padre Gerbillon disponibilizou-se para ser nomeado bispo coadjutor de Pequim desde que lhe fosse assegurado o direito de sucessão. D. Frei Bernardino della Chiesa só passado algum tempo tomou conhecimento desta negociação e nunca terá sabido das diligências feitas pelos portugueses para que o Padre Filipe Grimaldi fosse nomeado seu coadjutor. O envio de um Legado a latere à China foi jubilosamente recebido por D. Frei Bernardino della Chiesa. As suas ideias poderão ter influenciado a actuação do Patriarca de Antioquia em Pequim em relação aos Jesuítas da vice-província da China e ao Padroado. Ambos conversaram demoradamente em Linqing 臨清, quando Monsenhor de Tournon se dirigia para a capital chinesa e, mais tarde, o bispo de Pequim (Beijing 北京) decidiu juntar-se à legacia, tendo acompanhado o Patriarca desde Janeiro a Outubro de 1706. Apesar do forte apoio dispensado a Monsenhor de Tournon, não atribuiu o fracasso da legacia à nefasta influência dos Jesuítas. As razões enunciadas em carta à Propaganda Fide apontavam para a inabilidade do dignitário pontifício, todavia, nos últimos anos da sua vida, quando se preparava a legacia de Monsenhor Carlo Ambrogio Mezzabarba (1719-1721), sem renegar as anteriores afirmações, declarava que a raiz dos problemas da missão da China estava nos Jesuítas e lamentava que a Santa Sé não tivesse tomado medidas mais drásticas contra a sua renitência. Anos antes, porém, destas censuras, D. Frei Bernardino della Chiesa não tinha hesitado em obedecer à ordem imperial que sujeitou os missionários a um interrogatório sobre a doutrina dos ritos chineses. O exame destinava-se a obrigar os missionários a definirem a sua posição em relação aos ritos: aqueles que declarassem seguir a posição definida por Monsenhor de Tournon seriam expulsos e os que se manifestassem como seguidores de Matteo Ricci receberiam uma credencial (o piao 票) para continuarem na China como missionários. Identificado, durante o interrogatório, como colaborador de Monsenhor de Tournon, o bispo de Pequim só conseguiu o piao 票 porque os Jesuítas, e de modo especial o Padre Tomás Pereira, intercederam por ele ao Imperador. Agradecido aos inacianos, regressou a Linqing 臨清 e aí recebeu o decreto promulgado pelo Legado Apostólico em (Nanjing 南京), em Fevereiro de 1707, fornecendo instruções aos missionários que fossem chama dos ao exame imperial. D. Frei Bernardino della Chiesa justificou-se perante o Patriarca de Antioquia e a cúria romana, mas não abdicou do seu propósito de permanecer na missão nem se mostrou arrependido por ter incitado outros missionários, incluindo o bispo D. Álvaro Benavente, a que seguissem o seu exemplo. Aliás, o que estava na origem desta controversa atitude era a querela dos ritos e relativamente a essa matéria, D. Frei Bernardino della Chiesa nunca definiu, claramente, o seu pensamento. Jamais se manifestou a favor da interpretação defendida pela maio¬ria dos Jesuítas, mas também nunca apoiou, abertamente, a teoria dos que se opunham aos inacianos. Pouco antes de ter pedido o piao 票, tinha aprovado a intervenção de dois missionários, Frei António de Frossolone e o Padre Appiani, adeptos do Patriarca, junto dos cristãos de Pequim (Beijing 北京) condenando a posição dos Jesuítas acerca dos ritos, mas, posteriormente, considerou inaplicável o decreto promulgado por Monsenhor de Tournon, em Nanquim (Nanjing 南京), que, na prática, condenava os mesmos ritos. Recebido o decreto pontifício de 20 de Novembro de 1704 que, inequivocamente, declarava os ritos incompatíveis com a doutrina católica, adiou enquanto lhe foi possível a sua publicação. Entretanto, solicitava ao Papa que introduzisse algumas alterações na inflexível definição da Igreja Católica, invocando a impossibilidade de manter as missões se não fossem satisfeitas algumas das exigências de Kangxi 康熙 sobre a referida matéria. Apesar disso, acabou por acatar as imposições da Santa Sé e exigir aos Jesuítas que se submetessem às mesmas determinações. Estas contradições encontram a sua explicação, ou pelo menos uma parte dela, no facto de D. Frei Bernardino della Chiesa ter prosseguido com tenacidade o objectivo de evitar a decadência da missão na China. A essa primordial finalidade se subordinava tudo o que não colidisse com a doutrina católica e com a autoridade pontifícia. Só assim se compreende que tivesse relevado tantas impertinências e desconsiderações, tolerado significativas marginalizações e suportado tamanhas privações. Por essa razão, passou os últimos anos da sua vida profundamente amargurado. O futuro da missão apresentava-se extremamente sombrio com as polémicas que se mantiveram em torno da controvérsia dos ritos, as dissensões que se reacenderam entre os Jesuítas franceses e os do Padroado, as permanentes desinteligências entre os inacianos e os dois sacerdotes, Theodoric Pedrini e Matteo Ripa, que, enviados pela Propaganda Fide, serviam na corte de Pequim (Beijing 北京), e, ainda com os desentendimentos que eclodiram entre os Franciscanos. O insucesso da legacia de Monsenhor Mezzabarba não o surpreendeu. Conhecia a posição intransigente da cúria romana e a determinação igualmente inflexível do imperador da China, mas este desfecho avolumou os seus receios de que a missão se encaminhasse para a sua total ruína. Além disso, esta missão diplomática deu azo a mais uma inadmissível marginalização, porque por razões imprevistas, como o gelo que impediu a viagem de Mezzabarba pelo grande canal que passava em Linqing 臨清, mas também por alguma má vontade dos que acompanhavam, o Legado, só tardiamente tomou conhecimento da presença deste em Pequim (Beijing 北京) e do seu regresso à Europa. Ostracizado pelo Padroado por não ter obedecido às ordens emanadas de Goa e de Lisboa relativamente a Monsenhor de Tournon, ficou sem receber a côngrua a partir de 1709. Em 1715, a Propaganda providenciou-lhe um subsídio que devia receber através do Padre Ceru, procurador dos propagandistas em Cantão, mas a partir de 1718, por falta de fundos, o procurador foi obrigado a suspender o pagamento da subvenção. Sempre viveu pobre, mas o inventário dos seus haveres, feito em 1722, mais do que pobreza atesta a indigência em que morreu o primeiro bispo de Pequim (Beijing 北京) da era moderna. Pobre e abandonado, porque tendo falecido a 21 de Dezembro de 1721 pelas 22 horas, só foi sepultado a 7 de Abril de 1722, e, apesar do espaço de tempo que mediou entre as duas datas, dos missionários da sua diocese, apenas dois Franciscanos, o italiano Padre Carlos de Castorano que residia na casa do bispo e o espanhol Padre Francisco de la Concepción, o acompanharam à última morada, onde tem estado esquecido pela História. Bibliografia: Arquivo Histórico de Goa, Monções do Reino, livros 62 a 95; Arquivo Histórico de Goa, Correspondência de Macau, livro 1262; Arquivo Histórico Ultramarino, Macau, cxs. 1 e 2; GUENNOU, Jean, Missions Étrangères de Paris, (Paris, 1986); LEE, Ignatio Ting Pong, “La Actitud de la Sagrada Congregación Frente al Regio Patronato”, in METZELER, J. (dir.), Sacra Congregationis Propaganda Fide Memoriae Rerum 1622-1972, vol. 1/1, (Rom-Freibur-Wien, 1972); MARGIOTTI, Fortunato, “La Cina, Ginepraio di Questioni Secolari” e “Le Missioni Cinesi nella Tormenta” in, in METZELER, J. (dir.), Sacrae Congregationis de Propaganda Fide Memoria Rerum, 1622-1972, vol. 1/2, (1700-1815), (Rom-Freibur- Wien, 1973); MENSAERT, Georges, “L’Établissement de la Hierarchie Catholique en Chine de 1684 a 1721”, in sep. Archivum Franciscanum Historicum, (Quaracchi-Firenze, 1953); MENSAERT, Georges, “Les Franciscans au Service de la Propagande dans la Province de Pékin, 1705-1785”, in Archivum Franciscanum Historicum, ano 51, (Quaracchi-Firenze, 1958); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese. A Missão da China, vol. 13, (Macau, 1977); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau no Séc. XVIII, (Macau, 1984); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Mgr B. della Chiesa, Evêque de Pékin et Mgr C. Th.Maillard de Tournon, Patriarche d’Antioche”, in Antonianum, ano 22, (Romae, 1947); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Mgr. Pallu et Mgr Bernardin della Chiesa. Le Serment de Fidelité aux Vicaires Apostoliques 1680-1686”, in Archivum Franciscanum Historicum, ano 31, (Quaracchi-Firenze, 1938); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Le Patronat Portugais et Mgr. Bernardin della Chiesa”, in Archivum Franciscanum Historicum, tomo 35, (Quaracchi-Firenze, 1942).
CHIESA, D. FREI BERNARDINO DELLA (1644-1721)
CASTRO, PADRE ÁUREO DA COSTA NUNES E (1917-1993). Compositor, pedagogo e maestro, nasceu nos Açores, ilha do Pico, em 1917, e faleceu em Macau, em 1993. Iniciou seus estudos musicais em família. O seu primeiro contacto com a música ocorreu quando era ainda criança no coro da igreja da freguesia da Candelária, onde vivia, no qual cantou como sopranino. Sobrinho de Dom José da Costa Nunes e Castro, Bispo de Macau, é trazido, em 1931, para Macau, para frequentar o Seminário de São José onde estuda Teoria, Solfejo e Harmonia com os padres Wilhelm Schmid (n. 1910) e António André Ngan (1908-1982). É ordenado sacerdote em 1943 tendo sido, a partir de então, nomeado para vários cargos eclesiásticos em Macau: capelão e vigário paroquial da Sé Catedral, director do semanário católico O Clarim, pároco da Igreja de S. Lourenço. Foi também professor das disciplinas de Canto Coral, Religião e Moral no Liceu Nacional Infante D. Henrique e na Escola Comercial Pedro Nolasco. Em 1951 fez os exames do Curso Geral, como aluno externo, no Conservatório Nacional de Lisboa. Mais tarde, obtém permissão para permanecer em Lisboa e continuar os estudos musicais. Forma-se em Composição com distinção pelo Conservatório Nacional (onde também estuda canto e piano com Biermann, Arminda Correia e Croner de Vasconcelos), na classe do compositor e pianista Croner de Vasconcelos (1910-1974). Ainda estudante, é assistente, em Lisboa, do maestro e musicólogo português Mário Sampayo Ribeiro (1898-1966) no Coro do Centro Universitário da Universidade de Lisboa. Retorna a Macau em fins de 1958, onde é colocado como professor de música do Seminário de S. José. Em 1959 funda o Grupo Coral Polifónico e, em 1962, juntamente com o Padre Cesare Brianza (1918-1986), cria a Academia de Música S. Pio X, existente até hoje. Em 1983, ao lado de Stuart Bonner, cria a Orquestra de Câmara de Macau, composta por músicos amadores e professores da Academia, mais tarde absorvida pelo Instituto Cultural de Macau. Animador e entusiasta das actividades musicais, Áureo Castro, dedicou-se sempre à Composição, tendo escrito um grande número de obras para coro, de câmara e peças para piano. Suas obras abrangem um grande diversidade de estilos musicais (que vai de fugas barrocas a música de inspiração chinesa), e revelam a sólida formação teórica e técnica aprendida em Lisboa com Croner de Vasconcelos, emoldurada por uma rica inspiração melódica, onde, com frequência, são encontradas influências das tradições musicais orientais, das quais era profundo conhecedor. É autor de diversas obras para piano e órgão, coro e um Te Deum para coro e grande órgão (mais tarde transcrito para orquestra) que foi apresentado em Lisboa, merecendo de Croner de Vasconcelos o comentário: “até que enfim aparece neste país uma obra deste género.” As obras de inspiração chinesa de Áureo Castro não correspondem à estereotipada imagem sonora de um oriente distante, fantasioso e mágico tal como definido por Edward Said e que nos habituamos a encontrar nas obras dos compositores orientalistas europeus do século XIX. Suas composições, ao contrário, possuem uma linguagem extremamente original: um autêntico hibridismo musical onde encontramos reconciliadas a harmonia tonal ocidental e o modalismo pentatónico chinês. Estas características, raramente encontradas num compositor ocidental, fazem com que Áureo Castro ocupe um lugar especial na história do encontro musical entre e o Ocidente e o Oriente. – Obras. 1. Música Sinfónica. Tocata e Minuete em ré menor (Transc. para quarteto de cordas da peça com o mesmo nome de Carlos Seixas); Scherzo (Orq. para grande orquestra do Scherzo da Sonata no 12, Op. 26, em lá bemol de L. van Beethoven). 2. Piano ou Órgão. Fuga em lá bemol, a três partes. 3. Piano. Suite China (Cenas de Macau), em três andamentos; Três corais sobre melodias gregorianas; Sonata n.º 1, Allegro (incompleta); Sonata n.º 2, Allegro (incompleta); Sonatina; Danças da Siu Mui Mui, em três andamentos; Nostalgia. 4. Órgão. Fuga coral em Mi Maior. 5. Canto e Piano/ Órgão. Te Deum Laudamus; Hino (Texto de Osório Goulart). Lembra-te Papá (Texto de Santa Teresinha); A Recalling Moonlight; Hossana (Moteto para canto e órgão); Oração da Noite; Lembrai-vos; 1961, Dá shê tchin mei; Carandá Madu; 1972, Menina de Olhos Verdes (poema de Luís de Camões); Oração da Noite (Canção religiosa para canto e órgão); Duas Melodias Religiosas para uso Litúrgico. 6. Coro e Orquestra. Te Deum Laudamus; Adeste Fidelis; Hodie Christus Natus est (arr. para orquestra de câmara e coro a quatro vozes mistas da canção de Natal da autoria de Feltz); Santa Cecília (Cantata para solo, coro e orquestra de câmara. Incompleta). 7. Coro a Capella. Música de Cena para o “Auto da Alma” de Gil Vicente (Três vozes iguais); O Menino está dormindo (Cânone circular duplo para seis vozes); Ay, Santa Maria (Arr. para três vozes iguais de vilancico de autor anónimo); Stella de dia (Arr. para quatro vozes iguais de uma cantiga de Afonso, o Sábio); Jesus a dormir(Moteto para quatro vozes brancas); Milho Verde (Harm. para três vozes masculinas de canção popular); Hodie Scietis (Moteto para três vozes brancas); A Belém Pastores (Arr. para coro de quatro vozes mistas de canção natalícia portuguesa); Christmas is begun (Harm. para coro de quatro vozes mistas de canção natalícia); Seniores Populi (Responsório da Semana Santa, para coro de quatro vozes mistas); Seniores Populi (Responsório da Semana Santa, para coro de três vozes masculinas); Puer Natus – Allelluia (Harm. para quatro vozes masculinas de canção trad. natalícia inglesa); O Senhor é meu amparo (Invocação para quatro vozes mistas); Cor Jesu (Jaculatória para três vozes iguais); Pie Jesu (Jaculatória para três vozes iguais); A Vós Senhor (Harm. para quatro vozes mistas de melodia da autoria do Padre Alfredo); Neve, Neve sem cessar (Harm. para quatro vozes mistas de canção popular russa); O Quam Suavis (Moteto para três vozes mistas); Et Incarnatus (Moteto para três vozes mistas); Hung tau tsi (Harm. para soprano solo e quatro vozes mistas de canção chinesa); Hu pien shau nu (Harm. para quatro vozes mistas de canção chinesa); Chian kun yu, miao fa (Coeli Enarrant Gloriam Dei, Arr. para quatro vozes mistas de melodia original de Chiang Wen Yeh sobre o salmo 19); Gong tsi fa tchoi (Harm. para quatro vozes mistas de canção chinesa comemorativa do Ano Novo Lunar); O Cor Amoris (Moteto para três vozes iguais); Cremos em vós (Moteto para três vozes iguais); Inter Vestibulum (Moteto para três vozes iguais); Dezoito melodias religiosas para uso litúrgico (para três e quatro vozes iguais); Astronautas do amor (para coro de três vozes masculinas, texto do Mons. Manuel Teixeira). 8. Coro com Acompanhmaento Instrumental. Te Deum Laudamus (para coro misto a quatro vozes e órgão). Cantica Psalmonica (Motetos salmódicos e pequenas peças para duas ou três vozes iguais, com acompanhamento de órgão baseadas nos salmos bíblicos); Cinco Motetos (para uma e duas vozes iguais e órgão, dedicados ao grupo coral da Igreja de S. Lourenço); Alma Minha Gentil (para coro de três vozes brancas e piano, sobre o soneto de Camões); Terra Tremuit (Moteto para quatro vozes masculinas e órgão); Surrexit Dominus (Moteto para três vozes mistas e órgão); Senhor, eu não sou digno (Moteto para duas vozes iguais e órgão); Panis Angelicus (Moteto para duas vozes mistas e órgão); Tantum ergo (Moteto para duas vozes mistas e órgão); Yu guan chu (Pescador de Rede, Harm. para quatro vozes mistas e piano de canção tradicional chinesa). – Cenas de Macau ou Suite China. Suite para piano, de Áureo da Costa Nunes e Castro, dividida em três andamentos, “Invocação”, “Oração num Templo Budista” e “Barcos-dragão”, também conhecida pelo nome de Suite China. Segundo notas escritas em 1976 pelo próprio compositor, “estas cenas, escritas quando o autor era ainda estudante do Conservatório Nacional, representam os primeiros passos em busca de uma linguagem harmónica a prescindir dos clássicos trâmites da harmonia tonal, e que pudesse, ao mesmo tempo, servir de roupagem a melodias do folclore chinês, muitas das quais se baseiam nas escalas pentatónicas. Composições originais, elas foram escritas com o único propósito de pintar algumas cenas de Macau com tintas a respirar a atmosfera chinesa das mesmas cenas. O primeiro número tenta descrever um pôr-do-sol na Barra, com o regresso dos barcos da pesca […]. Uma quase evocação. A segunda peça foi sugerida por uma oração num templo budista, com o canto melopaico dos bonzos acompanhado de ocasionais toques de sinetas e de gongs. A terceira, Barcos-dragão, é uma reminiscência da regata dos bar-cos-dragão realizada da Ilha Verde à Barra, quando, em 1932, Macau recebia, pela terceira vez, o governador Tamagnini Barbosa. Escrita em forma de sonata, a peça começa com ritmo e temas melódicos sugeridos pela calma do rio e a regata.” Bibliografia: BARRETO, Simão, “Áureo Castro (1917- 1993)”, in Revista de Cultura, n.° 26, II Série, (Janeiro-Março de 1996), pp. 131-140; CASTRO, Áureo da Costa Nunes e, Aurei Carmina, Obras para piano e órgão, (Macau, 2001); LYNN, Margaret, Folheto do CD Áureo Castro Piano Works, Phonoart PACD 005, (Macau, 2002); JARDIM, O. Veiga, “Música em Macau: Tema e Variações”, in Revista Macau, n.° 8, (Macau, 1992), pp. 146-154.
CASTRO, PADRE ÁUREO DA COSTA NUNES E (1917-1993)
Filho de Diogo do Amaral e de Domingas Francisca, nasceu em Corvaceira (Viseu) em 1594. Ingressou na Companhia de Jesus a 1 de Junho de 1608, em Coimbra. Ordenou-se sacerdote em Évora, em 1622. A sua longa formação decorreu nos colégios de Coimbra e Évora (1608-1623), e a sua docência como professor de latinidade nos de Bragança, Braga, Coimbra e Évora (1616-1620). Aqui se ordenou sacerdote (1522) e foi destinado, a seu pedido, para a missão do Japão. Em 1623 partiu de Lisboa com um numeroso grupo de Jesuítas chefiado por Afonso Mendes, patriarca da Etiópia, e outros dois bispos da ordem. Em Macau inicia o estudo da língua japonesa, que prosseguiu com êxito entre os colonos japoneses da Cochinchina. Um piloto português ofereceu-se para introduzir Amaral e outros Jesuítas clandestinamente no Japão, mas os ventos trouxeram de volta a nau a Macau. A 1 de Dezembro de 1628, o visitador André Palmeiro escrevia: “Espero que este ano cheguem o Padre Gaspar de Amaral e o Padre Paulo [Saito] japonês e que nos possam abrir a porta para ir provendo, pouco a pouco, aquela missão por esta via de Chincheo”. Amaral ficou na Ilha Verde (Macau) onde deixou crescer o cabelo como o chineses para entrar no Japão sem levantar suspeitas, mas voltou à Indochina, desta vez a Tonquim, como superior da missão, com os padres António Cardim e António Fontes. Ali trabalhou desde Setembro de 1629 até meados de 1638, com uma breve estada em Macau (de Maio de 1630 a Fevereiro de 1631). A pedido do visitador Manuel Dias, Amaral escreveu ao Rei do Laos tentando a entrada do Evangelho nesse reino. A resposta do Rei chegou a Macau a 21 de Maio de 1637 e o visitador designou Amaral e Bartolomeu de Roboredo para fundar a nova missão, o que na realidade foi tentado, ainda que sem sucesso, pelo padre João Baptista B`onelli, em 1638. A 6 de Janeiro desse ano Amaral fez a sua profissão solene em Tonquim. Depois assistiu em Macau à Congregação Provincial do Japão (de 9 a 22 de Setembro de 1638), onde deu conta dos 40.000 neófitos baptizados em Tonquim durante o seu superiorato. A 17 de Novembro de 1640 nomearam-no Reitor do Colégio de Macau e simultaneamente vice-provincial da província do Japão. Em 1642 ofereceu-se para tomar parte na desesperada expedição preparada pelo novo visitador Antonio Rubino, mas o sua oferta não foi aceite. Em 1645 o novo visitador Manuel de Azevedo propôs-lhe regressar a Portugal e substituir o Padre António Freire como procurador, mas Amaral preferiu seguir a vida de missionário na sua missão de Tonquim. Embarcado com outros seis Jesuítas, a nau acabou por se afundar em frente à ilha de Hainão a 26 de Fevereiro de 1646. Apenas se salvou o P. Lubelli, que não sabia nadar. Amaral brilhou pela sua capacidade intelectual e o seu sentido prático e organizador. Dotado em alto grau para as línguas, achou fácil a adaptação ao meio ambiente. Deixou manuscrito um dicionário da língua anamita, que posteriormente foi utilizado por Alexandre de Rhodes. O êxito clamoroso dos Jesuítas em Tonquim durante o seu superiorato deveu-se, em grande parte, ao espírito que soube dar aos catequistas. Baseando-se na tradição Jesuíta dos Dojuku do Japão, aperfeiçoou essa Instituição incorporando nela a vida da comunidade e a hierarquia interna do tipo de instituto laico, formado por professos, membros aprovados, noviços e coadjutores. Pessoalmente distinguiu-se pela sua recusa dos bens materiais para uso próprio. A sua devoção a S. Francisco Xavier levou-o a erigir uma cruz comemorativa da sua morte na ilha chinesa de Sanchoão, com uma inscrição em português e japonês.
AMARAL, PADRE GASPAR DO (1594- 1646)
Frei Gaspar da Cruz terá nascido em Évora, em ano que não se consegue apurar, sendo mais tarde, também em data incerta, admitido no convento de Azeitão da Ordem dos Pregadores. Partiu para o Oriente em 1548, integrado num grupo de missionários Dominicanos, dedicando-se durante cerca de seis anos ao trabalho apostólico no litoral hindustânico. Em 1554 encontrava-se em Malaca, fundando uma casa da sua Ordem, e demorou-se na cidade até Setembro do ano imediato, pois nesta data embarcou num navio de mercadores portugueses com destino ao reino do Camboja. O incansável missionário permaneceu durante cerca de um ano em território cambojano, viajando um pouco através do reino, mas em Dezembro de 1556 estava já no litoral da China, tendo oportunamente conseguido autorização para visitar Cantão, onde estanciou durante cerca de um mês. Apesar de se terem gorado por completo os seus eventuais projectos de missionação, pois a China permanecia então fechada aos estrangeiros, com excepção precisamente do porto de Cantão, Frei Gaspar não perdeu tempo, e parece ter aproveitado ao máximo a sua curta estada no litoral chinês, calcorreando exaustivamente toda a cidade, observando ruas, casas e templos, trocando impressões com gente oriunda de variados estratos sociais, frequentando audiências dos mandarins, avaliando hábitos e costumes, documentando-se sobre práticas culturais e religiosas, enfim, recolhendo preciosas informações sobre os mais variados aspectos da realidade chinesa. Paralelamente, o nosso Dominicano entrevistou portugueses bem experientes em assuntos chineses, “pessoas dignas de fé”, como ele próprio referirá, chegando mesmo a obter uma cópia de “um compêndio de um homem fidalgo que cativo andou pela terra dentro”. Frei Gaspar referia-se ao tratado de Galiote Pereira, antigo prisioneiro que chegara a Sanchoão em finais de 1552 ou princípios do ano seguinte, depois de passar vários anos em prisões chinesas. Em princípios de 1557 estava novamente de partida, e, depois de escalar Malaca, iniciou um périplo pela Insulíndia, visitando nomeadamente o porto de Macassár, antes de regressar ao litoral do Industão, quase três anos mais tarde. Passou ainda por Ormuz, antes de embarcar em Goa, em 1564, com destino a Portugal. Viria a falecer anos mais tarde, em Setúbal, vítima de uma virulenta epidemia de peste que ajudava a combater. Em Fevereiro de 1570, duas semanas após a morte de Frei Gaspar da Cruz, o impressor André de Burgos publicava em Évora o célebre Tratado das Cousas da China, que era a primeira monografia exclusivamente dedicada ao Celeste Império a conhecer na Europa as honras da impressão. A escolha da oficina tipográfica parece sugerir que o missionário, após o regresso do Oriente, se teria estabelecido no mosteiro eborense da Ordem de São Domingos. E aí, o padre Dominicano procedera a uma exaustiva compilação dos materiais sobre a China até então reunidos pelos portugueses. O relato de Frei Gaspar, de uma forma brilhante, sistematizava as notícias, as imagens e as vivências resultantes de um longo, e nem sempre pacífico, convívio lusitano com a realidade chinesa. A obra do nosso autor, contudo, não se destacava apenas pela riqueza do conteúdo, pelo rigor da informação e pela variedade das fontes utilizadas, já que o Tratado das Cousas da China é atravessado do princípio ao fim por uma atitude de flagrante simpatia em relação às realidades sínicas. O missionário, ao longo de muitas páginas, elogia quase sem medida a eficácia das formas de governo, a imparcialidade da justiça, a exemplaridade dos castigos, o respeito pelas hierarquias, a habilidade manual extrema, que desenvolve as soluções mais inesperadas para os problemas da vida quotidiana, a caridade e a benevolência das instituições de assistência, o apurado ordenamento urbano, a organização meticulosa do sistema produtivo, etc. Enfim, a China é apresentada aos leitores da obra como um verdadeiro modelo social, digno da maior admiração e interesse, que apenas é manchado pelo facto de os chineses viverem na “ignorância da verdade”, totalmente apartados da “fé de Cristo”. O Tratado das Cousas da China parece ter conhecido alguma circulação além-fronteiras, pois vários escritores estrangeiros a ele se referirão em anos subsequentes, os mais célebres dos quais seriam talvez Bernardino de Escalante, autor de um Discurso de la navegación de los portugueses (Sevilha, 1577) e Frei Juan González de Mendoza, autor da celebérrima Historia de las cosas más notables, ritos y costumbres del gran reino de China (Roma, 1585). [R.M.L.] Bibliografia: CRUZ, Gaspar da, Tratado das Coisas da China, (Lisboa, 1997).
CRUZ, FREI GASPAR DA (?-?)
No dia 20 de Março de 1709, morre no Convento de St.º Agostinho D. Álvaro Benavente, O.E.S.A., vigário apostólico de Kiangsi, que se refugiara em Macau 3 meses antes, ou seja, a 1 de Dezembro de 1708. Os portugueses, o clero local e os missionários estrangeiros, aqui refugiados, tomaram parte nas solenes exéquias fúnebres em Stº. Agostinho, onde foi sepultado na nave central a 21 de Março; a tropa assistiu também ao funeral. Na capela-mor de St.º Agostinho, no local da sua sepultura, está uma inscrição latina, que diz: “Aqui jaz o il. D. Fr. Álvaro, nascido da nobre familia de Benavente em Salamanca, onde ingressou na Ordem do Nosso Padre Agostinho. Pelo zelo de propagar a Fé, demandou a Provincia das Filipinas, foi transferido para o Império da China e, depois de ter administrado brilhantemente a mesma Provincia e a Missão da China, foi promovido a Bispo de Ascalona e a Vigário Apostólico; faleceu em Macau aos 20 de Março de 1709, com 63 anos de idade, 9 de Episcopado. Descanse em paz. Amen”.
Morre no Convento de St.º Agostinho D. Álvaro Benavente
Personagem: | Acquistapace, Mário, 1906-2002 |
Tempo: | Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 |
Palavra-chave: | Clero |
Estudante | |
Sala de aula |
Entidade de coleção: | Companhia de Jesus em Macau |
Fornecedor de trabalho digital: | Macau Documentation and Information Society |
Autoridade: | Autorização do uso à Fundação Macau concedida por Companhia de Jesus em Macau. Em caso de precisar usar este material, deve pedir a autorização do titular do direito de autor. |
Idioma: | Chinês |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
A cores | |
Formato das informações digitais: | JPG, 2849x2052, 1.15MB |
Identificador: | p0005832 |
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