CLEVELAND, LUCY HILLER (1780-1866). Viajante, poetisa, autora de livros infantis, desenhadora, diarista, artista têxtil (1830-1865) e reformista social oriunda de Salem, Massachusetts e filha mais nova do major Joseph Hiller (1748-1814), relojoeiro que luta na Guerra Civil, e de Margaret Cleveland Hiller (1748-1804). Em 1803, o major Hiller muda-se, com a família, para Lancaster (Massachusetts), onde Lucy casa com o capitão William Lambert of Roxbury em Julho de 1806, enviuvando um ano depois, quando o marido morre na Holanda, em Agosto de 1807. Lucy regressa a Lancaster para viver com as suas irmãs mais velhas, Dorcas (1773-1850) e Mary (1779-1815), que haviam casado, respectivamente, com os irmãos Richard Jeffrey Cleveland (1773-1860) e William Cleveland (1777-1842), mercadores de Salem e que são primos em primeiro grau das mulheres, sendo estes casamentos estimulados de forma a preservar a riqueza e a influência das famílias locais. O pai de Lucy morre em 1814, seguindo-se-lhe a irmã Mary, no ano seguinte, servindo a primeira, viúva e sem filhos, como acompanhante de senhoras na sua família. Em 1816, Lucy casa com o cunhado viúvo, o capitão William Cleveland, tornando-se madrasta dos seus sobrinhos, prática comum entre os unitarians, segundo Harriett Low. O casal muda-se para Salem em 1821, sem nunca ter filhos. William dedica-se e novo ao comércio marítimo, enquanto a sua mulher escreve cerca de doze livros infantis. Em 29 de Outubro de 1828, Lucy e o seu enteado James Cleveland deixam Salem e, em 18 de Novembro de 1828, partem a bordo do Zephyr, para acompanhar o marido até Timor, onde este se desloca com o intuito adquirir sândalo para comercializar na China. A viagem dura cerca de um ano, terminando em 27 de Setembro de 1829. A viajante redige um breve diário da viagem e ilustra um sketchbook com duas dezenas de desenhos coloridos de Timor (7) e de Macau (13), onde visita a jovem Harriett Low, em 1829, desenhando e pintando, tal como George Chinnery e W. W. Wood, várias cenas do quotidiano macaense oito-centista, entre os quais “Apew” (Apun); o boy do lar da família Low; uma chinesa de pés enfaixados; uma mulher portuguesa a caminho da igreja, coberta pelo véu e acompanhada por um empregado; cules a carregar cadeirinhas aos ombros; um barbeiro e (três) jogadores chineses sentados no chão. De acordo com o seu diário, a cansativa viagem entre Timor e o enclave dura trinta e dois dias, chegando a diarista cansada à Rada de Macau em 12 de Outubro de 1829. A autora deixa de escrever até 8 de Janeiro de 1830, dia em que abandona Macau, observando-se portanto uma elipse na narrativa. Em 12 de Outubro de 1829, Harriett Low descreve, no seu diário, o primeiro encontro com Mrs. Cleveland, sua conterrânea, e com o seu marido, passeando com a recém-chegada, sua hóspede, pelas ruas de Macau, ouvindo-a tocar guitarra, observando jogos que esta lhe ensina e fazendo-lhe companhia devido à sua prolongada doença, enquanto o marido se desloca a Cantão, em negócios. Em 8 de Janeiro de 1830, o casal Cleveland deixa Macau, trocando Lucy correspondência com a jovem Low. Bibliografia: “Lucy Cleveland Papers” e “William S. Cleveland Papers”, Peabody Essex Museum: Phillips Library (Salem); CLEVELAND, Lucy, “Sketchbook”, cota: M1347, The Peabody Essex Museum, Phillips Library; CLEVELAND, Lucy, “Voyage of the Zephyr, 1829”, cota: MS 656 1829Z, The Pe¬abody Essex Museum, Phillips Library; CLEVELAND, Richard J., A Narrative of Voyages and Commercial Enterprises, (Cambridge, 1842); MARVIN, Reverend Abijah P., History of the Town of Lancaster, Massachusetts, (Lancaster, 1879); CLEVELAND, Edmund Janes; CLEVELAND, Horace Gillette (eds.), The Genealogy of the Cleveland and Cleveland Families, (Hartford, 1899); CARRICK, Alice Van Leer, “Playthings of the Past”, in Antiques, (Janeiro de 1922), pp. 10-16; PAYSON, Huldah Smith, Museum Collections of the Essex Institute, (Salem, 1978); LAHIKAINEN, Dean, In the American Spirit: Folk Art from the Collections, (Salem, 1994); RICHTER, Paula Bradstrees, “Lucy Cleveland’s ‘Figures of Rags’: Textile Arts and Social Commentary in Early-Nineteenth-Century New England”, in BARNES, Peter (ed.), The Dublin Seminar for New England Folklife. Annual Proceedings 1997 Textiles in Early England: Design, Production, and Consumption, (Boston), pp. 48-63; RICHTER, Paula Bradstrees, “Lucy Cleveland, Folk Artist”, in Antiques: The Magazine, (Agosto de 2000), pp. 204- 213; LOW, Harriett, Lights and Shadows of a Macao Life: The Journal of Harriet Low, Travelling Spinster – Part One: 1829- 1832 e Part Two: 1832-1834, 2 volumes, (Woodinville, 2002); PUGA, Rogério Miguel, “Macau e Timor em 1829: O Diário e os Desenhos Inéditos de Lucy Cleveland”, Oriente (Lisboa, (2006).

Informações relevantes

Data de atualização: 2020/07/09