Chamo-me Liu Jie Mei. Tenho 71 anos e estou neste negócio há mais de 50 anos. Este é o nosso negócio de família e cabe-me a mim continuá-lo. Por ser o negócio da minha família tenho de o continuar. Se não o fizer, acaba, porque não há ninguém para prosseguir. Todos os negócios de família são assim. Há que continuar. Depois os anos passaram e agora já lá vão mais de 50 anos. Estes negócios tradicionais eram muito comuns na China. Os chineses gostam de medicina tradicional, mas agora a vida é mais exigente. Os remédios tradicionais demoram tempo e há menos procura agora. Os nossos remédios precisam de tempo mas alguns não têm de cozinhar. Fazemo-los em pó para serem mais convenientes. Mas ano após ano é uma arte cada vez menos procurada.

Muitos dos nossos clientes são como amigos. Já os conhecemos há muito tempo. As pessoas querem comprar bons remédios. Algumas vêm de muito longe. Há quem nos telefone da Malásia para perguntar o que temos hoje e falam-nos da sua dieta recente. A filha de uma cliente não conseguia engravidar então ela veio buscar o medicamento e a filha depois engravidou.Ela mandou-nos gengibre e outros presentes e disse que estava muito contente por ter um neto. Há clientes assim, que se tornaram amigos. Hoje as pessoas querem todas curar-se depressa. Quem tem tempo para ficar em casa a ferver o medicamento? Alguns têm de ferver durante uma hora. Quem trabalha vai ao médico. Se tem dinheiro, porque não? Se o médico lhes desse uma receita iam para casa cozinhar o medicamento umas horas. E por isso que as pessoas agora preferem a medicina ocidental. Vão ao médico, tomam os comprimidos e pronto. Neste contexto, é difícil que o negócio sobreviva. A nossa medicina e os métodos são muito complexos e complicados. Já tenho mais de 70 anos, não tenho muito tempo. Ainda que quisesse, há limites. Os meus filhos não estão interessados. Estão todos fora. Não há ninguém para continuar. O meu marido é a 4ª geração, o meu neto é a 6ª geração. Acho que desde a 1ª geração já se passaram mais de 100 anos.