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Data de atualização: 2019/10/14
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Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
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CHIESA, D. FREI BERNARDINO DELLA (1644-1721). Nasceu em Veneza a 8 de Maio de 1644. Ingressou na ordem dos Franciscanos reformados, em Assis, tendo recebido o hábito a 6 de Agosto de 1663. Concluídos os estudos e recebida a ordenação sacerdotal, exerceu as funções de leitor e de guardião e ainda as de confessor da rainha Cristina da Suécia, que, após a sua conversão ao catolicismo, passou a residir em Roma. Em 1679, ofereceu-se para as missões da China, cuja reorganização estava em curso na Propaganda Fide. Prosseguindo no propósito de subtrair as missões chinesas à jurisdição do Padroado Português, o papa Inocêncio XI aprovou o projecto apresentado pela Propaganda e dividiu o extenso Império do Meio em dois vicariatos apostólicos com sede em Nanquim (Nanjing 南京) e Fujian 福建. Pelo breve, Eclesiae Catholicae de 15 de Abril de 1680, o primeiro vicariato foi confiado ao Dominicano Gregório Lopez que, para esse efeito, fora nomeado bispo de Basileia. Além de Nanquim (Nanjing 南京), o novo prelado ficaria com a administração das províncias de Zheli, Shanxi 山西, Shaanxi (Shanxi 陝西), Henan 河南, Shandong 山東 e ainda com a da Coreia e da Tartária. Para o segundo vicariato, era indicado o nome de Monsenhor François Pallu que, além de Fujian 福建, passava a administrar as províncias chinesas de Zhejiang 浙江, Guangdong 廣東, Guangxi 廣西, Jiangxi 江西, Hubei 湖北, Sichuan 四川, Guizhou 貴州 e Yunnan 雲南 e ainda as ilhas de Hainan 海南 e Taiwan 臺灣. Antes ainda da publicação do referido breve, Monsenhor Pallu, que estava em vias de ser nomeado administrador geral das missões da China, propôs que Frei Bernardino della Chiesa fosse nomeado seu coadjutor. Aceite a proposta, o frade Franciscano viria a ser sagrado bispo com o título de Argólis, no início de 1680, na capela da Propaganda Fide, em Roma. O novo prelado partiu para a China em Abril de 1680, mas, enquanto decorria a sua viagem, a cúria romana decidiu dispensar Monsenhor Pallu do governo do vicariato de Fujian 福建 e deixá-lo unicamente como administrador geral das missões com jurisdição sobre os restantes bispos que estivessem na China. Na sequência desta nomeação, foi desmembrado o vicariato de Fujian 福建 que, com as províncias que lhe tinham sido anexadas, deu origem aos novos vicariatos de Fujian 福建 e Guangdong 廣東. Para administrar o primeiro foi proposto o nome do Padre Duchesne, das Missões Estrangeiras de Paris, que estava no Sião, e para o de Guangdong 廣東 foi indigitado Monsenhor Bernardino della Chiesa. A recusa do missionário francês em aceitar a nomeação que lhe era proposta, motivou um novo reajustamento definido em 1685. Entretanto, D. Frei Bernardino della Chiesa e os seus confrades Gianfrancesco Nicolai di Leonissa e Basilio Brollo de Gémona chegavam ao Sião, eclodindo aqui as primeiras desinteligências com os padres das Missões Estrangeiras de Paris e com Monsenhor Pallu. Estando todos destinados à China, viajaram separadamente, tendo Monsenhor Pallu e o Padre Charles Maigrot rumado directamente para a província de Fujian 福建, onde chegaram em Janeiro de 1684, enquanto que os Franciscanos, navegando pelas Filipinas, desembarcaram, em Cantão, em Agosto desse mesmo ano. Ao chegar à missão, Monsenhor della Chiesa encontrou uma certa contestação a Monsenhor Pallu, que insistia em executar o decreto da Propaganda Fide que obrigava os religiosos a fazer um juramento de submissão à autoridade dos vigários apostólicos. Os mendicantes espanhóis – Dominicanos, Franciscanos e Agostinhos, estes últimos acabavam de criar a sua missão na China – resistiram a esta pretensão, invocando as regalias que lhes haviam sido concedidas pela Santa Sé. Monsenhor della Chiesa apoiou os regulares, propondo a Monsenhor Pallu a adopção de uma atitude mais conciliadora. Esta intervenção foi reprovada pelo bispo francês que, por este e outros desentendimentos, sugeriu à Propaganda Fide que afastasse o bispo Franciscano de lugares de direcção por carecer de qualidades para a liderança. Com o falecimento do administrador geral das missões, em Outubro de 1684, eclodia um novo foco de tensão entre Monsenhor della Chiesa e Charles Maigrot por este ter sido nomeado sucessor de Monsenhor Pallu em detrimento do seu ex-coadjutor que, nessa altura, era o único bispo na China. Esta disputa jurisdicional foi, momentaneamente, ultrapassada pela mediação de Monsenhor Gregório Lopez, sagrado bispo em Cantão por Monsenhor della Chiesa, em Abril de 1685. Entretanto, chegou a notícia de que o bispo de Argólis tinha sido nomeado vigário apostólico de Zhejiang 浙江, Hukwang (Huguang 湖廣) (Hubei 湖北 + Hunan 湖南), Sichuan 四川 e Guizhou 貴州, mas a animosidade entre o novo vigário apostólico e os missionários franceses só se atenuaria com uma nova reorganização das missões chinesas levada a efeito pela Propaganda Fide, em 1687. Aos dois vicariatos existentes, confiados a Monsenhor della Chiesa e a Monsenhor Gregório Lopez, vieram juntar-se mais três, sendo nomeados Charles Maigrot para Fujian 福建, Jean Pin para Jiangxi 江西 que não foram elevados ao episcopado, e o Dominicano Fran¬cisco Varo, sagrado com o título de bispo de Lídia, para o vicariato apostólico de Guangdong 廣東, Guangxi 廣西 e Yunnan 雲南. Apesar das sucessivas reformulações, D. Frei Bernardino della Chiesa permaneceu em Cantão até partir para Nanquim (Nanjing 南京), onde se fixou, nos finais de Novembro de 1692. Ao longo destes anos, Monsenhor della Chiesa teceu severas críticas aos missionários franceses e, de modo especial, ao Padre Charles Maigrot, denunciando diversas prepotências e entre estas a de lhe reter o subsídio enviado pela Propaganda Fide para a sua manutenção. Com a criação, em Abril de 1690, das dioceses de Pequim (Beijing 北京), Nanquim (Nanjing 南京) e Macau, D. Frei Bernardino della Chiesa foi nomeado bispo de Pequim (Beijing 北京), todavia por qualquer razão jamais explicitada, a carta régia remetida de Lisboa informava-o que tinha sido indigitado para a diocese nanquinense. Este equívoco manteve-se e, sem qualquer explicação, o prelado tomou conhecimento da nomeação de D. Alexandre Ciceri para a diocese nanquinense e recebeu de Portugal o convite para se transferir do bispado de Pequim (Beijing 北京) para o de Malaca. Este inadmissível procedimento da corte portuguesa foi, pelo menos parcialmente, motivado pela pretensão de confiar a mitra de Pequim (Beijing 北京) aos Jesuítas, tendo sido proposto o Padre Filipe Grimaldi para titular da diocese e o Padre Tomás Pereira para seu coadjutor. Estas tergiversações atrasaram o envio das bulas de nomeação de D. Frei Bernardino della Chiesa, reconhecidas com o placet régio. Nomeado em 1690, só passados dez anos recebeu as bulas remetidas de Lisboa e um ano depois de ter recebido a cópia autenticada das mesmas bulas expedida pela Propaganda Fide. Foi com esta cópia que, a 3 de Dezembro de 1699, o nomeado bispo de Pequim tomou posse da sua diocese por procuração passada ao frade agostiniano Frei Nicolau Agostinho de Cima. Ultrapassada a questão das bulas, manteve-se a das côngruas, cujo pagamento só começou a ser feito a partir de 1703 e, segundo o prelado, muito abaixo daquilo que se declarava na bula de erecção da sua diocese. Por proposta dos Jesuítas, o bispo não fixou a sua residência em Pequim (Beijing 北京), tendo, por isso, escolhido Linqing 臨清, capital de Shandong 山東, que distava da capital chinesa entre 8 a 10 jornadas. Aqui chegou a 25 de Junho de 1700, mas teve de comprar a casa para se acomodar, porque o rei de Portugal não lhe providenciou a moradia. Acresce ainda que a igreja designada para catedral pertencia aos Jesuítas do Padroado que, por ordem régia, mantiveram a posse da mesma. D. Frei Bernardino della Chiesa era bispo do Padroado, mas não tinha catedral própria, nem residência episcopal e para a sua manutenção apenas podia contar com uma modesta côngrua que só ao fim de treze anos começou a auferir. Todas estas atribulações reforçaram a mudança de atitude do bispo de Pequim (Beijing 北京) que, a partir de 1692, deixou de criticar os padres das Missões Estrangeiras e passou a dirigir as suas críticas para o Padroado e os seus missionários. Na sua correspondência para o Papa e para a Propaganda Fide, D. Frei Bernardino della Chiesa afirmava que as recém criadas dioceses chinesas não dispunham das condições necessárias para sobreviver, propondo a sua transformação em vicariatos apostólicos com bispos nomeados pelo Sumo Pontífice. Saliente-se ainda que, enquanto criticava os missionários do Padroado, elogiava os Jesuítas franceses, destacando as suas disponibilidades financeiras, a abundância de missionários e as boas relações que mantinha com estes, devido, sobretudo, às muitas qualidades do Padre Francisco Gerbillon, que considerava digno de ser elevado à categoria episcopal. Esta aspiração do superior dos Jesuítas franceses de Pequim manifestar-se-ia em 1706, durante a permanência do Patriarca de Antioquia, D. Carlos Tomás Maillard de Tournon, na capital chinesa. De acordo com o testemunho do Legado Apostólico, o Padre Gerbillon disponibilizou-se para ser nomeado bispo coadjutor de Pequim desde que lhe fosse assegurado o direito de sucessão. D. Frei Bernardino della Chiesa só passado algum tempo tomou conhecimento desta negociação e nunca terá sabido das diligências feitas pelos portugueses para que o Padre Filipe Grimaldi fosse nomeado seu coadjutor. O envio de um Legado a latere à China foi jubilosamente recebido por D. Frei Bernardino della Chiesa. As suas ideias poderão ter influenciado a actuação do Patriarca de Antioquia em Pequim em relação aos Jesuítas da vice-província da China e ao Padroado. Ambos conversaram demoradamente em Linqing 臨清, quando Monsenhor de Tournon se dirigia para a capital chinesa e, mais tarde, o bispo de Pequim (Beijing 北京) decidiu juntar-se à legacia, tendo acompanhado o Patriarca desde Janeiro a Outubro de 1706. Apesar do forte apoio dispensado a Monsenhor de Tournon, não atribuiu o fracasso da legacia à nefasta influência dos Jesuítas. As razões enunciadas em carta à Propaganda Fide apontavam para a inabilidade do dignitário pontifício, todavia, nos últimos anos da sua vida, quando se preparava a legacia de Monsenhor Carlo Ambrogio Mezzabarba (1719-1721), sem renegar as anteriores afirmações, declarava que a raiz dos problemas da missão da China estava nos Jesuítas e lamentava que a Santa Sé não tivesse tomado medidas mais drásticas contra a sua renitência. Anos antes, porém, destas censuras, D. Frei Bernardino della Chiesa não tinha hesitado em obedecer à ordem imperial que sujeitou os missionários a um interrogatório sobre a doutrina dos ritos chineses. O exame destinava-se a obrigar os missionários a definirem a sua posição em relação aos ritos: aqueles que declarassem seguir a posição definida por Monsenhor de Tournon seriam expulsos e os que se manifestassem como seguidores de Matteo Ricci receberiam uma credencial (o piao 票) para continuarem na China como missionários. Identificado, durante o interrogatório, como colaborador de Monsenhor de Tournon, o bispo de Pequim só conseguiu o piao 票 porque os Jesuítas, e de modo especial o Padre Tomás Pereira, intercederam por ele ao Imperador. Agradecido aos inacianos, regressou a Linqing 臨清 e aí recebeu o decreto promulgado pelo Legado Apostólico em (Nanjing 南京), em Fevereiro de 1707, fornecendo instruções aos missionários que fossem chama dos ao exame imperial. D. Frei Bernardino della Chiesa justificou-se perante o Patriarca de Antioquia e a cúria romana, mas não abdicou do seu propósito de permanecer na missão nem se mostrou arrependido por ter incitado outros missionários, incluindo o bispo D. Álvaro Benavente, a que seguissem o seu exemplo. Aliás, o que estava na origem desta controversa atitude era a querela dos ritos e relativamente a essa matéria, D. Frei Bernardino della Chiesa nunca definiu, claramente, o seu pensamento. Jamais se manifestou a favor da interpretação defendida pela maio¬ria dos Jesuítas, mas também nunca apoiou, abertamente, a teoria dos que se opunham aos inacianos. Pouco antes de ter pedido o piao 票, tinha aprovado a intervenção de dois missionários, Frei António de Frossolone e o Padre Appiani, adeptos do Patriarca, junto dos cristãos de Pequim (Beijing 北京) condenando a posição dos Jesuítas acerca dos ritos, mas, posteriormente, considerou inaplicável o decreto promulgado por Monsenhor de Tournon, em Nanquim (Nanjing 南京), que, na prática, condenava os mesmos ritos. Recebido o decreto pontifício de 20 de Novembro de 1704 que, inequivocamente, declarava os ritos incompatíveis com a doutrina católica, adiou enquanto lhe foi possível a sua publicação. Entretanto, solicitava ao Papa que introduzisse algumas alterações na inflexível definição da Igreja Católica, invocando a impossibilidade de manter as missões se não fossem satisfeitas algumas das exigências de Kangxi 康熙 sobre a referida matéria. Apesar disso, acabou por acatar as imposições da Santa Sé e exigir aos Jesuítas que se submetessem às mesmas determinações. Estas contradições encontram a sua explicação, ou pelo menos uma parte dela, no facto de D. Frei Bernardino della Chiesa ter prosseguido com tenacidade o objectivo de evitar a decadência da missão na China. A essa primordial finalidade se subordinava tudo o que não colidisse com a doutrina católica e com a autoridade pontifícia. Só assim se compreende que tivesse relevado tantas impertinências e desconsiderações, tolerado significativas marginalizações e suportado tamanhas privações. Por essa razão, passou os últimos anos da sua vida profundamente amargurado. O futuro da missão apresentava-se extremamente sombrio com as polémicas que se mantiveram em torno da controvérsia dos ritos, as dissensões que se reacenderam entre os Jesuítas franceses e os do Padroado, as permanentes desinteligências entre os inacianos e os dois sacerdotes, Theodoric Pedrini e Matteo Ripa, que, enviados pela Propaganda Fide, serviam na corte de Pequim (Beijing 北京), e, ainda com os desentendimentos que eclodiram entre os Franciscanos. O insucesso da legacia de Monsenhor Mezzabarba não o surpreendeu. Conhecia a posição intransigente da cúria romana e a determinação igualmente inflexível do imperador da China, mas este desfecho avolumou os seus receios de que a missão se encaminhasse para a sua total ruína. Além disso, esta missão diplomática deu azo a mais uma inadmissível marginalização, porque por razões imprevistas, como o gelo que impediu a viagem de Mezzabarba pelo grande canal que passava em Linqing 臨清, mas também por alguma má vontade dos que acompanhavam, o Legado, só tardiamente tomou conhecimento da presença deste em Pequim (Beijing 北京) e do seu regresso à Europa. Ostracizado pelo Padroado por não ter obedecido às ordens emanadas de Goa e de Lisboa relativamente a Monsenhor de Tournon, ficou sem receber a côngrua a partir de 1709. Em 1715, a Propaganda providenciou-lhe um subsídio que devia receber através do Padre Ceru, procurador dos propagandistas em Cantão, mas a partir de 1718, por falta de fundos, o procurador foi obrigado a suspender o pagamento da subvenção. Sempre viveu pobre, mas o inventário dos seus haveres, feito em 1722, mais do que pobreza atesta a indigência em que morreu o primeiro bispo de Pequim (Beijing 北京) da era moderna. Pobre e abandonado, porque tendo falecido a 21 de Dezembro de 1721 pelas 22 horas, só foi sepultado a 7 de Abril de 1722, e, apesar do espaço de tempo que mediou entre as duas datas, dos missionários da sua diocese, apenas dois Franciscanos, o italiano Padre Carlos de Castorano que residia na casa do bispo e o espanhol Padre Francisco de la Concepción, o acompanharam à última morada, onde tem estado esquecido pela História. Bibliografia: Arquivo Histórico de Goa, Monções do Reino, livros 62 a 95; Arquivo Histórico de Goa, Correspondência de Macau, livro 1262; Arquivo Histórico Ultramarino, Macau, cxs. 1 e 2; GUENNOU, Jean, Missions Étrangères de Paris, (Paris, 1986); LEE, Ignatio Ting Pong, “La Actitud de la Sagrada Congregación Frente al Regio Patronato”, in METZELER, J. (dir.), Sacra Congregationis Propaganda Fide Memoriae Rerum 1622-1972, vol. 1/1, (Rom-Freibur-Wien, 1972); MARGIOTTI, Fortunato, “La Cina, Ginepraio di Questioni Secolari” e “Le Missioni Cinesi nella Tormenta” in, in METZELER, J. (dir.), Sacrae Congregationis de Propaganda Fide Memoria Rerum, 1622-1972, vol. 1/2, (1700-1815), (Rom-Freibur- Wien, 1973); MENSAERT, Georges, “L’Établissement de la Hierarchie Catholique en Chine de 1684 a 1721”, in sep. Archivum Franciscanum Historicum, (Quaracchi-Firenze, 1953); MENSAERT, Georges, “Les Franciscans au Service de la Propagande dans la Province de Pékin, 1705-1785”, in Archivum Franciscanum Historicum, ano 51, (Quaracchi-Firenze, 1958); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese. A Missão da China, vol. 13, (Macau, 1977); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau no Séc. XVIII, (Macau, 1984); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Mgr B. della Chiesa, Evêque de Pékin et Mgr C. Th.Maillard de Tournon, Patriarche d’Antioche”, in Antonianum, ano 22, (Romae, 1947); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Mgr. Pallu et Mgr Bernardin della Chiesa. Le Serment de Fidelité aux Vicaires Apostoliques 1680-1686”, in Archivum Franciscanum Historicum, ano 31, (Quaracchi-Firenze, 1938); WINGAERT, Anastase van der, O.F.M., “Le Patronat Portugais et Mgr. Bernardin della Chiesa”, in Archivum Franciscanum Historicum, tomo 35, (Quaracchi-Firenze, 1942).
CHIESA, D. FREI BERNARDINO DELLA (1644-1721)
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016). Bispo de Macau, nascido em S. Mateus, Ilha do Pico, Açores, 8 de Julho de 1924. Cursou o Seminário de Macau e ordenou-se sacerdote (1949). Depois de leccionar cinco anos no Seminário, segue para Roma onde obtém a licenciatura em Direito Canónico, na Universidade Gregoriana. Regressado ao Seminário de Macau (1960), foi professor e depois Reitor. Visita Timor em 1963. Na ausência do Prelado, no Concílio Vaticano II, foi nomeado Governador do Bispado. Em 1968 foi professor e prefeito de estudos no Seminário Diocesano de Hong Kong. Falecido D. Paulo José Tavares (1973), é eleito Vigário Capitular da Diocese de Macau e depois é nomeado Bispo; foi ordenado a 25 de Março de 1976. Na celebração do IV Centenário da Diocese (1976), exorta a um profundo e empenhativo exame de consciência perante a responsabilidade da evangelização. Em 1977, assina com os Bispos de Malaca-Johor e Singapura o acordo de transferência dos enclaves da diocese de Macau. No seu múnus pastoral, pautou-se pela discrição, evitando faustos e envolvimentos desnecessários. Colaborou com o Governo, por exemplo, no respeitante aos assentos nos livros paroquiais, e incentivando a população ao recenseamento eleitoral. Exprime-se com facilidade em oito línguas, incluindo o cantonense. Participou em todas as reuniões da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia, desde 1974 a 1988. Procurou novos reforços do pessoal missionário, conseguindo que se estabelecessem na Diocese a Prelatura pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, os Irmãos (MCO) e Irmãs da Caridade (MCA), os Paulistas (SSP), e as Irmãs da Caridade de Sant’Ana (HCSA). Publicou mensagens pastorais, das quais destacamos o Baptismo das Crianças e o Sacramento da Reconciliação. Promulgou o Calendário Litúrgico próprio da Diocese. Promoveu a renovação do semanário O Clarim e do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau (actual Boletim Eclesial de Macau) e fez a reestruturação do Centro Diocesano de Comunicação Social. Instituiu (1981) a capelania da Universidade da Ásia Oriental (actual Universidade de Macau). Procurou assegurar a manutenção da vasta rede de escolas católicas. Através dos serviços da Caritas Diocesana prestou notável ajuda aos refugiados e população carenciada, criando a Escola de Assistentes Sociais (1977), e o Centro Diocesano de Apoio à Família (1978); em Macau, acolheu o II Encontro do Instituto Asiático para a Acção Social (1988). Assegurou a presença possível e discreta junto dos católicos da sua diocese na República Popular da China. Efectuou em 1985 uma visita de carácter oficial à China. Foi recebido pelo Bispo de Pequim e também pelo Bispo da Associação Patriótica da Igreja da China. Ficou esclarecido sobre a situação da Igreja Católica na China e da sua relação com o Governo. No encontro com o Director do Gabinete para os Assuntos Religiosos foi-lhe afirmado que a Igreja da China e o Gabinete não interfeririam na Igreja de Macau. Nas visitas aos bispos de Nanquim (Nanjing 南京), Xangai (Shanghai 上海) e Cantão (Guangzhou 廣州), ficou impressionado com o entusiasmo da fé nas liturgias, a seriedade na formação no Seminário de Xangai (Shanghai 上海), o espírito de oração no santuário de Sheshan 佘山 e o convite para renovar a peregrinação de Macau a Sanchoão. Aceite por Roma o seu pedido de resignação (1988), sucedeu-lhe D. Domingos Lam, seu Bispo Coadjutor e primeiro bispo de etnia chinesa na Cidade do Santo Nome de Deus de Macau. Em 1984 foi agraciado pelo Governo Português com o grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência; em 1986 recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade de Macau; e, em 1988, pelo Presidente Mário Soares, o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito. De regresso aos Açores, colabora na pastoral; faz parte do grupo de Bispos do Movimento dos Focolares (Obra de Maria). Bibliografia: CARDOSO, Padre Tomás B. (coord.), Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa, Bispo de Macau, 1976-1988, (Macau, 1999).
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016)
CARDIM, ANTÓNIO FRANCISCO (?-1659). Os seus pais residiam em Viana do Alentejo, mas António Francisco nasceu na cidade do Porto, entre 1594 e 1596. Foi admitido no noviciado de Évora da Companhia de Jesus a 24 de Fevereiro de 1611 e a 18 de Outubro emitiu os seus votos de devoção no colégio de S. Roque, Lisboa. Voltou a Évora para terminar o noviciado e estudar humanidades e artes (Filosofia). Em 1618 viajou para Goa, dedicou quatro cursos ao estudo da teologia e celebrou a sua primeira missa em Fevereiro de 1621. Em 1623 foi nomeado para a província do Japão no Exílio. Cardim foi destinado ao Sião (Tailândia) a 8 de Dezembro de 1625, até ao seu regresso a Macau a 2 de Julho de 1629. Novos destinos foram dois meses em Tonquim, dois anos na Conchichina e uma breve estadia em Tonquim desde Março de 1631, depois da qual voltou a Macau, onde esteve três anos como mestre dos noviços e quatro como reitor, sendo simultaneamente comissário do Santo Ofício. Na congregação provincial realizada em Macau de 9 a 22 de Setembro de 1638, foi eleito para participar em Roma na Congregação Geral, como representante do Japão. Saiu de Macau em 1638, mas só em Setembro de 1642 chegou a Lisboa. Em Roma, enfermo, esteve prestes a morrer, antes de assistir à Congregação, de 21 de Novembro de 1645 a 14 de Abril de 1646. Em Maio e em Junho redigiu uma informação e um memorial referentes às actividades dos Jesuítas no Oriente. Em 1647 promoveu o envio de uma legação do rei de Portugal ao Japão, para suster a perseguição do shogun Tokugawa Iemitsu. Em 1649 empreendeu a viagem de regresso a Macau, mas a nau naufragou na costa antes de chegar a Moçambique e os expedicionários tiveram que seguir a pé. A etapa seguinte levou-o a Goa e, em 1652, embarcou a caminho de Macau, mas a 15 de Junho foram feitos prisioneiros por corsários holandeses. A 2 de Julho desembarcaram em Malaca, tendo sido levados para o cárcere de Negumbo na ilha de Ceilão e depois para a prisão da fortaleza de Gale. Três anos depois chegou a Goa, seguindo a pé por Cochim, Coulão, Travancor, pela costa da Pescaria e Negapatão. Aqui embarcou para Tenasserim, e de novo por terra até ao Sião. O barco que o levava a Macau foi desviado por ventos junto à ilha de Hainão (Hainan 海南), onde foi recebido com carinho pelos Jesuítas dessa missão, que lhe prepararam outra nau para atravessar até ao continente e seguir a pé para Macau. Cardim ofereceu-se para a missão do Cambodja, mas acabou por morrer em Macau a 30 de Abril de 1659. Embora nunca tenha podido pisar o solo japonês, a figura do infatigável Cardim ocupa um lugar importante na história da Província do Japão no Exílio. Precedido por Pedro Morejón e outros, dedicou-se à glorificação dos mártires do Japão, religiosos e laicos, primeiro como testemunha e depois como procurador no processo de Macau 1635-36. São bem conhecidas dos historiadores as obras das quais fazemos a resenha no final, algumas publicadas durante a sua estadia em Roma. Também são dignas de menção as suas intervenções a favor da Província do Japão, opondo-se a algumas pretensões administrativas do visitador Manuel Dias e do superior Álvaro Semedo, tendo ainda em outras ocasiões favorecido a causa da Vice-Província da China. – Principais Obras. Relatione della provincia del Giappone, 1645; Memoriale ad Reverendum admodum Patrem Nostrum Generalem, 1646; Fasciculus e Iapponicis Floribus, suo adhuc madentibus sanguine, 1646; Informação sobre a pretenção dos Padres da China em destruir a Província de Jappam, 1648; Batalhas da Companhia de Jesus na sua gloriosa Província do Japão, c.1651. Bibliografia: Dehergne, Joseph, Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, (Roma, 1973); TEIXEIRA, Padre Manuel, “Os Cardins”, in Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, (Macau, 1972), pp. 443-460.
CARDIM, ANTÓNIO FRANCISCO (?-1659)
BARRETO, PADRE MELCHIOR NUNES (1520-1571). Melchior Nunes Barreto nasceu no Porto, em 1520. Entrou para a Companhia de Jesus com 23 anos, quando já era licenciado. Partiu de Lisboa, rumo às missões asiáticas, em 1551, a bordo de uma nau portuguesa da carreira da Índia. Durante algum tempo foi superior dos colégios Jesuítas de Baçaim, no norte da Índia, e de Goa. Em 1554, foi escolhido para liderar uma embaixada enviada ao Japão, e mais concretamente ao daimio de Bungo, pelo Estado Português da Índia. Tratava-se de tentar consolidar a presença portuguesa no arquipélago nipónico, de forma a beneficiar as missões católicas que os religiosos Jesuítas estavam a desenvolver naquelas partes. Uma tal missão diplomática, obviamente, tanto interessava aos padres da Companhia de Jesus, como às autoridades portuguesas, apostadas no aumento do tráfico comercial entre os portos nipónicos, Macau e Goa. Um dos membros desta embaixada, curiosamente, era Fernão Mendes Pinto, o celebrado aventureiro português, autor da Peregrinação (obra publicada em Lisboa, em 1614), que então, mas apenas temporariamente, fora admitido à Companhia de Jesus. Após uma breve estada em Malaca, Barreto e os seus companheiros aportaram em 1555 às ilhas de Sanchoão e de Lampacau, no litoral meridional do Guangdong 廣東, onde, por esses anos, os portugueses faziam demoradas escalas nas suas viagens entre Malaca e os portos japoneses, a fim de se dedicarem a proveitosos negócios com os mercadores chineses. Enquanto aguardava ventos propícios para seguir para o Japão, Nunes Barreto efectuou uma visita à cidade de Cantão, com o objectivo de tentar libertar alguns portugueses que aí se encontravam cativos, entre eles, Mateus de Brito. Como moeda de troca, levava alguns pedaços de âmbar cinzento, mercadoria exótica sumamente apreciada na corte imperial chinesa e muito procurada pelos mandarins provinciais, que, através da sua posse, procuravam depois obter favores junto das autoridades centrais, em Pequim. Segundo parece, os esforços de Barreto não deram quaisquer resultados positivos, tendo o padre, além disso, ficado bastante desiludido com as fracas perspectivas de conversão dos chineses ao cristianismo. De regresso a Lampacau, Nunes Barreto terá feito uma paragem em Macau, desembarcando naquele ancoradouro, que, desde esse ano, estava a ser utilizado pelos seus compatriotas como ponto de apoio nas jornadas mercantis para Cantão. Ali encontrou o seu companheiro Fernão Mendes, em finais de 1555, o qual então subscreveu uma conhecida carta onde se refere a este encontro. Tal carta, aliás, é o primeiro documento português conhecido datado de Macau. O próprio Barreto escreveria pouco depois uma longa missiva de Lampacau (Langbai’ao 浪白澳), dando conta das suas andanças e incluindo detalhadas descrições da grande cidade chinesa de Cantão. Antes de largar de Lampacau (Langbai’ao 浪白澳), Nunes Barreto deu instruções ao irmão Jesuíta Estêvão de Góis, que também fazia parte da missão ao Japão, para permanecer em território chinês, a fim de se dedicar ao estudo da língua chinesa escrita, com vista a uma eventual e futura entrada dos Jesuítas na China. Antecipava assim, de mais de vinte anos, a política aculturativa mais tarde seguida pelo visitador Jesuíta Alexandre Valignano. Mas o jovem Góis não conseguiu dar conta do recado, regressando a Goa, em 1557, com graves problemas de saúde. Entretanto, chegada a monção propícia, a embaixada portuguesa largou do litoral da China com destino ao Japão, chegando a salvamento ao reino de Bungo. Mas o padre Melchior pouco tempo ali se demorou, tendo estado, aliás, quase sempre enfermo. A missão diplomática portuguesa não teve grandes resultados práticos, pois a situação política que se vivia em terras nipónicas era assaz confusa, já que estava em curso uma verdadeira guerra civil, com facções rivais lutando pela hegemonia de mais ou menos vastas parcelas de território. Após nova paragem no litoral chinês, o padre regressou, em 1556, à Índia, onde subsequentemente viria a exercer diversos cargos nas estruturas da Companhia de Jesus. O seu companheiro de viagem, Mendes Pinto, desvinculou-se da organização Jesuíta, regressando pouco depois a Portugal. Quanto ao padre Nunes Barreto, permaneceu na Índia, vindo a falecer em Goa, em meados de 1571. Bibliografia: O’NEILL, Charles; DOMINGUEZ, Joaquin Maria (dirs.), Diccionario Histórico de la Compañía de Jesús, 4 vols., (Roma, 2001); LOUREIRO, Rui Manuel, Em Busca das Origens de Macau, (Macau, 1997).
BARRETO, PADRE MELCHIOR NUNES (1520-1571)
COUPLET, PADRE PHILIPPE (?-1694). O padre Jesuíta Philippe Couplet, talvez mais recordado pelo seu papel na propagação da missão da China Jesuíta na Europa, por alturas de 1680, e por ter publicado os Confucius Sinarum Philosophus (Confúcio Filósofo dos Sinos) em Paris, durante este período, nasceu em Mechlin, na Bélgica, no dia 31 de Maio de 1623. Após ter frequentado uma escola Jesuíta, entrou para o noviciado Jesuíta em 1640, mas as suas esperanças iniciais de servir na América do Sul não tiveram sucesso. Um encontro com Martino Martini S.J. inspirou-o também para ir para a China, mas foi só em 1656 que finalmente deixou a Europa, juntamente com François de Rougemont S.J.. Depois de numerosas tentativas falhadas de viajar de Goa para a China, Couplet e Rougemont fizeram finalmente uma viagem por terra para o Sião, e foi a partir daí que chegaram a Macau em finais de 1658. Após uma breve estadia em Macau, Couplet obteve autorização para seguir para a China, tendo ficado instalado em Fuzhou 福州. Em 1551, o Imperador Kangxi 康熙 subiu ao trono e, durante algum tempo, a actividade Jesuíta foi proibida e um certo número de padres, incluindo, tanto Ferdinand Verbiest, como Adam Bell von Schall, foram aprisionados em Pequim. Outros, incluindo Couplet, voltaram para Macau, onde aproveitaram o tempo para melhorar as suas capacidades, e foi neste período que começou o trabalho sobre o Confucius Sinarum Philosophus, a tradução da filisofia de Confúcio para o Latim. Em 1670, a proibição da actividade Jesuíta foi levantada e os padres voltaram para a China, onde Couplet estabeleceu a sua missão na Província de Jiangnan 江南. Em 1679, Couplet foi eleito Procurador da Missão Jesuíta na China e, nessa capacidade, foi nomeado para viajar para a Europa e para ver o Papa para avançar a causa Jesuíta, especialmente no que se referia à Questão dos Ritos. Foi inicialmente decidido que ele iria acompanhado por cinco cristãos chineses, incluindo Wu Li 吳歷 (Wu Yushang 吳漁山/Simão Xavier da Cunha), mas esse número foi eventualmente reduzido para dois, e Philippe Couplet deixou Macau em 1681, juntamente com um jovem chinês, Michael Shen, Fuzon 沈福宗 e um outro cuja identidade não é conhecida. Sofreram um naufrágio próximo de Batávia, e só um ano depois é que conseguiram prosseguir até à Europa, ainda que o segundo noviço cujo nome se desconhece haja decidido não continuar. Desembarcaram na Holanda no dia 8 de Outubro de 1683, de onde viajaram para a Flandres natal de Couplet e fizeram os preparativos para a sua ronda pela Europa. A complexidade política desta ronda havia já sido originada em Macau, onde a nomeação de Couplet como procurador havia tido a intenção de fazer avançar a missão Jesuíta através de um apelo à nobreza católica da Europa, mas igualmente de publicar o Confucius Sinarum Philosophus em Paris, a fim de produzir um impacto em pleno centro da actividade intelectual e científica de finais do século XVII. Em Macau, alguns padres tinham sérias dúvidas quanto à capacidade de Couplet para atingir estes vários objectivos e havia resistência também em relação ao jovem chinês Shen 沈 que o acompanhava, uma vez que o seu Latim não era suficientemente fluente para conversar nas cortes da Europa. Contudo, Couplet e Shen 沈 obtiveram algum sucesso e foram recebidos por Luís XIV em Versalhes, onde o uso dos pauzinhos foi demonstrado e as orações recitadas em Chinês para impressionar o monarca. Este interesse em Michael Shen 沈福宗 era exactamente o que os Jesuítas haviam esperado despertar e Luís XIV obsequiou os seus convidados com uma mostra das fontes de Versalhes, normalmente reservada aos embaixadores e à realeza estrangeira. De França, seguiram para Roma, onde foram recebidos pela Raínha Cristina da Suécia, mas tiveram de esperar até 1685 antes de serem recebidos pelo Papa Inocente XI. Esta missão estava particularmente preocupada com questões que iriam mais tarde explodir na con-frontação dos Jesuítas com a política do Vaticano e com a tentativa de conciliar a prática confuciana com a doutrina católica. Couplet teve de ser especialmente cauteloso ao lidar com o Papa, uma vez que assinar um juramento à Propaganda Fide teria alienado a monarquia portuguesa, cujo controlo do seu padraodo eles insistiam continuamente. Assim, Couplet encontrava-se preso entre rivalidades contestatárias, já que a submissão a Roma teria significado a exclusão da missão chinesa, que os Portugueses controlavam, enquanto que a desobediência a Roma teria conduzido a uma séria proscrição papal, o que acabou eventualmente por acontecer alguns anos mais tarde. A missão a Roma foi largamente um falhanço e Michael Shen 沈福宗, juntamente com um outro Jesuíta, Francesco-Maria Spinola, viajou para Londres, enquanto que Couplet voltou para Paris. Em Londres, Shen 沈 foi apresentado à Corte e Jaime II encomendou um retrato do cristão chinês a Godfrey Kneller, que se encontra agora no Castelo de Windsor. Shen 沈 viajou igualmente para Oxford, onde ajudou a catalogar os livros chineses na Bodleian Library (Biblioteca Bodleiana). Em Paris, Couplet atarefou-se com preparações para a publicação do Confucius Sinarum Philosophus. Juntou-se depois a Shen 沈 e Spinola, em Londres, e juntos viajaram para Lisboa, onde chegaram em 1688. Michael Shen 沈福宗 entrou então para o noviciado Jesuíta e pronunciou os seus primeiros votos no dia 9 de Outubro de 1690 e, na Primavera de 1691, partiu para Macau. No dia 22 de Setembro de 1691, Michael Shen 沈福宗 morreu no mar, um dia antes de chegar à Ilha de Moçambique. Não foi autorizado a Couplet viajar de volta para a China com Shen 沈, porque ele e Spinola haviam jurado obediência à Propaganda Fide, e foi só em 1693 que conseguiu embarcar para Macau. A viagem de volta foi particularmente difícil, com a quase totalidade dos dezasseis Jesuítas a caírem doentes. Couplet ficou muito penalizado ao saber da morte de Shen, no ano anterior, quando chegaram a Moçambique. O desastre continuava a rondar o grupo, e numerosos padres Jesuítas morreram e Couplet entrou cada vez mais em depressão, e no dia 9 de Setembro sofreu uma série de ataques. Contudo, a sua saúde melhorou e continuou para Goa mas, aquando de uma violenta tempestade, Couplet foi apanhado pala bagagem que caía e morreu, provavelmente a 15 ou 16 de Maio de 1694. [G.T.] Bibliografia: “Philippe Couplet: A Short Biography”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1693): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 17-19; FOSS, Theodore Nicholas, “The European Sojourn of Philippe Couplet and Michael Shen Fuzong: 1683-1692”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1693): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 121-140; MALATESTA, S.J.; EDWARD, J., “The Last Voyage of Philippe Couplet”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1692): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 163-181; SERRURE, C.P., Het Leven van Pater Petrus-Thomas Van Hamme, Missionaris in Mexico en in China (1615-1772), (Ghent, 1871).
COUPLET, PADRE PHILIPPE (?-1694)
No dia 18 de Julho de 1847, o Sendo Bispo da Diocese D. Jerónimo José da Mata, foi fundada em Macau a Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria, na Paróquia de Santo António. O 1.º Centenário foi solenemente lembrado em 15 de Abril de 1947, sendo pároco o Padre José António Augusto Monteiro. Ao longo dos primeiros 100 anos inscreveram-se, segundo o livro do catálogo,1691 associados. (Cfr. esta Cronologia…, 1947).
Fundada Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria em Macau
Filho de Diogo do Amaral e de Domingas Francisca, nasceu em Corvaceira (Viseu) em 1594. Ingressou na Companhia de Jesus a 1 de Junho de 1608, em Coimbra. Ordenou-se sacerdote em Évora, em 1622. A sua longa formação decorreu nos colégios de Coimbra e Évora (1608-1623), e a sua docência como professor de latinidade nos de Bragança, Braga, Coimbra e Évora (1616-1620). Aqui se ordenou sacerdote (1522) e foi destinado, a seu pedido, para a missão do Japão. Em 1623 partiu de Lisboa com um numeroso grupo de Jesuítas chefiado por Afonso Mendes, patriarca da Etiópia, e outros dois bispos da ordem. Em Macau inicia o estudo da língua japonesa, que prosseguiu com êxito entre os colonos japoneses da Cochinchina. Um piloto português ofereceu-se para introduzir Amaral e outros Jesuítas clandestinamente no Japão, mas os ventos trouxeram de volta a nau a Macau. A 1 de Dezembro de 1628, o visitador André Palmeiro escrevia: “Espero que este ano cheguem o Padre Gaspar de Amaral e o Padre Paulo [Saito] japonês e que nos possam abrir a porta para ir provendo, pouco a pouco, aquela missão por esta via de Chincheo”. Amaral ficou na Ilha Verde (Macau) onde deixou crescer o cabelo como o chineses para entrar no Japão sem levantar suspeitas, mas voltou à Indochina, desta vez a Tonquim, como superior da missão, com os padres António Cardim e António Fontes. Ali trabalhou desde Setembro de 1629 até meados de 1638, com uma breve estada em Macau (de Maio de 1630 a Fevereiro de 1631). A pedido do visitador Manuel Dias, Amaral escreveu ao Rei do Laos tentando a entrada do Evangelho nesse reino. A resposta do Rei chegou a Macau a 21 de Maio de 1637 e o visitador designou Amaral e Bartolomeu de Roboredo para fundar a nova missão, o que na realidade foi tentado, ainda que sem sucesso, pelo padre João Baptista B`onelli, em 1638. A 6 de Janeiro desse ano Amaral fez a sua profissão solene em Tonquim. Depois assistiu em Macau à Congregação Provincial do Japão (de 9 a 22 de Setembro de 1638), onde deu conta dos 40.000 neófitos baptizados em Tonquim durante o seu superiorato. A 17 de Novembro de 1640 nomearam-no Reitor do Colégio de Macau e simultaneamente vice-provincial da província do Japão. Em 1642 ofereceu-se para tomar parte na desesperada expedição preparada pelo novo visitador Antonio Rubino, mas o sua oferta não foi aceite. Em 1645 o novo visitador Manuel de Azevedo propôs-lhe regressar a Portugal e substituir o Padre António Freire como procurador, mas Amaral preferiu seguir a vida de missionário na sua missão de Tonquim. Embarcado com outros seis Jesuítas, a nau acabou por se afundar em frente à ilha de Hainão a 26 de Fevereiro de 1646. Apenas se salvou o P. Lubelli, que não sabia nadar. Amaral brilhou pela sua capacidade intelectual e o seu sentido prático e organizador. Dotado em alto grau para as línguas, achou fácil a adaptação ao meio ambiente. Deixou manuscrito um dicionário da língua anamita, que posteriormente foi utilizado por Alexandre de Rhodes. O êxito clamoroso dos Jesuítas em Tonquim durante o seu superiorato deveu-se, em grande parte, ao espírito que soube dar aos catequistas. Baseando-se na tradição Jesuíta dos Dojuku do Japão, aperfeiçoou essa Instituição incorporando nela a vida da comunidade e a hierarquia interna do tipo de instituto laico, formado por professos, membros aprovados, noviços e coadjutores. Pessoalmente distinguiu-se pela sua recusa dos bens materiais para uso próprio. A sua devoção a S. Francisco Xavier levou-o a erigir uma cruz comemorativa da sua morte na ilha chinesa de Sanchoão, com uma inscrição em português e japonês.
AMARAL, PADRE GASPAR DO (1594- 1646)
Frei Gaspar da Cruz terá nascido em Évora, em ano que não se consegue apurar, sendo mais tarde, também em data incerta, admitido no convento de Azeitão da Ordem dos Pregadores. Partiu para o Oriente em 1548, integrado num grupo de missionários Dominicanos, dedicando-se durante cerca de seis anos ao trabalho apostólico no litoral hindustânico. Em 1554 encontrava-se em Malaca, fundando uma casa da sua Ordem, e demorou-se na cidade até Setembro do ano imediato, pois nesta data embarcou num navio de mercadores portugueses com destino ao reino do Camboja. O incansável missionário permaneceu durante cerca de um ano em território cambojano, viajando um pouco através do reino, mas em Dezembro de 1556 estava já no litoral da China, tendo oportunamente conseguido autorização para visitar Cantão, onde estanciou durante cerca de um mês. Apesar de se terem gorado por completo os seus eventuais projectos de missionação, pois a China permanecia então fechada aos estrangeiros, com excepção precisamente do porto de Cantão, Frei Gaspar não perdeu tempo, e parece ter aproveitado ao máximo a sua curta estada no litoral chinês, calcorreando exaustivamente toda a cidade, observando ruas, casas e templos, trocando impressões com gente oriunda de variados estratos sociais, frequentando audiências dos mandarins, avaliando hábitos e costumes, documentando-se sobre práticas culturais e religiosas, enfim, recolhendo preciosas informações sobre os mais variados aspectos da realidade chinesa. Paralelamente, o nosso Dominicano entrevistou portugueses bem experientes em assuntos chineses, “pessoas dignas de fé”, como ele próprio referirá, chegando mesmo a obter uma cópia de “um compêndio de um homem fidalgo que cativo andou pela terra dentro”. Frei Gaspar referia-se ao tratado de Galiote Pereira, antigo prisioneiro que chegara a Sanchoão em finais de 1552 ou princípios do ano seguinte, depois de passar vários anos em prisões chinesas. Em princípios de 1557 estava novamente de partida, e, depois de escalar Malaca, iniciou um périplo pela Insulíndia, visitando nomeadamente o porto de Macassár, antes de regressar ao litoral do Industão, quase três anos mais tarde. Passou ainda por Ormuz, antes de embarcar em Goa, em 1564, com destino a Portugal. Viria a falecer anos mais tarde, em Setúbal, vítima de uma virulenta epidemia de peste que ajudava a combater. Em Fevereiro de 1570, duas semanas após a morte de Frei Gaspar da Cruz, o impressor André de Burgos publicava em Évora o célebre Tratado das Cousas da China, que era a primeira monografia exclusivamente dedicada ao Celeste Império a conhecer na Europa as honras da impressão. A escolha da oficina tipográfica parece sugerir que o missionário, após o regresso do Oriente, se teria estabelecido no mosteiro eborense da Ordem de São Domingos. E aí, o padre Dominicano procedera a uma exaustiva compilação dos materiais sobre a China até então reunidos pelos portugueses. O relato de Frei Gaspar, de uma forma brilhante, sistematizava as notícias, as imagens e as vivências resultantes de um longo, e nem sempre pacífico, convívio lusitano com a realidade chinesa. A obra do nosso autor, contudo, não se destacava apenas pela riqueza do conteúdo, pelo rigor da informação e pela variedade das fontes utilizadas, já que o Tratado das Cousas da China é atravessado do princípio ao fim por uma atitude de flagrante simpatia em relação às realidades sínicas. O missionário, ao longo de muitas páginas, elogia quase sem medida a eficácia das formas de governo, a imparcialidade da justiça, a exemplaridade dos castigos, o respeito pelas hierarquias, a habilidade manual extrema, que desenvolve as soluções mais inesperadas para os problemas da vida quotidiana, a caridade e a benevolência das instituições de assistência, o apurado ordenamento urbano, a organização meticulosa do sistema produtivo, etc. Enfim, a China é apresentada aos leitores da obra como um verdadeiro modelo social, digno da maior admiração e interesse, que apenas é manchado pelo facto de os chineses viverem na “ignorância da verdade”, totalmente apartados da “fé de Cristo”. O Tratado das Cousas da China parece ter conhecido alguma circulação além-fronteiras, pois vários escritores estrangeiros a ele se referirão em anos subsequentes, os mais célebres dos quais seriam talvez Bernardino de Escalante, autor de um Discurso de la navegación de los portugueses (Sevilha, 1577) e Frei Juan González de Mendoza, autor da celebérrima Historia de las cosas más notables, ritos y costumbres del gran reino de China (Roma, 1585). [R.M.L.] Bibliografia: CRUZ, Gaspar da, Tratado das Coisas da China, (Lisboa, 1997).
CRUZ, FREI GASPAR DA (?-?)
BELO, D. CARLOS FILIPE XIMENES (1948- ). Nascido na pequena aldeia de Walakama, perto de Vemasse, a 3 de Fevereiro de 1948, quinto filho de um professor primário, Domingos Vaz Filipe, e de Ermelinda Baptista Filipe, D. Carlos Filipe Ximenes Belo assistiria ao falecimento do seu pai com apenas dois anos. Seguiu o itinerário educativo das escolas católicas de Baucau e Ossu, graduando-se mais tarde, em 1960, no colégio de Dare. Depois de demorada formação sacerdotal salesiana em Macau e Portugal, D. Ximenes Belo viria a ordenar-se sacerdote a 26 de Julho de 1980. Regressa a Timor um ano mais tarde, em Julho de 1981, tornando-se professor e mesmo, durante um curto período, director do colégio salesiano de Fatumaca. Depois da resignação de Monsenhor Martinho da Costa Lopes, em 1983, acabaria D. Ximenes Belo, a 21 de Março de 1988, por ser apontado administrador apostólico de Díli e bispo titular de Lorium, recebendo o título episcopal a 19 de Junho desse mesmo ano. Imediatamente, em 1989, o novo administrador apostólico da capital de Timor Leste escreve ao então secretário-geral das Nações Unidas, Javier Perez de Cuellar, denunciando a situação humana do território e a repressão difícil da ocupação militar e política indonésia. Em 1989, coube a D. Ximenes Belo acolher a visita de João Paulo II, oficialmente o responsável pela diocese de Díli, mobilizando intensamente a população de maioria católica do território. A partir daqui, a biografia de D. Carlos Filipe Ximenes Belo torna-se progressivamente mais conhecida, destacando-se o modo intransigente como defende os direitos humanos do povo timorense. Para tanto, denuncia a violenta ocupação indonésia e pugna pelos valores culturais e nacionais da parte oriental da ilha de Timor, antiga colónia portuguesa. Apesar das enormes dificuldades, muitas incompreensões e frequentes calúnias, D. Ximenes Belo não vacilou nesse caminho de defesa do direito à auto-determinação do povo timorense, concorrendo para ampliar uma resistência cívica, moral e cultural, que haveria de ganhar definitivamente eco internacional quando o bispo foi laureado com o Prémio Nobel da Paz de 1996. Abriam-se, assim, três vertiginosos anos de luta pela auto-determinação, que se concluiriam com o referendo ganho claramente pela via da independência. A violência subsequente encontraria, também, em D. Ximenes Belo, um dos mais relevantes protagonistas da defesa da identidade nacional e dos direitos do povo timorense. Mais recentemente, a 26 de Novembro de 2002, o bispo de Díli viria a resignar da sua administração apostólica, ganhando algum descanso para novas etapas vivenciais que o levam a cruzar a actividade cultural, a reflexão e também o aconselhamento das novas autoridades políticas timorenses, finalmente, eleitas democraticamente pela vontade popular expressa através do sufrágio directo universal. Até aqui, sumariam-se eventos e temas que se poderiam facilmente visitar em qualquer enciclopédia geral minimamente preocupada com o mundo actual ou com as figuras mais proeminentes do catolicismo contemporâneo. Menos conhecida é a estada de D. Ximenes Belo, entre 1975 e 1976, em Macau, para estudar no colégio salesiano de Dom Bosco, precisamente durante o período em que se concretiza a violenta ocupação militar indonésia de Timor Leste, que ecoa também, entre resistências e solidariedades, no território macaense. A passagem do bispo de Díli por Macau reveste-se de um duplo significado: recorda as ligações históricas e religiosas continuadas entre Macau e Timor e relembra, igualmente, a presença em Macau de uma comunidade timorense que sempre encontrou no território um especial apoio para a sua formação sacerdotal e intelectual. Deste modo, o itinerário macaense de D. Ximenes Belo representa um ponto de chegada da história da instalação dos salesianos em Macau, desde 1906, comunicando também com a sua vocação missionária em território timorense. A obra educativa salesiana seria marcada, sobretudo, pela inauguração, na década de 1950, do Colégio de Dom Bosco, abraçando filhos e descendentes de portugueses e concretizando um projecto de formação em língua portuguesa dirigido a muitos jovens que viriam a preencher as administrações, ofícios e igrejas coloniais no mundo asiático, de Macau a Timor. Bibliografia: CARMO, António, A Igreja Católica na China e em Macau no Contexto do Sudeste Asiático. Que Futuro?, (Macau, 1997); KOHEN, Arnold S., From the Place of the Dead: The Epic Struggles of Bishop Belo of East Timor, (Inglaterra, 1999).
BELO, D. CARLOS FILIPE XIMENES (1948- )
Personagem: | Estêvão, Lucas de S. |
Rico, Agostinho | |
Mercado, Bernardo das Chagas | |
Navarro, José | |
Osca, José | |
Tempo: | Dinastia Qing entre 1645 e 1759 |
1686 | |
Local: | Manila |
China | |
Palavra-chave: | Clero |
Missão religiosa | |
Missionários | |
Catolicismo |
Fonte: | Silva, Beatriz Basto da. Cronologia da História de Macau. Macau, Livros do Oriente, vol. I, 3.ª ed., 2015, p. 193. ISBN 978-99937-866-8-9. |
Idioma: | Português |
Identificador: | t0003785 |
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