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Data de atualização: 2020/07/21
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
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BOWRING, SIR JOHN (1792-1872). Filho mais velho de Sarah Jane Ann Lane e de Charles Bowring, mercador unitário inglês, John Bowring torna-se também mercador, além de diplomata e escritor. Desde novo, enquanto funcionário de uma firma comercial, demonstra uma enorme aptidão para as línguas estrangeiras, dominando cerca de seis idiomas, entre os quais o português e o chinês, viajando frequentemente por razões comerciais, nomeadamente a Lisboa (1815). O diplomata é defensor do comércio livre, político Whig, amigo do ministro dos negócios estrangeiros inglês, George Villiers, e secretário pessoal de Jeremy Bentham, que conhecera em 1821, e que financia a sua Westminster Review e o recomenda, em termos profissionais, nesse mesmo ano, ao ministro português da Justiça. Após ter sofrido enormes prejuízos comerciais em 1847, em 1849 Bowring é nomeado cônsul inglês em Cantão por Lord Palmerston, tendo-se familiarizado rapidamente com as especificidades quer do China Trade quer da cultura chinesa, enquanto luta pelo alargamento dos direitos defendidos no Tratado dos Portos sino-britânico assinado após a primeira Guerra do Ópio. Com o início da revolta dos Taiping 太平, e face ao assassinato do governador João Maria Ferreira do Amaral, diversos portugueses emigram para Hong Kong, mas uma parte da comunidade inglesa refugia-se em Macau, onde o diplomata redige, provavelmente em 7 de Julho de 1849, no álbum do Conselheiro Lourenço Marques, o “Sonnet to Macao”. Em 1852, Sir Samuel George Bonham, ausenta-se de Hong Kong (1852-1853) e Bowring, aos sessenta e dois anos de idade, é nomeado ministro plenipotenciário, governador da colónia e superintendente do comércio inglês durante esse período, tendo sucedido oficialmente a Bonham dois anos depois, em Abril de 1854, após uma curta viagem a Inglaterra durante a qual recebe o título de Sir. Em Hong Kong, o português J. M. D’Almada e Castro é proposto para o cargo de secretário-geral do Secretariado Colonial, o que não acontece devido à oposição da comunidade inglesa em entregar um cargo tão importante a um residente não britânico. O governador planeia a construção de uma estrada ao longo da marginal do território, desde Navy Bay até Causeway Bay, projecto denominado “praia”, em honra da acção e influência dos portugueses no delta do rio das Pérolas, e, em 1854, é formado um grupo de 127 voluntários para defesa do território dos quais dezasseis são portugueses, o que demonstra a importância, empenho e estatuto da comunidade lusófona emigrada de Macau durante o período de formação da colónia britânica, nomeadamente durante a administração de Bowring. O diplomata demite-se em 1859 e volta a Inglaterra para casar, mais uma vez, aos sessenta e oito anos de idade e escrever sobre o Oriente. De acordo com alguns biógrafos do poeta, a cruz no topo da fachada das ruínas de São Paulo inspira os versos iniciais de um dos seus mais famosos hinos religiosos, que referem “a cruz de Cristo”. O escritor publica algumas das suas poesias na revista The Chinese Repository (Cantão, Outubro de 1851), a par de obras como “Some Account of the State of the Prisons in Spain and Portugal”, Pamphleteer, Londres, 1813, e The Kingdom and People of Siam (1853). Durante a sua estada em Hong Kong, Bowring visita várias vezes Macau, con¬tacta com a administração portuguesa e escreve sobre o pitoresco enclave, refúgio e casa oriental dos ingleses desde o século XVII até à fundação de Hong Kong. O diplomata-poeta redige ainda o já referido “Sonnet to Macao”, gravado numa lápide na Gruta de Camões em Macau, datado erroneamente de 30 de Julho de 1840, pois nesse ano Bowring ainda não tinha partido para o Extremo Oriente. Bibliografia: AAVV., Memoria dos Festejos Celebrados em Hong Kong por Occasião do Tricentenário do Principe dos Poetas Portuguezes Luiz de Camões, (Hong Kong, 1880); AA. VV., “Album da Gruta de Camões Copia Enviada à Sociedade de Geographia de Lisboa pelo Governo de Macau por Occasião de se Preparar a Reunião do Congresso Internacional dos Orientalistas em Lisboa (1892)”, in Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 12.ª série, n.°2, (Lisboa, 1893), pp. 81-100; BARTLE, G. F., “The Political Career of Sir John Bowring (1793-1872) between 1820 and 1849”, Dissertação de Mestrado, (Londres, 1959); BOWRING, John, in BOWRING, Lewin B. (ed.), Autobiographical Recollections of Sir John Bowring (Londres, 1877); BRAGA, J. M., Hong Kong and Macao: A Record of Good Fellowship, (Hong Kong, 1960); DYSON, Verne, “A Hong Kong Governor and his Famous Hymns”, in The Macao Review, vol. 2, n.° 2, (Macau, Agosto 1930), pp. 48 e 69; ENDACOTT, G. B., A History of Hong Kong, (Hong Kong, 1977); PUGA, Rogério Miguel, “Macau na Poesia Inglesa: Sir John Francis Davis; Sir John Bowring; W. H. Auden; Gerald H. Jollie e Alexandre Pinheiro Torres”, in AMARO, Ana Maria; MARTINS Dora (coords.), Estudos Sobre a China VII, vol. 2, (Lisboa, 2005), pp. 847-882; TEIXEIRA, Padre Manuel, A Gruta de Camões (Macau, 1999); YOUINGS, Joyce (ed.), Sir John Bowring 1792-1872: Aspects of his Life and Career, (Plymouth, 1993).
BOWRING, SIR JOHN (1792-1872)
CAMPOS, JOÃO FONSECA E (1735-?). A história de vida deste “reinol” chegado a Macau para ficar em meados do século XVIII, quase poderia animar um guião cinematográfico. Nascido em Oliveira do Conde por volta de 1735, João Fonseca e Campos começaria por optar pelo ingresso na Companhia de Jesus como irmão leigo, mas deixaria o convívio dos Jesuítas já em Macau para tentar a sorte no agitado mundo dos negócios mercantis. Um primeiro casamento estratégico abriu-lhe as portas de entrada no selectivo meio da grande burguesia comercial católica macaense. Assim, em 1760, o antigo irmão Jesuíta conseguiria matrimoniar-se com Mariana Leite Pereira, filha natural do muito poderoso comerciante e senador Manuel Leite Pereira. A partir de finais da década de 1760, descobre-se documentadamente João Fonseca e Campos a investir em várias viagens comerciais, regularmente associado a figuras de proa do mundo mercantil macaense epocal, como António José da Costa e Simão Vicente Rosa. Na década de 1770, mobiliza vários milhares de taéis de prata nos negócios comerciais animados por Macau, sobretudo com a Índia, acumulando fortuna considerável. Este poder económico começa a ganhar expressão política desde 1768 quando é eleito pela primeira vez almotacé camarário, depois vereador e, em 1774, juiz do Leal Senado. A sua biografia parece, porém, não o ter beneficiado nesta promoção política, porque se viu demitido do cobiçado cargo de juiz com acusação de “ter sido Jesuíta”. A complicada memória da expulsão dos Jesuítas de Macau ainda se encontrava excessivamente viva. O mesmo aconteceria no ano seguinte. Eleito para o importante e poderoso posto de provedor da Santa Casa da Misericórdia, João Fonseca e Campos acabaria por resignar ao fim de alguns meses, perseguido por esse passado de ligação à Companhia de Jesus, estranhamente caída em desgraça também no seio da irmandade que a Sociedade tinha ajudado a fundar ainda no século XVI. Um segundo casamento parece ter ajudado o nosso (por pouco tempo…) provedor e juiz. Casado segunda vez em 1770 com Maria Xavier da Cruz, João Fonseca e Campos conseguiu alargar alianças e movimentações no seio da “classe” mercantil de Macau. Ao mesmo tempo, as alianças matrimoniais e vocações religiosas da sua descendência também ajudaram. As suas duas filhas do primeiro casamento rumaram para o recato da clausura do mosteiro de Santa Mónica, em Goa. As outras duas filhas do segundo casamento, consolidaram alianças políticas e mercantis no seio da burguesia macaense. Uma primeira filha conseguiu casar-se em 1796 com um raro “reinol”, Manuel de Oliveira Reis, personagem rapidamente instalada na política e comércio do enclave. Uma filha segunda matrimoniou-se mais cedo, em 1790, com António Dias da Cunha, um outro reinol oriundo de Penafiel que chegaria a ser proprietário da escrivania do juízo dos órfãos e de dois navios, condições suficientes para acumular fortuna. Por fim, o único filho varão de João Fonseca e Campos, nascido em 1780 do seu segundo casamento, abraçaria com devoção a carreira religiosa que o seu pai não conseguira cumprir, chegando na viragem para o século XIX a cónego da Sé de Macau. Quanto a Fonseca e Campos, a sua agitada actividade deixa de documentar-se nos anos finais de Setecentos, desaparecendo a sua presença dos registos camarários e da Misericórdia, certamente testemunhando o fim da sua vida. Bibliografia: FORJAZ, Jorge, Famílias Macaenses, vol. I, (Macau, 1996), pp. 625-626; SOUSA, Ivo Carneiro de, A Outra Metade do Céu de Macau. Escravatura e Orfandade Femininas, Mercado Matrimonial e Elites Mercantis (séculos XVI-XVIII), (Macau, 2006); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. 7.
CAMPOS, JOÃO FONSECA E (1735-?)
AZEVEDO, MANUEL JOAQUIM BARRADAS DE (1746-1819). Nascido em Macau e baptizado na Sé, em 1746, Manuel Joaquim Barradas de Azevedo era neto de um “reinol” que, de seu nome Gaspar Barradas de Azevedo, conseguiu prosperar no início do século XVIII investindo nos tratos mercantis da cidade e, como sempre acontecia, chegando à vereação camarária e à mesa da Santa Casa da Misericórdia. A fortuna deste primeiro Barradas de Azevedo passaria para o seu filho varão Sebastião, mas seria consolidada e ampliada pelo seu activo neto Manuel Joaquim. À imagem do avô, cerzindo estreitamente poder económico e representação política, encontrámos Manuel de Azevedo a ocupar sucessivamente os cargos de almotacé camarário, em 1778, depois de alferes-mor, em 1792, chegando no ano seguinte à prestigiada posição de juiz ordinário do, nesta altura, ainda poderoso, Leal Senado. Em 1777, um estratégico casamento com Francisca Antónia Correia de Liger permite concretizar uma aliança fundamental com uma das mais poderosas dinastias políticas e comerciais da parte cristã do enclave. Ao lado do todo poderoso António Correia de Liger, muitas vezes vereador, procurador do Senado e provedor da Santa Casa, e do seu filho Filipe Correia de Liger, Manuel Barradas de Azevedo investe regularmente vários milhares de taéis de prata, sobretudo a partir de 1779, nos barcos e principais destinos comerciais animados por Macau: da Cochinchina a Surate, de Timor a Batávia. Acabaria por falecer na Sé, em 1819, mas deixando descendência que continuou a sua lucrativa actividade mercantil, mas já conveniente e estrategicamente baptizada com o poderoso apelido de Correia de Liger. Bibliografia: SOUSA, Ivo Carneiro de, A Outra Metade do Céu de Macau. Escravatura e Orfandade Femininas, Mercado Matrimonial e Elites Mercantis (Séculos XVI-XVIII), (Macau, 2006).
AZEVEDO, MANUEL JOAQUIM BARRADAS DE (1746-1819)
Nicolau Tolentino Fernandes faleceu em S. Lourenço a 17 de Janeiro de 1898. Nasceu em St. António a 10 de Setembro de 1823, irmão do Conde Bernardino de Senna Fernandes. Foi tipógrafo e proprietário da Tipografia Mercantil N. T. Fernandes.
Nicolau Tolentino Fernandes faleceu em S. Lourenço
Em José d’ Almeida Carvalho e Silva, mais conhecido e documentado apenas pelos seus dois primeiros nomes, visita-se uma espantosa história de vida debruçada sobre Macau e a fundação de Singapura. Nascido em Portugal, em 1784, formado em medicina, José d’Almeida chegou ao enclave macaense no princípio do século XIX, tendo conseguido algum destaque social na cidade: em 1810, era admitido como irmão da Misericórdia, em 1814, era eleito para uma das duas almotaçarias do Leal Senado – cargo não pago, mas prestigiante – sendo também um dos fundadores da nova Casa de Seguros de Macau, rendendo-lhe a sua acção singular, entre as 86 que fundaram a companhia, lucros importantes. Parou em Singapura em 1824 quando se dirigia para Macau, decidindo fixar-se na nova colónia britânica, correctamente convencido de que a sua posição estratégica poderia escorar bem sucedidos investimentos comerciais. Neste ano, José d’Almeida é premiado como um dos primeiros proprietários fundiários de Singapura, conseguindo arrematar o último lote de terrenos postos à venda na Beach Road. No final de 1824, a sua casa privada estava já construída, oferecendo mesmo a primeira missa católica celebrada em Singapura por um padre católico oriundo de Macau. A seguir, José d’Almeida abriu uma clínica pública na Raffles Place, mas acabaria por se tornar demoradamente comerciante quase por acaso. Na verdade, ainda neste ano, um cargueiro português e uma embarcação espanhola vinda de Manila foram obrigados pelas monções de nordeste a estacionar em Singapura, procurando os seus capitães vender localmente as suas cargas comerciais. Solicitaram a intermediação de José d’Almeida que, funcionando agora como agente comercial, conseguiu vender lucrativamente os produtos transportados pelos dois navios. Mobilizado por este sucesso, o nosso médico decide, logo em 1825, abrir a firma comercial José d’Almeida & Sons que se transformou imediatamente numa das mais importantes companhias de Singapura, intervindo activamente nos tratos da Índia e do Sudeste Asiático, mas mantendo também fortes ligações mercantis a Macau. A prosperidade económica permitiu a José d’Almeida especializar a sua casa como um dos principais espaços culturais frequentados pela nova burguesia capitalista local, sendo famosos e concorridos os saraus musicais em que o nosso médico e família tocavam e cantavam. Em 1836, Almeida aparece como um dos primeiros fundadores da “Singapore Agricultural and Horticultural Society”, dedicando-se a várias experiências de colonização agrícola pouco sucedidas. O nosso médico-comerciante tentou introduzir na colónia britânica algodão, açúcar, café e mesmo baunilha mas sem conseguir alcançar resultados económicos positivos. Em 1842, José d’Almeida visitou Portugal e, entre condecorações e comendas, acabaria nomeado no ano seguinte primeiro cônsul de Portugal nos “Estreitos”. Decisão que se mostraria fatal nas gerações seguintes para a sorte comercial da sua Companhia. Com efeito, herdada firma e consulado pelo seu filho Joaquim José de Almeida, a estreita associação entre as duas funções manteve-se como no tempo do patriarca familiar, entretanto falecido em Singapura, em 1850. O consulado funcionava nos escritórios da companhia e, pior ainda, mobilizava constantemente os seus capitais para apoiar a circulação oficial de portugueses que se dirigiam para Macau e Timor. Com muita frequência, a José d’Almeida & Sons – ou seria o consulado português? – financiava capitães, soldados e oficiais portugueses, sustentava fretes marítimos, pagava as correspondências e mobilizava mesmo capitais para aventuras perigosas como essas de investir na exploração de cobre e de ouro nas partes mais orientais de Timor Leste. Nesta altura, o cônsul dos “Estreitos” correspondia-se já em inglês com o governo de Lisboa, repetindo incessantemente apelos não escutados para que fossem resgatadas as dívidas muitas de um consulado que se ia ameaçando encerrar. O consulado ainda passaria para o neto de José d’Almeida, William Barrington d’ Almeida que, face às muitas dívidas e completo desinteresse das autoridades portuguesas, acabaria por afastar-se quase definitivamente da representação diplomática de Portugal em Singapura. A partir daqui, esta dinastia singaporense de Almeidas vai preferindo optar pela cidadania britânica, abraçando também o anglicanismo, tornando mais esparsos os contactos com Portugal, mas continuando a manter comunicações económicas e sociais interessadas com Macau, que William Barrington renovaria, em visita comercial realizada em 1862. Bibliografia: BLAKE, M.; EBERT-OEHLERS, A., Singapore Eurasians: Memories and Hopes, (Singapore, 1992); MULLINER, K., Historical Dictionary of Singapore, (Metuchen, NJ, 1991); TEIXEIRA, Padre Manuel, “A Missão Portuguesa – Legação de Portugal em Singapura”, in sep. do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau.
ALMEIDA, JOSÉ D’ (1784-1850)
Em 1696, Giovanni Francisco Gemelli Carreri (1651-1725), viajante italiano, regressa a Macau vindo de Pequim, para voltar à Itália (via México). Deixa impressões sobre a cidade de Macau e ilhas circundantes no seu relato Giro del Mondo, publicado em seis volumes entre 1699 e 1700. (Cfr. Jorge, Cecília e R. Beltrão Coelho em Viagem Por Macau. Comentários, Descrições e Relatos De Autores Estrangeiros (Séculos XVII a XIX). Ed. Livros do Oriente. Governo de Macau, Macau, 1997, pp. 10-11).
Giovanni Francisco Gemelli Carreri regressa a Macau
Vasco Calvo era um típico fidalgo-mercador português, talvez de origem genovesa e talvez com ligações à ilha da Madeira, que em 1519 partiu de Lisboa com destino à China, a bordo de uma nau pertencente ao almotacé-mór D. Nuno Manuel, comandada por seu irmão Diogo Calvo. Viviam-se então momentos entusiásticos nas relações luso-chinesas, pois os portugueses tinham constatado, depois de 1513, as extraordinárias possibilidades mercantis oferecidas pelo Celeste Império a todos aqueles que se aventurassem a viajar até ao litoral de Cantão. Desde esse ano, embarcações portuguesas rumavam regularmente às ilhas do estuário do rio das Pérolas, onde durante alguns meses efectuavam proveitosas trocas mercantis. E em 1517 desembarcara na grande cidade do sul da China a missão diplomática chefiada por Tomé Pires, que aguardava ainda um prometido encontro com o imperador Zheng De 正德 [r.1503- 1521]. O navio de Diogo Calvo atingiu Tamão em meados de 1520, após uma viagem relativamente rápida para os padrões da época. Tal como anteriormente tinham feito outros compatriotas, os irmãos Calvo subiram o rio até Cantão. Em meados de 1521, após a conclusão dos habituais negócios, o navio de Diogo Calvo preparava-se para largar de Tamão com destino a Malaca, juntamente com outras embarcações portuguesas que na altura se encontravam no mesmo ancoradouro. Mas precisamente nessa altura chegou a Cantão a notícia do recente falecimento do imperador chinês. Cumprindo uma tradição relacionada com o luto imperial, um édito oriundo de Pequim impunha a partida imediata de todos os estrangeiros que então se encontrassem em território chinês. Aparentemente, alguns dos portugueses que se encontravam nas ilhas do litoral recusaram-se a cumprir a ordem emitida pelos mandarins chineses, circunstância que deu início a um período de violentos confrontos entre a armada chinesa de protecção marítima e os navios portugueses ancorados em Tamão, que, como era então habitual, estavam armados de poderosa artilharia. Enquanto se davam estes confrontos, alguns dos homens do navio de Diogo Calvo, e entre eles Vasco Calvo, que se encontravam na cidade de Cantão, foram aprisionados pelas autoridades chinesas. De acordo com documentos posteriores, apenas escaparam a uma imediata execução por terem declarado que faziam parte da comitiva do embaixador Tomé Pires, que entretanto seguira para Pequim. O enorme respeito dos mandarins chineses pelas missões tributárias estrangeiras dá algum crédito a esta versão das fontes portuguesas coetâneas. Enquanto a nau de Diogo Calvo conseguia escapar à armada chinesa, vários outros navios portugueses foram capturados, sendo as respectivas tripulações quase integralmente chacinadas. Na sequência destes trágicos acontecimentos, os portugueses seriam formalmente proibidos de visitar as ilhas da Baía de Cantão durante mais de uma década. Encerrava-se assim o primeiro momento do relacionamento luso-chinês, que se iniciara de forma muito auspiciosa em 1513, mas que fora violentamente interrompido em virtude do desrespeito demonstrado pelos portugueses perante imposições das autoridades cantonenses. Entretanto, em finais de Setembro de 1521 chegava a Cantão, depois de uma infrutífera viagem a Pequim, a embaixada de Tomé Pires, que foi algo de uma recepção pouco amistosa por parte das autoridades chinesas. Mas os seus membros apenas seriam aprisionados um ano mais tarde, na sequência de demorados e rigorosos inquéritos às acções e intenções portuguesas levados a cabo pela corte pequinense. Os prisioneiros portugueses de Cantão viriam a desaparecer nos anos seguintes, a pouco e pouco, vítimas de abusos, de privações e de maus tratos nos cárceres da cidade. Vasco Calvo ainda vivia em 1536, altura em que subscreveu uma longa carta que conseguiu fazer chegar às mãos de portugueses que entretanto tinham de novo regressado ao litoral chinês. Nesse documento, o autor registava detalhadas informações sobre as realidades chinesas que tivera oportunidade de observar em primeira mão, traçando um quadro extremamente elogioso das grandezas políticas, económicas e sociais da China. Complementarmente, fornecia minuciosos planos para uma possível conquista portuguesa do sul da China; segundo afirmava, “no mundo não se achará terra de riqueza e para submeter debaixo de poder como esta”. A desvalorização que fazia do poderio militar chinês poderia ter ficado a dever-se às deficientes condições em que efectuou as suas observações. Fazia ainda referência a um curioso tratado de geografia chinês que teria conseguido obter, e que era capaz de ler, uma vez que durante o seu cativeiro tinha tido ocasião de aprender rudimentos da língua chinesa falada e escrita. Assim, talvez lhe caiba o mérito de ter sido o primeiro sinólogo português. A carta de Vasco Calvo e o livro chinês que obtivera foram enviados para Portugal, onde chegaram às mãos do cronista João de Barros, que lhes deu o devido uso na elaboração da sua Década 3, que então preparava para os prelos (Lisboa, 1563). Vasco Calvo desapareceu em altura incerta nas prisões de Cantão, em data que não deveria ter sido muito posterior a 1536. Bibliografia: LOUREIRO, Rui Manuel, Cartas dos Cativos de Cantão: Cristóvão Vieira e Diogo Calvo, (Macau, 1992).
CALVO, VASCO (?-?)
AZEVEDO, JORGE PEREIRA DE (?-?). Soldado, capitão e comerciante português que viveu no século XVII. Pouco se sabe dele. No entanto, deixou um manuscrito sobre o relato das suas viagens pelo Oriente, encontrando-se uma das cópias na Biblioteca da Ajuda, com o título Advertência de muita Importância há Magestosa Coroa del Rey N. Sor D. João V e Apresentadas ao Conselho de Estado da Índia na Mão do V Rey D. Filipe por Jorge Pereira(?) de Azevedo, Morador na China em 1646 (cód. 54-XI-21-9). No referido documento fornece uma visão geral do império português do Oriente, por onde passou, realizando em simultâneo uma análise crítica sobre a decadência do mesmo, sugerindo diversas maneiras de ultrapassar a crise utilizando os recursos existentes. Refere que o Estado da Índia se encontrava completamente miserável e era pouco evangelizado, indicando que a Coroa portuguesa corria sérios riscos de o perder. Na sua opinião, havia uma má gestão do mesmo. Começa o texto destacando que teve uma experiência de vinte e quatro anos na Índia, servindo como militar, mas ao mesmo tempo como comerciante, referindo ser prática na época. Fundamenta as advertências que faz ao rei D. João V através da experiência adquirida nas zonas em análise, como militar, mas essencialmente como comerciante. O relato das suas viagens começa em Moçambique, onde afirma ter conhecido a zona dos rios Cuama, e as cidades de Mombaça e Melinde. Ao longo do texto vai indicando nomes de capitães, como o de Nuno Álvares Botelho, capitão do navio onde viajou, atravessando o estreito de Mascate e aportando a Diu. Percorreu também a área de Samatra, dizendo que foi através dos holandeses que visitou Jacarta. No entanto, diz concretamente que até à data da redacção do documento não tinha estado no Bornéu, Macassar, Solor e Timor. Indica que a época mais próspera para a gente lusa no Oriente foi quando se deslocavam por ano nove naus com cerca de quinhentos a mil homens. Relativamente a Macau, a que dedicou uma parte do manuscrito, visitou-a por volta de 1643, referindo haver um número muito elevado de mulheres cristianizadas. Considera que a viagem do trato ao Japão já não era suficiente, devido ao crescimento excessivo da cidade. No texto vai tomando em consideração várias hipóteses de como Macau se recuperar devido à perda do comércio com o Japão e a tomada de Malaca pelos holandeses, sugestões baseadas em rotas comerciais alternativas dentro da zona. Todo o texto está escrito de forma fluente e, aparentemente, com conhecimento directo dos lugares indicados. Bibliografia: MATOS, Artur Teodoro de (ed.), “‘Advertências’ e ‘Queixumes’ de Jorge Pinto de Azevedo a D. João IV, em 1646”, in Povos e Culturas, n.° 5, (Lisboa, 1996), pp.431-545.
AZEVEDO, JORGE PEREIRA DE (?-?)
Alexandrino António de Melo faleceu em Marselha, França, a 21 de Maio de 1877. Da terceira geração da família macaense 'Melo' de Macau, nasceu em Macau cerca de 1809, filho de António Gotero de Melo, que deve ter ido para Macau nos finais do Século XVIII. Alexandrino António de Melo é grande comerciante, proprietário e um dos 40 maiores contribuintes de Macau. Almotacé da Câmara de Macau eleito em 1840, membro do Conselho da Província (1872), procurador do Governo de Timor (1873), e cônsul do Brasil em Macau. Fundou por sua iniciativa a «Nova Escola Macaense» (1862), cujos fundos depois reverteram para a «Associação Promotora da Instrução dos Macaenses» de que ele foi também um dos fundadores em 1871. Foi ainda sócio fundador e um dos primeiros directores da «Hong Kong, Canton &Macao Steamboat Company». Barão do Cercal por decreto de 11.5.1851, e Visconde do Cercal por carta de 5.4.1867. Mandou edificar para sua residência a casa da Praia Grande (hoje Palácio do Governo) e foi também proprietário da Quinta de Santa Sancha (hoje residência oficial do Governador de Macau).
Alexandrino António de Melo faleceu em Marselha
Personagem: | Ho, Stanley, 1921-2020 |
Hotung, Robert, 1862-1956 | |
Tempo: | Época da República entre 1911 e 1949 |
12/1941 | |
Palavra-chave: | Comerciante |
Fonte: | Silva, Beatriz Basto da, Cronologia da História de Macau, Vol. III, Livro do Oriente, 2015, p. 268, ISBN 9789996575006 |
Idioma: | Português |
Identificador: | t0007553 |
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