A primeira Igreja Matriz de Macau, actual Igreja de S. Lázaro, foi edificada nos anos que se seguiram à chegada e estabelecimento dos Portugueses numa pequena aldeia de pescadores, no Sul da China. Parece datar dos anos de 1558 a 1560 a construção da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, que mais tarde passou a chamar-se de S. Lázaro, por ser, de início, uma simples ermida do lazareto que ali foi fundado por D. Melchior Carneiro. O primeiro edifício era, por isso, muito diferente do actual. Pequeno, pobre, de construção simples e rústica. Foi so frendo, depois, as necessárias obras de conservação e renovação, a par de bastantes modificações. As principais alterações deram-se quando a Diocese de Macau foi criada pela bula de Gregório XIII, de 23 de Janeiro de 1576. Assim, aquela igreja foi a primeira Sé Catedral de Macau. Apenas em 1623 a catedral passou para a nova Igreja da Sé, construída no mesmo sítio onde ainda hoje se encontra. Na igreja matriz de Nossa Senhora da Esperança não só eram celebrados os actos de culto mais solenes, como os novos bispos, quando chegados a Macau, aí oficiavam pela primeira vez para seguirem processionalmente para a Sé Catedral, a fim de tomarem posse da sua diocese. A igreja servia também de cemitério e o adro era a continuação do cemitério interior. Ali se enterravam, entre outros, “os padecentes por Justiça, após o sermão e ofícios na capela do Leal Senado”. Só em 1633 foi convertida em igreja paroquial, porque “as outras paróquias estavam sobrecarregadas com o grande número de almas a seu cuidado”, como escrevia o italiano Marco d’Avalo, em 1638. Até então, a povoação de S. Lázaro fazia parte da freguesia da Sé e, por isso, a Igreja era propriedade da Santa Casa da Misericórdia, que mais tarde a cedeu, gratuitamente, à autoridade eclesiástica da Diocese de Macau. Justificava-se essa separação porque o crescimento da cristandade macaense levou muitos católicos chineses a fixarem-se à volta da Igreja, aí começando a construir algumas habitações. No seu livro, An Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China, o historiador sueco Andrew Ljungstedt escreveu o seguinte: “Passando as portas de S. Lázaro, temos à esquerda um renque de humildes choupanas, de mistura com algumas casas de melhor aparência, colocadas à beira da rua que conduz à Ermida de Nossa Senhora da Esperança. As primeiras habitações ali construídas foram ocupadas pelos novos cristãos, que um frade agostinho espanhol congregou, em 1809. Um grupo de trezentos ou quatrocentos chineses, ao tornarem-se cristãos, desafiaram as leis proibitivas do país e, ao habitarem conjuntamente, provocaram o espírito de perseguição. Os acólitos dos Mandarins cercaram-nos em 1814. Alguns foram conduzidos à presença do juíz deles, outros foram dispersos”. Com esta dispersão, e porque a zona se situava fora das muralhas da cidade, a ocupação dos terrenos, onde existiam hortas e arrozais, incluindo a fértil planície do Tapsiac, não se fez com mais rapidez por haver grandes dificuldades em construir casas face às restrições que eram impostas aos habitantes de Macau. Apesar de todas essas contrariedades, a povoação foi crescendo a pouco e pouco, e já em 1818 eram 98 as casas de cristãos que rodeavam a igreja, embora pobres, como pobres eram também os seus moradores. [J.S.M.] Bibliografia: LJUNGSTEDT, Anders, Um Esboço Histórico dos Estabelecimentos dos Portugueses e da Igreja Católica Romana e das Missões na China, (Macau, 1999).
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