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Data de atualização: 2020/09/03
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Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
Data de atualização: 2020/09/03
De acordo com o Dicionário de Morais, a palavra tufão vem do chinês tai fung dafeng 大風 (grande vento), sendo a designação chinesa dos ciclones tropicais que ocorrem nas regiões ocidentais do Oceano Pacífico. O dicionário dá ainda o exemplo tirado da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (cap. 50, 66), “que aqui neste clima vem muitas vezes tão tempestuosa (a lua nova) de ventos e chuvas, que não há navio que a possa guardar, à qual tormenta os Chins chamam tufão”. Contudo, a filóloga Graciete Batalha, no Glossário do Dialecto Macaense, cita algumas fontes que afirmam que a palavra não vem do chinês tai fông (dafeng 大風), grande vento, ou mesmo tá fông (dafeng 打風), bater vento, mas antes propõem uma origem árabe, a partir de tufan, ou grega, proveniente de tuphon/typhon, com o mesmo significado. De qual quer modo, o fenómeno meteorológico conhecido por tufão, no mar da China e no Pacífico Ocidental, e por ciclone, no Oceano Índico ou furacão no Atlântico e Pacífico Oriental, foi várias vezes uma condicionante importante da evolução histórica de Macau, quer devido à sua regularidade e frequência (é um fenómeno que passa em média duas vezes por ano, a menos de 100 milhas do território, regra geral entre Julho e Setembro) quer pelo efeito da destruição causada no seu percurso. O tufão está presente em duas das lendas ligadas à fundação mítica do Território. Na primeira destas, uma rapariga, à custa de chorosas súplicas, consegue embarcar num porto da província de Fujian 福建 e, viajando num barco repleto de carga e com a lotação esgotada, depara-se com uma dessas temíveis tempestades. Gera-se o pânico a bordo, mas a rapariga, alojada na proa do navio, pede ao capitão que não tema e continue a viagem. Ele assim faz e, em breve, ao contornar um promontório, encontra abrigo perto da costa, junto ao lugar onde seria Macau. Quando desembarcam, os outros passageiros verificam que a rapariga desaparecera. Ao procurarem-na, encontram uma deusa que reconhecem como sendo Nèong Má (Niangma 娘媽), uma personificação da deusa Tien Hau (Tianhou 天后), a ‘rainha do Céu’, também conhecida familiarmente como A-Má (Ama 阿媽) e da qual derivaria o nome Macau. Em sua honra foi edificado um dos dois templos mais antigos de Macau, onde regularmente a população chinesa vai solicitar a sua protecção contra semelhantes desastres naturais. A outra história da fundação de Macau está ligada ao estabelecimento dos portugueses. Segundo conta Montalto de Jesus em Macau Histórico, a crónica de Heangshan (Xiangshan 香山) pretende que, em 1553, chegaram a Macau alguns navios estrangeiros cujos capitães alegaram que, durante um tufão, artigos que eles traziam como tributo tinham sido molhados pela água do mar. Pediam então autorização para os secar em terra, ao que o hai-tao (haidao 海道) assentiu. Nessa altura, foram só levantadas barracas de esteira, mas os mercadores, seduzidos pela expectativa do lucro, construíram casas sub-repticiamente. Desta forma, obtiveram uma admissão ilícita do império, levando a que os estrangeiros se instalassem em Macau. No entanto, apesar destas lendas e outras descrições esporádicas do fenómeno que ocorre ciclicamente nesta zona do globo, só a partir do século XVIII, e de forma consistente no século XIX, se passou a fazer a anotação sistemática da ocorrência dos tufões. É assim que se conhece o relato daquele que é considerado o maior e mais devastador de todos os atravessaram Macau, facto ocorrido na noite de 22 para 23 de Setembro de 1874. Durante a passagem do tufão, perderam a vida perto de 4 mil pessoas. No relatório elaborado poucos dias depois pelo Secretário do Governo, publicado no Boletim oficial n.º 44, está assinalado o momento crítico da tragédia, quando o vento rodou inesperadamente de Norte para Este. Tal alteração foi seguida de rajadas de indescritível violência, que tudo arrasaram e destruíram: as portas dos edifícios da Praia Grande foram arrombadas e o mar levantou-se de tal forma que invadiu os andares superiores do bairro, desmoronando prédios, um após outro, com tal fragor que parecia escutarem-se autênticos trovões. A violência da tempestade, seguida dos estragos incalculáveis que a todo o momento se observavam, dava a impressão de querer reduzir a cidade à sua expressão mais simples, eliminando-a da superfície da terra. Foram destruídos, para sempre, um grande número de aldeias marítimas e milhares de embarcações, incluindo dois navios de guerra (o Príncipe D. Carlos e o Camões) e outros de grande porte, que foram encalhar a grande distância. No ano seguinte, durante a noite de 31 de Maio para 1 de Junho, como se pode ler nos Boletins Oficiais n.ºs. 23 e 25, novo violento tufão arrasaria a cidade. Digno de nota é, já no século XX, o tufão de 18 de Agosto de 1923, em que se perderam inúmeras vidas, entre as quais as vítimas de um barco de Seak Kei (Shiqi 石岐) que naufragou a caminho de Macau. Dos seus 400 passageiros só se salvaram 120. O referido tufão causou avultados estragos, que incluíram duas centenas de prédios, a perda de dezenas de embarcações e lanchas no Porto Interior, bem como da draga Peking, no Porto Exterior. Com o decorrer do tempo, a maior resistência das construções e o apuramento das previsões meteorológicas conseguiram reduzir os estragos e perdas de vidas humanas. Nos últimos anos do século XX, a evolução dos meios de comunicação permitiu que hoje, antes da chegada de qualquer tufão, toda a população seja avisada de modo a que se pare toda a actividade nas ruas da cidade nos momentos de maior intensidade das chuvas e do vento. Tamanhos desastres produziram inevitáveis círculos de ruína e de riqueza que entrariam no folclore popular. De entre algumas dessas memórias que foram recolhidas, destaque-se a que se refere ao tufão de 1874, relatada por Augusto Nolasco. Trata-se da história de um casal idoso muito rico, surpreendido pelo ciclone dentro da sua casa, que se desfazia com o vento. Conseguiram fugir com alguns dos seus haveres, mas depois de andarem perdidos na cidade, acabaram por ser roubados por um bando de piratas, que à falta de melhor furtaram até os dentes de ouro do velhote. Acabariam os dois na pobreza, indo passar o resto dos seus dias na Santa Casa. Outra história ligada aos tufões, mas com um final diferente, é a do Desastroso Tufão de Sete da Sétima Lua, descrito por Luís Gonzaga Gomes. Escrevendo em 1941, menciona algo que qualquer velho chinês de Macau da época trazia sempre vivo na lembrança: um terrível ciclo de sete anos, em que não passou um único Outono sem que esta cidade, de existência tão acidentada, não fosse atormentada por um violento temporal. Durante um desses tufões, ocorrido aquando da celebração da Festividade das Sete Irmãs que comemora a 7 da Sétima Lua, um homem de nome Mâk, que tinha manhas de conhecer a ciência dos fenómenos atmosféricos salvou um rico emigrante da morte e da ruína ao predizer a chegada de uma inesperada tempestade. Note-se que de tal forma o fenómeno é recorrente que se tornou parte integrante da metáfora da própria comunidade macaense. Como Silva Rego escreve em 1947, Macau, semelhante ao bambu chinês, soube dobrar-se às inclemências do tempo, à espera que o tufão passasse e o deixasse erguer de novo a sua elegante haste para o céu. A metáfora, que acentua as características de instabilidade vividas pela população, seria recuperada anos depois no importante estudo sobre as dinâmicas da etnicidade macaense, Em Terra de Tufões, de Pina Cabral e Nelson Lourenço, publicado pelo ICM em 1993. [P.A.M.C.] Bibliografia: AMARO, Ana Maria, “Uma História do Tufão de 1874”, in MacaU, n.º 58, (Macau, Fevereiro 1997); PINTO, Ricardo, “A Ira do Tempo”, MacaU, n.º 29, (Macau, Setembro 1994); SILVA, Beatriz Basto da, Cronologia da História de Macau, 5 vols., (Macau, 1992-1998).
TUFÃO
Na noite de 31 de Maio para 1 de Junho de 1875 passa em Macau mais um grande tufão que merece referência no B.O. n.º 23. A publicação oficial volta a mencionar este tufão e o de 22 de Setembro passado, de que faz relatórios, no seu N°. 25. O tufão de 31 de Maio causou vários prejuízos. A lancha Sérgio foi de encontro a uma pedra, arrombando-se; na povoação da Taipa perderam-se 70 barcos; dos 600 barcos acostados, estima-se que só 20% saíram ilesos; 50 casas ficaram arruinadas e houve alguns mortos. Em Coloane e “Laichivan” ficaram arruinadas 10 casas pequenas, 6 lorchas quebradas; não houve mortos aqui. Foram distribuídas 10 mil sapecas aos pobres. Notícias, no Boletim Provincial de Macau e Timor, n.º 23, de novo tufão a 31 de Maio (de 1875), quase tão horrível como o de Setembro de 1874. 'Habitantes de Macau, acaba esta cidade de sofrer novamente uma grande desgraça! O tufão da noite de 31 de maio último, quase tão horroroso como o da noite de 22 para 23 de setembro do ano passado, tem assolado de novo Macau, que estava prestes a levantar-se do abatimento em que parecia jazer. Insondáveis designios de Deus que devemos respeitar! Não percamos porém o nosso animo que n'esta difícil conjunctura mais só nos faz preciso. Unamo-nos pois o trabalhemos para que d'algum modo se consiga, com o auxílio Divino, reconquistar o perdido e preparar para um melhor futuro, mas lembrai-vos que isto só se consegue pelo trabalho aturado o melhor emprego dos recursos de que cada um passa dispor. Macaenses! Como austeridade velarei pela vossa segurança, no cumprimento do meu dever vos prestarei o maior auxílio que eu possa e de mim depender. Como vosso amigo, lamento os gerais infortunios e convosco partilhei os horrores do calamitoso acontecimento, que como é notório, esteve a ponto de me deixar sem a família. O Conselheiro Governador da província, José Maria Lobo d'Ávila.'
Mais um grande tufão
Na sequência do tufão de 22/23 de Setembro de 1874, os Boletins de Macau e Timor vão, e o 1.º é o n.º 39, de 26 deste mês, fazendo eco imediato não só sobre os estragos como sobre as providências a tomar. Conservam-se firmes apenas dois edifícios, mais recentes: o Hospital Militar de S. Januário [V. nesta Cronologia…,1874, Janeiro, 6] e o Quartel dos Mouros. O Visconde de S. Januário era então Governador e dirigiu a Macau palavras de ânimo; na mesma ocasião expediu ordens aos serviços competentes para reconstruir, reforçando verbas e determinando a colaboração das forças militares e policiais, também com pré reforçado. Pediu ainda ajuda à população voluntária, por serem todos necessários. São também grandes os estragos causados na Taipa e Coloane. O relatório dos mesmos, publicado no B.O. n.º 44, conduz a providências posteriores, mencionadas em Janeiro de 1875. O poder destrutivo deste tufão impressionou o académico francês Léon Rousset, que a ele assistiu; e de tal modo que, regressado a França, apresenta na “Societé de Geographie” (1878) aquilo que presenciou sobre a força da natureza e o resultado desolador em que deixou Macau. (V. nesta Cronologia…, 1848). • Os efeitos deste infelizmente memorável tufão nas Ilhas foram descritos pelo Comandante Militar da Taipa e Coloane, Tenente José dos Santos Vaquinhas, ao Secretário do Governo, no ofício n.º 39. Diz ele aí, em resumo, que no dia 26, desde as 7.30 até às 20 horas fez queimar e enterrar os cadáveres das duas povoações. Eram cerca de 1.000 vítimas na Taipa e 400 em Coloane, embora o número inclua os náufragos de 300 embarcações perdidas. Estes números foram corrigidos nos dias seguintes com a notícia de mais baixas. As povoações ficaram completamente “abatidas”, o que não espanta, sobretudo se pensarmos no material precário de que eram feitas as barracas. Ruínas por toda a parte, mesmo no cais, na rampa de desembarque, nos muros do Quartel, reduzidos aos alicerces. Só o novo edifício mandado construir recentemente pelo Governador é que precisa apenas de pequenas reparações. O Tenente Vaquinhas louva o zelo e espírito de serviço do Sargento Tassara, do Sargento Martins e das praças do Batalhão de Infantaria em serviço no Corpo da Polícia destacado nas Ilhas.
Tufão de 22/23 de Setembro de 1874
No dia 12 de Julho de 1883, grande tufão assolou a cidade de Macau, danificando muito o edifício que tem servido de quartel ao destacamento da Taipa.
Grande tufão assolou a cidade de Macau
No dia 5 de Setembro de 1738, violento e horrível tufão que, pelos estragos e desastres causados, devia ser o maior que Macau jamais experimentou. Muitas casas ficaram destelhadas e bastante arrasadas. A Praia Grande, o campo de S. Francisco e todo o Bazar ficaram alagados, podendose marcar a altura da inundação no frontispício da igreja de S. Domingos. Sem falar das embarcações chinesas que, em número incalculável, se desfizeram pelas praias, todos os navios que se encontravam no porto - 10 ou 12 - foram encalhar em vários pontos da Lapa e de Macau, quebrando-se alguns inteiramente, como sucedeu ao Bleque Boy, em Ponta da Rede, e ao Corsário, em Oitem (Lapa).
Violento e horrível tufão
Tempo: | Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 |
1962 | |
Palavra-chave: | Tufão |
傘 | |
Mulher |
Fotografia: | Lei Iok Tim |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.º MNL.01.01.069.F |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
Preto e branco | |
Formato das informações digitais: | TIF, 2000x1386, 7.93MB |
Identificador: | p0004078 |
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