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Data de atualização: 2020/09/04
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
Em Macau, o povo chinês local foi sempre conservador das suas tradições e a sua vida prende-se a uma série de narrativas mitológicas. É excessiva a sua devoção a estátuas e relíquias, é enorme a multiplicação dos deuses, bem como a observância de muitas superstições do Taoísmo. Esta incógnitado “Além” leva-o a implorar, através de actos simbólicos, às suas diferentes divindades, depondo toda a sua fé e executando diversos rituais, muitos deles de carácter corporal e recreativo, terminando com a queima de panchões para afugentar todas as manifestações dos espíritos malignos que lhe torturam a vida e lhe acarretam a desgraça. Crespo (1987) refere que actividades recreativas como o canto, a dança, os jogos, a luta, etc., fazem parte desta rede mítica, porque o homem ao vivê-la dá à sua existência e ao próprio universo uma justificação particular, desempenhando desta forma um papel destacado a nível das representações da vida e do mundo. É o mito em acção, justificando os ritos e as cerimónias destas celebrações. Algumas delas são bem conhecidas e universalmente celebradas por toda a China, tais como a do “Sân Nin (Xinnian 新年)”, do “Tchoi-Long (Zuilong 醉龍)”, do “Long-Chau (Longzhou 龍舟)” ou ainda do“Tang Tchit (Dengjie 燈節)”; outras, têm carácter regional e específico da gente do mar, como as celebrações dedicadas às divindades “Néong Má (Niangma 娘媽)”, patrona dos mareantes, “Tou Tei (Tudi土地)”, o Espíritodo Solo, guardião celeste das localidades e “Kuan Tai (Guandi 關帝)” o deus da guerra, patrono da literatura e dos comerciantes (Amaro, 1983), sendo pouco conhecidas em outros meios. Estas celebrações são actos repletos de movimento, cor, ruído e fumo. Há “danças do leão” (“mou si” [wushi 舞獅]), “danças do dragão” (“mou lông” [wulong舞龍]), representações de ópera chinesa, cortejos e laboriosos trabalhos de artesanato, à base do recorte do papel – compondo figuras divinas, demoníacas ou barcos de papel –, destinados a serem queimados “[…]pois o pescador de Macau regula as suas actividades em harmonia com o mundo invisível omnipresente, povoado pelas forças dos espíritos – uns benéficos “San (Shen 神)”, outros nefastos“Kwai (Gui 鬼)” – pelos poderes dos antepassados “Chou Sin (Zuxian祖先 )”e pela influência da geomância “Fong Soi (Feng Shui 風水)”, numa reactualização periódica”, qual reintegração no tempo original esagrado, na procura do reencontro com o “illud tempus” mítico que Eliade tantas vezes aludiu. De entre as festividades mais populares em Macau, iniciemos com o“Sân Nin (Xinnian 新年)” (Ano Novo Chinês), um dos festivais mais importante do ano, com o porto abarrotado com centenas de barcos de pesca, encostados uns aos outros em filas cerradas. As embarcações e seus altares são decorados com papéis vermelhos (cor de muito bom augúrio, pois traz a felicidade e a alegria), sob o olhar atento do deus “Tai Si Wong” que, de expressão temível para manter a ordem entre espíritos à solta, tudo regista para mais tarde, quando queimado no fim das festividades, partir em fumo para o céu, onde tudo contará ao Imperador de Jade, Iôk Wong (Yuhuang 玉皇) (Peixoto & Oleiro, 1992). No último dia da décima-segunda Lua do Calendário Chinês começa esta celebração, centrada na reunião da família. É tempo também de rever amigos, trocar novidades, arranjar casamentos, conviver e divertir. Mas, primeiro há que apaziguar os deuses e venerar os antepassados. Os templos de Ma-Koc (Mage Miao 媽閣廟), Kun-Iam (Guanyin Tang 觀音堂) e Lin-Fong (Lianfeng Miao 蓮峰廟) enchem-se decrentes, gentes sem distinções, pessoas de todos os quadrantes sociais, que ao som do “Kung Hei Fat Choi (Gongxi Facai 恭喜發財)” (Feliz Ano Novo), tentam colocar os seus pivetes no altar. Cá fora, os mais novos, munidos dos seus brinquedos, à base de “ventoinhas de papel”, são incitados a longas correrias, esperando que, desta forma, a família alcance a boa sorte que acrença associa à rotação da ventoinha. É uma festa de acção degraças, aos favores da mãe Natureza (Gomes,1979). Após a refeição da união, é hora de ir à terra apreciar a feira das flores ou ficar a jogar ao “t’âu-pôu (toubao 骰寶)”, conhecido pelos portugueses como o clu-clu. Depois, assistir ao fogo de artifício, lançar panchões, (qual sacudidela aos azares e mau agoiro que venha prejudicar o ano que começa) e extasiar-se com a sempre esperada “dança do dragão” são quase uma obrigação. Assistir a esta dança, é manter o seu quê de enigmático que deixa os presentes estupefactos e lhes renova o entusiasmo, na variada evolução coreográfica do monstruoso ser lutando pela conquistado satélite terrestre que lhe foge na frente e escapa aos golpes que são desferidos, até se deixar abater pela fadiga de intensa e inglória refrega. Aí, envolvido no ritmo lento ou rápido, nervoso ou calmo do“ku (Gu 鼓)” (tambor) e apreciando a coordenação e resistência de dezenas de acrobatas que transportam o dragão, sente desabar sobre o seu espírito a riqueza de uma tradição que é forçoso perpetuar porque testemunhaumaherança cultural de muitas gerações. Trata-se, pois, de uma dança de profundo simbolismo, com origem num ritual de súplica às divindades para melhor orientação das forças da Natureza. É que o dragão, ao contrário do mundo ocidental, é dos símbolos mais lendários e significativos das tradições chinesas, encarnando a força, a benevolência e a fecundidade. Outro dos rituais também sempre presente é a “dança do leão”, bailado sagrado e profundo, no seu significado simbólico, e pleno de técnica e arte, no seu conjunto plástico, executado“[…]com meticulosa atenção aos pormenores, com o fim de assegurar a eficiência do rito”. Dançado há mais de dois mil anos como poderoso afugentador de maus espíritos fomentadores de calamidades, é também realizado em homenagem às divindades em festa. Presentemente, no seu o caso, o sagrado tornou-se quase profano e diluiu-se no acto social que é o espectáculo folclórico, mas no qual a máscara, oritmo marcante, a simetria do movimento, a habilidade e precisão do par dançarino nos obstáculos (vasos, réguas de bambu, plataformas) ainda fazem os espectadores entrar no âmago do mito e usufruir sentimentos de emoçãoe êxtase com as evoluções e o significado que delas se desprende, sobressaindo a estridência do “tong ló” (tongluo 銅鑼) (tam-tam), dos “tong put” (tongbo 銅鈸) (pratos grandes), do “kengló” (jingluo 京鑼) e dos “keng ku” (jinggu 京鼓) (pratos mais pequenos de timbre diferente). Acresce referir que, nas suas evoluções, os dançarinos-ginastas procuram não só imitar as contracções físicas de um leão, perante uma presa cobiçada, mas também traduzir os seus diversos estados e motivos. “Cada movimento tem ritmo e harmonia e cada evolução tem o seu significado, que, embora estando de acordo com o respectivo movimento, o ultrapassa. É nesta medida que a relação simbólica que exprime a dança do leão, é, também, uma relação subjectiva”. O fim da celebração do Ano Novo Chinês é assinalado com a festividade do Tâng Tchit (Dengjie燈節) (festa das lanternas). Novos e velhos passeiam pela cidade e pelas praias com lindas lanternas [“tâng long (Denglong 燈籠)”] iluminadas no interior, criando um efeito visual único. Este passeio está associado à ânsia de atrair para si a prosperidade e longevidade. A festividade do “tchoi – long (zuilong 醉龍)” (dragão embriagado), é organizada pelos comerciantes de peixe. No oitavo dia do quarto mês lunar, um cortejo só de homens, ligados à apanha e comércio do pescado, desfila pela zonas ribeirinhas de Macau e Coloane, em punhando cabeças e caudas de dragão, e, numa dança frenética, vão consumindo vinho de arroz. Esta dança ébria é dramática, colorida, intensa, e assustadora: rebentam panchões, furam-se tambores e os maus espíritos são atacados vigorosamente por homens que esgrimem armas de “Kung Fu (Gongfu 功夫)”. Por entre uma névoa de fumo e de água pulverizada, pois o dragão é marinho, são agitadas, em dança ritual, as cabeças e as caudas empunhadas pelos participantes, em busca do corpo desaparecido, que em momento de crise havia sido imolado para que o sangue misturado com a água do rio salvasse a população ribeirinha assolada por terrível doença. As grandes quantidades de vinho de arroz consumidas evocam a água do rio, temperada com o sangue do dragão sacrificado. Nesta dança, o homem transcende-se e entra no irreal, sente-se realizado e embriagado pelo mundo mágico, razão pela qual o desempenho corporal é cada vez mais intenso e multiforme na procura de maior êxtase, pois assim mais perto se estará do inatingível. A festividade do “long-chau (Longzhou 龍舟)” (barco-dragão), celebrada no quinto dia do quinto mês lunar, cumpre uma tradição secular que remonta a uma das épocas mais conturbadas da China, o Período dos Estados Guerreiros (480-221 A. C.). Na China, o dragão era já adorado há mais de quatro mil anos pelos povos “Yue 粵”e “Chu 楚”. Estes, nas suas actividades piscatórias ou agrícolas, quando as solados pelas tempestades provocadas pela mãe Natureza, apelavam a esta divindade. Sendo o barco um precioso instrumento de trabalho e de lazer, em muitas regiões de rios e lagos do Sul da China não será de estranhar a conotação das regatas à divindade protectora. Segundo uma lenda, o povo “Chu 楚” organiza corridas de barco-dragão a fim de glorificar um grande patriota, o poeta “Quyuan 屈原” (século III A.C.), que, desgostoso e impotente perante a decadência e a corrupção que afectavam o reino, se atirou ao lago “Dongting” 洞庭湖. Os populares, que o estimavam muito, acorreram aos barcos, remando vigorosamente para tentar resgatar o seu corpo enquanto atiravam bolos de arroz à água para desviar os demónios. Em Macau, as regatas de barcos-dragão, iniciadas na transição do século XIX para XX, faziam-se dentro do verdadeiro espírito da lenda. Remados por 20 homens, os barcos, longos e chatos, de cores vistosas, com bandeiras e estandartes, tendo na proa a cabeça de um dragão e na popa a cauda, e, com a cadência dos remadores marcada por um tamboreiro, partiam da Ilha Verde até à Praia Grande, onde se encontrava uma multidão que os aclamava. Nos finais do primeiro quartel do século XX, a verdadeira tradição esfumou-se, e, após um longo período de ausência, reaparece nos anos cinquenta, mas já transformada em autênticas provas desportivas (a desportivação do lúdico e do ritual contextualizado no quadro axiológico actual, tão referido por muitos autores contemporâneos), e a que as autoridades e os senhores da cidade concedem, com a suapresença, bastante prestígio, continuando a ser até aos nossos dias um dos festivais chineses mais coloridos de Macau. [C.C.A] Bibliografia: AMARO, Ana Maria, O Brinco do Leão, (Macau, 1983); BARROS, Leonel, Macau. Coisas da Terra e do Céu, (Macau, 1999); CAILLOIS, Roger, Os Jogos e os Homens. A Máscara e a Vertigem, (Lisboa, 1990); CRESPO, Jorge, As Actividades Corporais: Síntese Histórica, (Lisboa, 1987); ELIADE, Mircea, O Sagrado e o Profano. A Essência das Religiões, (Lisboa, [s.d.]); GOMES, Luís Gonzaga, Macau: Factos e Lendas, (Lisboa, 1979); GUTTMANN, Allen, From Ritual to Record: The Natureof Modern Sports,(Nova Iorque, 1978); HUO, Liming, The Preliminary Study on the Cultural Connotation and theTimes. Value of Dragon-boat Race, (Guangzhou, 1994); JORGE, Cecília, “Dragão, Dragão”, in Revista Macau, n.° 13, (Macau, 1993), pp. 22-30; MACHADO, J. Silveira, Macau: Mitos e Lendas, (Macau, 1998); PEIXOTO, Rui Brito; OLEIRO, Manuel Bairrão, Museu Marítimode Macau,(Macau, 1992).
FESTIVIDADES CHINESAS
A Portaria Provincial n.º 74 de 26 de Setembro de 1881 aprova os Estatutos do Club 'Sang-Li'. Segundo os estatutos, a fim desta associação é promover divertimentos para recreio dos mesmos sócios. Os divertimentos consistirão em jogos permitidos por lei como jogos carteados, dominó (kuat-pay), Chom-iun-chau, xadrez chinês, leitura dos jornais e livros, banquetes, concertos musicais. No recinto do clube não será permitido jogar o fantan, a roleta chinesa, ou outro jogo de azar, não mencionado acima. O capital desta associação consiste em $1,000, dividas em 50 acções de $20.
Criação do Club "Sang-Li"
Tempo: | Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 |
1999 | |
Local: | Península de Macau-Freguesia da Sé |
Largo do Leal Senado | |
Palavra-chave: | Dança de dragão |
Fonte | |
Santa Casa da Misericórdia |
Fotografia: | Wai-Keong, Lok |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.ºMNL.01.79b.Icon |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
A cores | |
Formato das informações digitais: | TIF, 1333x2000, 7.63MB |
Identificador: | p0005491 |
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