Regra geral, as tunas são um fenómeno da Península Ibérica e América Latina, embora actualmente já se encontrem agrupamentos semelhantes noutros países da Europa. Usualmente, são compostas por estudantes universitários do sexo masculino, que tocam determinado tipo de instrumentos e que se vestem com trajes tradicionais, onde a cor predominante é o negro, mantendo viva uma tradição que remonta ao século XV. As tunas existentes na Península Ibérica incluem, basicamente, instrumentos de percussão e de corda dedilhada, dos quais se destacam quer a guitarra e a guitarra portuguesa (utilizadas principalmente nos acompanhamentos) quer o cavaquinho e o bandolim (fazem as melodias, em conjunto ou alternando com as vozes). Na secção de percussão encontram-se, normalmente, a pandeireta e, menos frequentemente, o bombo. Além destes, são também utilizados nas tunas portuguesas, por influência dos ranchos populares, o acordeão e o violino. Em Macau, no entanto, são um símbolo da identidade cultural local da comunidade macaense, com características próprias, distintas das tunas europeias. Apesar de ainda não ter sido possível definir com exactidão a data da primeira aparição local de um agrupamento deste género no território, existem referências que datam de 1898, relativas a existência de uma “tuna academica do lyceo […] acompanhada de estudantes das differentes escolas” e que se apresentou durante as comemorações do 4.º Centenário da descoberta do caminho para a Índia, realizadas em Macau. As tunas aparecem identificadas com as folias de Carnaval e com as festas da sociedade local, responsáveis que eram pela sua animação musical, não estando de forma nenhuma relacionadas com a vida universitária, então desconhecida em Macau. Ao contrário das tunas ibéricas, o seu repertório é composto essencialmente por marchas cantadas em patois, resultado de adaptações feitas de canções populares portuguesas, como por exemplo Uma Casa Portuguesa (interpretada com o título de Unga Casa Macaísta), ou de origem anglo-americana, que faziam sucesso em Macau por influência de Hong Kong: A Little Bit of Soap (1978), sucesso da banda britânica Showaddywaddy, popularizado em português com o título Maria traz a Sopa, e Your Cheatin’ Heart (1962), sucesso da cantora country norte-americana Patsy Cline, na versão em patois, Cavalo na Mato. Diferenciam-se ainda das tunas ibéricas pela ausência de beca ou traje típico, elemento identificador do estatuto académico daqueles agrupamentos. A ingenuidade das letras, muitas vezes jocosas, reflecte um senso de humor muito próprio, característico da comunidade local. A proximidade de Hong Kong, o influxo de refugiados ingleses e americanos durante a Guerra do Pacífico, bem como o facto de Macau sempre ter sido um porto livre, são factores que mais contribuíram para a formação de um gosto pelo jazz, pela música das big-bands americanas, e que explicam a presença nas tunas de Macau de crooners, instrumentos eléctricos e a preferência pelo aproveitamento do repertório anglo-americano. É de destacar a actividade recente da Tuna Macaense, composta por membros da sociedade macaense, que possui alguns discos gravados e conta com digressões a Portugal e ao Sudeste Asiático. [O.V.J.]
Bibliografia: COELHO, Rogério Beltrão, Macau – Retalhos, (Macau, 1990); JARDIM, O. Veiga, “Tunas de Macau: Convívio e Folia”, in MacaU, n.º 13, (Macau, 1993), pp. 42-50.

Informações relevantes

Data de atualização: 2022/11/04