A primeira escola luso-chinesa de que temos conhecimento surge entre 29 de Novembro e 21 de Dezembro de 1797, sob a direcção do Leal Senado, tendo como professor o P. Rodrigo da Madre de Deus. Ignoramos quando terá deixado de funcionar. Em 21 de Abril de 1868 foi criada uma escola primária gratuita, de ensino da língua portuguesa, para o sexo masculino da população chinesa, denominada Escola de Português para Chinas. Foi nomeado professor interino dessa Escola o padre bilingue Carlos José da Paz, em 17 de Fevereiro de 1873, com ordenado pago pelo Seminário de S. José. A inauguração desta Escola realizou-se em 10 de Março, com apresença do professor do Seminário João Albino Costa Cabral, Vogal do Conselho Inspector de Instrução Pública e responsável pela fiscalização das Escolas de Macau. Esta Escola foi suspensa em 1875, pelo Governador Lobo d’Ávila, devido ao estado de ruína do edifício do Leal Senado, vítimados tufões de 1874 e 1875. Seja como for, esta Escola ou outra do mesmo tipo aparece-nos sedeada na Rua de S. José n.º 1, em Outubro de 1883, regida pelo professor Manuel Paes S. Castro. O seu ensino é gratuito, tendo os alunos pobres direito a livros e material por conta da Fazenda Pública. O ano lectivo principiou em 22 de Outubro, sendo as aulas ministradas das 9.30H às 14.00H. Em 1887 funcionava uma Aula de Português para Chinas no Seminário de S. José. Frequentavam-na, nessa altura, 30 alunos, divididos por três classes, leccionadas pelo professor José Vicente Pereira. Passou a denominar-se Escola D. Carlos, visto as suas instalações, construídas de raiz, terem sido inauguradas em 28 de Setembro de 1886. Localizava-se na Horta dos Parses. A sua frequência era baixa, pelo menos durante a primeira década do século XX, situação quese manteria até ao seu encerramento definitivo em 1919. Nessa altura, encontrava-se instalada no denominado quartel velho, que foi destinado a aquartelamento da Banda Municipal. O professor e o prefeito desta escola passaram para a Escola Central do sexo masculino. A extinção da Aula de Português para Chinas coincide com a entrada em funcionamento do ensino primário municipal luso-chinês. I – Ensino Municipal Luso-Chinês (1919-1945). Em 11 de Junho de 1919 são criadas duas Escolas Primárias Luso-Chinesas, a cargo do Leal Senado. Estas Escolas abriram as suas portas em Setembrodesse ano. A Escola Primária Luso-Chinesa do sexo feminino passou a funcionar num prédio particular na Rua da Sé. Em 1923, encontrava-se instalada na Rua Central, nos baixos do edifício da Escola Infantil. Passando em 1933 para a Rua da Praia Grande, onde antes esteve a Escola SônSat. Daí instalou-se na Calçada do Gamboa. A Escola Primária Luso-Chinesa do sexo masculino sedeou-se inicialmente na Rua da Sé, n.19, passando depois para a Rua da Praia Grande n. 33. A partir de 5 de Outubro de 1939 passaram ambas a ocuparum único edifício, construído de raiz, na Avenida Sidónio Pais .A partir de 1946, todo o ensino municipal transitou para a tutela do Governo de Macau, passando a designar-se Escolas Primárias Oficiais Luso-Chinesas. II–Ensino Oficial Luso-Chinês (1946-1990). Há quem perfilhe da opinião que o Ensino Oficial Luso-Chinês só se iniciou em 1946, altura em que passou para o controlo directo do Governo de Macau. Pelos seus Regulamentos, podemos visualizar as alterações que o ensino luso-chinês foi apresentando ao longo do tempo.“Dar às crianças chinesas o conhecimento das línguas portuguesa e chinesa, e possibilitar o seu ingresso no grau complementar das escolas primárias oficiais”(Regulamentos de 1946 e 1966).“Dar às crianças chinesas a formação correspondente ao ensino primário chinês e um conhecimento básico da língua portuguesa, visando ainda o prosseguimento de estudos no ensino secundário oficial português, se o desejar em”(Regulamento de 1977).“Proporcionar a formação dos alunos em língua chinesa, correspondente aos diferentes níveis de educação e ensino, garantindo-se, em paralelo, o ensino da língua portuguesa, como língua estrangeira”(Alterações de 1990 do Regulamento de 1977). Mas, até 1985, o ensino luso-chinês limitou-se ao nível primário. Só a partir desta data surgiu o Ensino Secundário Luso-Chinês, possibilitando-se a continuação dos estudos no mesmo subsistema de ensino. O plano de estudos do ensino luso-chinês, de quatro anos, era inicialmente constituído por dois currículos, o português e o chinês, cada um deles com sete disciplinas que se equivaliam: Português (Literatura Nacional Chinesa), Aritmética e Geometria (Aritmética e Ábaco), Narrações da História de Portugal (Lições de Coisas), Noções gerais de Geografia (Rudimentos de Geografia da China), Desenho eTrabalhos Manuais (Trabalhos Manuais), Canto Coral e Ginástica. Evoluiu posteriormente para um tronco comum, comumavertente mais chinesa, sendo o seu ensino, feito nesta língua, ministrado durante um período de sete anos, sendo um pré-escolar (Regulamento de 1977). Contudo, a aprovação na 3.ª classe de língua portuguesa con- dicionava a obtenção do diploma do curso primário chinês. A partir de 1990, o ensino luso-chinês passou a compreender três níveis: a educação pré-escolar, de um ano, a primária, de seis anos, cuja disciplina de língua portuguesa sofrera alterações em 1987, e um ensino secundário inspirado no modelo curricular português, com um ano pré-universitário. Devido aos maus resultados em língua portuguesa, optou-se por um currículo completamente chinês, tendo anexo um curso de língua portuguesa. Quanto ao processo de avaliação, só o Regulamento de 1977 fala dela, relativamente ao ensino primário. Esta processava-se ao longo do ano lectivo, através de provas periódicas. No final do ano, realizavam-se provas de passagem de classe e de exame. Não poderia obter diploma do curso primário chinês o aluno que não obtivesse aprovação, pelo menos, na 3.ª classe de língua portuguesa, durante três anos consecutivos na mesma classe. Mantêm-se em vigor as normas sobre avaliação no ensino luso-chinês, constantes do Despacho n.º 22/SAESAS/88, de 11 de Julho, e também as do curso de língua portuguesa. Este modelo pressupõe uma avaliação autónoma das componentes chinesa e portuguesa do currículo do ensino luso-chinês. O resultado da avaliação em língua portuguesa, que deixou de condicionar o acesso aos diplomas ou certificados, conferia a passagem de um certificado específico de língua portuguesa. No tocante à divisão do ano lectivo luso-chinês, até 1977, dividia-se em três períodos. Só nas alterações de 1990 do Regulamento de 1977 se consagra a divisão em dois semestres, que já vinha da década de 80, terminando o 1.º semestre nas vésperas do Ano Novo Chinês. Pelos Regulamentos de 1966, o corpo do cente passou a constituir um quadro próprio dentro dos Serviços de Educação. Os professores de Língua Portuguesa das escolas luso-chinesas tinham de ser diplomados por uma Escola do Magistério Primário Oficial, tendo de fazer prova de conhecimento da língua chinesa (dialecto cantonense). Aos professores de Língua Chinesa exigia-se o curso do magistério de qualquer escola chinesa, sendo a graduação para ingresso no quadro feito através de provas práticas, embora o reconhecimento desses cursos só tivesse sido possível muito mais tarde, devido à dificuldade em encontrar um paralelismo pedagógico entre os Cursos do Magistério Primário portugueses e, por exemplo, o Curso do Magistério Primário Chinês, que era leccionado na Colégio de S. José de Macau. A mobilidade dentro do sistema de ensino limitava-se ao mesmo modelo e nível de ensino. Eram ainda aceites transferências de alunos provenientes de escolas particulares chinesas, mas só nas classes pré-primária, primeira e segunda, frequentando os alunos transferidos imediatamente a classe de Português, correspondente ao seu nível de conhecimento desta língua. Estas transferências só eram autorizadas durante o primeiro período lectivo. [A.B.] Bibliografia: BARATA, Aureliano, Ensino em Macau, 1572-1979, (Macau, 1999).

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Data de atualização: 2023/05/16