BINGHAM, COMANDANTE J. ELLIOT ou BINGHAM, JOHN ELLIOT (?-?). Tenente inglês (corveta HMS Modeste) que participa na Guerra do Ópio juntamente com o capitão Charles Elliot. Bingham entra ao serviço da Marinha em Setembro de 1820 e é promovido a comandante em 1841, sendo autor da obra Narrative of the Expedition to China from the Commencentof the War to its Termination in 1842 with Sketches of the Manners and Customs of that Singular and Hitherto Almost Unknown Country, dois volumes, 1841, na qual descreve a captura de Cantão e inúmeras outras batalhas navais, bem como, no capítulo 4, Macau, onde, de acordo com o próprio, permanece algum tempo. O autor começa por descrever a posição geográfica da península, a chegada dos portugueses à mesma e o seu estabelecimento, sobretudo a construção da muralha em que se encontra a Porta do Cerco. O viajante, contextualizando um dos episódios bélicos entre ingleses e chineses, afirma que a Taipa e os restantes ancoradouros do território foram, até aos conflitos sino-britânicos, considerados neutrais, descrevendo o uso que os chineses fazem do enclave durante a guerra. São ainda descritos o poder e a vigilância dos chineses (mandarim da Casa Branca) na cidade, podendo os portugueses apenas governar os seus compatriotas e os demais residentes ocidentais através do governador e do Senado, cujas funções, direitos e deveres são igualmente apresentados. As casas, algumas das quais ao longo da “Praya Grande”, são descritas como robustas, ladeadas por estreitas ruas com pavimento horrível, perguntando-se o viajante: “em que outra cidade portuguesa não é assim?”. A urbe é considerada a mais europeia do Oriente português, contando com cinco fortes inexpugnáveis e treze igrejas onde reina o fanatismo dos padres, tratando-se de um olhar protestante sobre Macau que descreve igualmente o espaço chinês, com o seu confuso labirinto de vielas em que se acumulam uma corrente de comerciantes e compradores. Os passeios a pé e a cavalo dos ingleses; o comércio decadente; as rendas elevadas cobradas aos estrangeiros são também referidos, bem como a população (trinta e cinco mil habitantes, dos quais apenas cinco mil são súbditos portugueses, que se casam com chinesas), vaticinando o visitante ao referir que o comércio de Macau beneficiou com a Guerra do Ópio, pois os vendedores de Cantão abriram lojas no enclave: “o novo estabelecimento de Hong Kong em crescimento retirará brevemente a Macau a sua última esperança comercial, e a cidade tornar-se-á apenas uma recordação daquilo que já foi.” Bingham transcreve ainda frases em Chinese Pidgin English proferidas por comerciantes chineses (“Can sendee, then catchee tolha”), adensando assim a cor local da sua descrição através do registo linguístico. Entre muitos outros militares referidos pelo viajante encontra-se o capitão Sir Edward Belcher (1799-1877), comandante de uma expedição da Marinha Real inglesa ao Sul da China em Dezembro de 1840, durante a Guerra do Ópio, tendo participado na fundação da Hong Kong e nas tentativas de tomada de Cantão, regressando posteriormente à Inglaterra. O testemunho no relato da viagem de Belcher é hostil para com o capitão Charles Elliot, referindo a inimizade nas cartas privadas que este envia do Oriente. Belcher relata a sua estada em Macau, bem como a acção de Charles Elliot no enclave, na obra Narrative of a Voyage Round the World, Performed in Her Majesty’s Ship Sulphur, During the Years 1836-1842, Including Details of the Naval Operations in China, from Dec. 1840, to Nov. 1841. Já após a fundação de Hong Kong, o comandante do Sulphur afirma dirigir-se desta colónia para Macau, pois tal visita seria benéfica para a sua tripulação, que aí poderia descansar e ser hospitalizada, acabando por se encontrar na cidade com os plenipotenciários ingleses, ouvindo os relatos das suas aventuras. Macau funciona como estância balnear e, devido às estruturas e instituições há muito estabelecidas, como hospital e local de descanso para os residentes ingleses de Hong Kong, pois, como Bingham afirma na sua narrativa, foi alugado na cidade um edifício amplo para ser convertido em hospital naval, existindo ainda um outro hospital, financiado por subscrição pública da Medical Missionary Society, que assiste ocidentais e chineses. Dignas de menção são ainda as várias construções do Templo da deusa Matsoo-poo (A-má) (Mage Miao 媽閣廟) e a Gruta de Camões, visitada por todos os estrangeiros, sendo o aspecto deste último monumento criticado e longamente descrito. De seguida, breves apontamentos etnográficos familiarizam o futuro visitante com a cultura dos tancás (caso o primeiro queira fazer um passeio fluvial marcado pela presença feminina); com o Ano Novo Chinês; com o vestuário dos nativos, o jogo; o teatro chinês; os guarda-nocturnos; os diversos vendedores ambulantes, os produtos comercializados e as formas de os vender; os pedintes e os malabaristas que constituem o quadro humano descrito e que marcam presença em muitas outras descrições inglesas de Macau. Bibliografia: BINGHAM, Commander J. Elliot, Narrative of the Expedition to China from the Commencement of the War to its Termination in 1842 with Sketches of the Manners and Customs of that Singular and Hitherto Almost Unknown Country, 2 vols., 2 .ª edição, (Londres, 1843); BELCHER, Captain Sir Edward, Narrative of a Voyage Round the World, Performed in Her Majesty’s Ship Sulphur, During the Years 1836-1842, Including Details of the Naval Operations in China, from Dec. 1840, to Nov. 1841, 2 vols., (Londres, 1843); EITEL, E. J., Europe in China: The History of HongKong from the Beginning to the Year 1882, (Londres, 1895); MORSE, Hosea Ballou, The Gilds of China, (Nova Iorque, 1909); MORSE, Hosea Ballou, The International Relations of the Chinese Empire, vol. 1, (Londres, 1910); MORSE, Hosea Ballou, The Chronicles of the East India Company Trading to China 1635-1834, vol. 1, (Oxford, 1926); COSTIN, W. C., Great Britain and China 1833-1860, (Oxford, 1937); COLLIS, Maurice, Foreign Mud: Anglo-Chinese Opium War, (Londres, 1946); GREENBERG, Michael, British Trade and the Opening of China 1800-1842, (Cambridge, 1951); HOLT, Edgar, The Opium Wars in China, (Londres, 1964); BEECHING, Jack, The Chinese Opium Wars, (Londres, 1975); GRAHAM, Gerald, The China Station: War and Diplomacy 1830-1860, (Oxford, 1978); HOE, Susanna e Derek Roebuck, The Taking of Hong Kong: Charles and Clara Elliot in China Waters, (Richmond, 1999).

Informações relevantes

Data de atualização: 2020/04/17