
Informações relevantes
Data de atualização: 2020/09/03
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
Data de atualização: 2020/09/03
Melchior Miguel Carneiro Leitão, de seu nome completo, nasceu em Coimbra, por volta de 1516. Entrou para noviciado da Companhia de Jesus em 1543, na mesma cidade portuguesa. Poucos anos mais tarde, em 1551, fazia parte do grupo fundador do colégio Jesuíta de Évora, de que, aliás, foi reitor, o qual viria a dar origem a uma universidade. Entre 1553 e 1554 foi a Roma, incumbido de missão oficial pela Companhia de Jesus. De regresso a Lisboa, partiu para o Oriente em 1555, com o título de bispo de Niceia, a bordo de uma nau portuguesa da carreira da Índia, que chegou à Índia no mesmo ano. Durante algum tempo, exerceu funções docentes no colégio Jesuíta de Goa, capital do Estado Português da Índia. As fontes Jesuítas indicam que sofria de asma e que era “colérico em sumo grau”. Apontado como sucessor do Patriarca da Etiópia, acabou no entanto por ser enviado para Macau, com as funções de bispo da China e do Japão, por força de um breve de 1566 do Papa Pio V. Após escala em Malaca, D. Melchior já se encontrava no porto de Macau em meados de 1568. O porto luso-chinês, por esses anos, era sobretudo utilizado pelos religiosos Jesuítas como base de apoio às missões japonesas. Residindo inicialmente na casa dos seus correligionários Jesuítas, o bispo estabeleceria pouco depois residência própria, mais consentânea com o seu cargo episcopal. Consigo residia algum tempo o padre Gregório Gonzales, prelado espanhol que assistira à fundação de Macau, já que estanciava neste entreposto luso-chinês, ininterruptamente, desde 1555. Documentação da época revela que nem toda a comunidade Jesuíta de Macau via com bons olhos o facto de o bispado estar entregue a um membro da Companhia de Jesus. Contudo, apesar desta oposição, D.Melchior Carneiro continuou a exercer as suas funções religiosas e assistenciais, tanto mais que as condições climatéricas de Macau se revelaram especialmente benéficas para a enfermidade de que sofria. Entre outras actividades, fundou um hospital para leprosos, que, como a doença era, então, conhecida como ‘mal de São Lázaro’, veio a adoptar o nome deste santo; fundou um outro hospital designado de São Rafael; e abriu uma confraria da Misericórdia, organismo muito típico de todos os estabelecimentos ultramarinos portugueses. D. Melchior visitou a cidade de Cantão em pelo menos duas ocasiões, a primeira em 1569 e a segunda em 1576. Da primeira vez, pretendia inteirar-se das possibili¬dades de alargar a missionação Jesuíta ao interior da China; como outros Jesuítas antes e depois dele, constatou que seria impossível conseguir entrada no Celeste Império sem conhecimentos mínimos de língua chinesa. Da segunda vez, tentava resgatar das mãos das autoridades cantonenses um bonzo chinês que se convertera ao cristianismo e que, efectivamente, com ele regressou a Macau. Em 1581, alegando motivos de saúde, renunciou ao episcopado e solicitou aos superiores autorização para regressar a Portugal, talvez por ter chegado à cidade, D. Leonardo de Sá, que vinha nomeado como bispo de Macau. Este último, de resto, envolver-se-ia em disputas com a comunidade Jesuíta macaense, a respeito da posse das casas da residência episcopal, que afirmava serem suas e não dos Jesuítas. Mas, numa das suas cartas, o visitador Alessandro Valignano comentaria: “não me custou pouco trabalho para lhas tornar a sacar das mãos”. O padre Melchior passou a partir de então a viver com os seus correligionários, sem qualquer cargo ou autoridade. Um missionário Jesuíta que então passou por Macau escrevia que o antigo bispo se desfizera de todos os seus bens e que vivia “com grande edificação, pobreza e humildade”. Faleceu em meados de 1583, sendo sepultado na Igreja de São Paulo. Bibliografia: DEHERGNE, Joseph, Répertoire des Jésuites de Chine de 1552 à 1800, (Roma, 1973) ; Diccionario Histórico de la Compañía de Jesús, O’NEILL, Charles E.; DOMÍNGUEZ, Joaquín María (dirs.), 4 vols., (Roma, 2001); TEIXEIRA, Padre Manuel, Macau e a sua Diocese, vol. III, (Macau, 1956-1961).
CARNEIRO, D. MELCHIOR (?-1583)
BELO, D. CARLOS FILIPE XIMENES (1948- ). Nascido na pequena aldeia de Walakama, perto de Vemasse, a 3 de Fevereiro de 1948, quinto filho de um professor primário, Domingos Vaz Filipe, e de Ermelinda Baptista Filipe, D. Carlos Filipe Ximenes Belo assistiria ao falecimento do seu pai com apenas dois anos. Seguiu o itinerário educativo das escolas católicas de Baucau e Ossu, graduando-se mais tarde, em 1960, no colégio de Dare. Depois de demorada formação sacerdotal salesiana em Macau e Portugal, D. Ximenes Belo viria a ordenar-se sacerdote a 26 de Julho de 1980. Regressa a Timor um ano mais tarde, em Julho de 1981, tornando-se professor e mesmo, durante um curto período, director do colégio salesiano de Fatumaca. Depois da resignação de Monsenhor Martinho da Costa Lopes, em 1983, acabaria D. Ximenes Belo, a 21 de Março de 1988, por ser apontado administrador apostólico de Díli e bispo titular de Lorium, recebendo o título episcopal a 19 de Junho desse mesmo ano. Imediatamente, em 1989, o novo administrador apostólico da capital de Timor Leste escreve ao então secretário-geral das Nações Unidas, Javier Perez de Cuellar, denunciando a situação humana do território e a repressão difícil da ocupação militar e política indonésia. Em 1989, coube a D. Ximenes Belo acolher a visita de João Paulo II, oficialmente o responsável pela diocese de Díli, mobilizando intensamente a população de maioria católica do território. A partir daqui, a biografia de D. Carlos Filipe Ximenes Belo torna-se progressivamente mais conhecida, destacando-se o modo intransigente como defende os direitos humanos do povo timorense. Para tanto, denuncia a violenta ocupação indonésia e pugna pelos valores culturais e nacionais da parte oriental da ilha de Timor, antiga colónia portuguesa. Apesar das enormes dificuldades, muitas incompreensões e frequentes calúnias, D. Ximenes Belo não vacilou nesse caminho de defesa do direito à auto-determinação do povo timorense, concorrendo para ampliar uma resistência cívica, moral e cultural, que haveria de ganhar definitivamente eco internacional quando o bispo foi laureado com o Prémio Nobel da Paz de 1996. Abriam-se, assim, três vertiginosos anos de luta pela auto-determinação, que se concluiriam com o referendo ganho claramente pela via da independência. A violência subsequente encontraria, também, em D. Ximenes Belo, um dos mais relevantes protagonistas da defesa da identidade nacional e dos direitos do povo timorense. Mais recentemente, a 26 de Novembro de 2002, o bispo de Díli viria a resignar da sua administração apostólica, ganhando algum descanso para novas etapas vivenciais que o levam a cruzar a actividade cultural, a reflexão e também o aconselhamento das novas autoridades políticas timorenses, finalmente, eleitas democraticamente pela vontade popular expressa através do sufrágio directo universal. Até aqui, sumariam-se eventos e temas que se poderiam facilmente visitar em qualquer enciclopédia geral minimamente preocupada com o mundo actual ou com as figuras mais proeminentes do catolicismo contemporâneo. Menos conhecida é a estada de D. Ximenes Belo, entre 1975 e 1976, em Macau, para estudar no colégio salesiano de Dom Bosco, precisamente durante o período em que se concretiza a violenta ocupação militar indonésia de Timor Leste, que ecoa também, entre resistências e solidariedades, no território macaense. A passagem do bispo de Díli por Macau reveste-se de um duplo significado: recorda as ligações históricas e religiosas continuadas entre Macau e Timor e relembra, igualmente, a presença em Macau de uma comunidade timorense que sempre encontrou no território um especial apoio para a sua formação sacerdotal e intelectual. Deste modo, o itinerário macaense de D. Ximenes Belo representa um ponto de chegada da história da instalação dos salesianos em Macau, desde 1906, comunicando também com a sua vocação missionária em território timorense. A obra educativa salesiana seria marcada, sobretudo, pela inauguração, na década de 1950, do Colégio de Dom Bosco, abraçando filhos e descendentes de portugueses e concretizando um projecto de formação em língua portuguesa dirigido a muitos jovens que viriam a preencher as administrações, ofícios e igrejas coloniais no mundo asiático, de Macau a Timor. Bibliografia: CARMO, António, A Igreja Católica na China e em Macau no Contexto do Sudeste Asiático. Que Futuro?, (Macau, 1997); KOHEN, Arnold S., From the Place of the Dead: The Epic Struggles of Bishop Belo of East Timor, (Inglaterra, 1999).
BELO, D. CARLOS FILIPE XIMENES (1948- )
No dia 20 de Março de 1709, morre no Convento de St.º Agostinho D. Álvaro Benavente, O.E.S.A., vigário apostólico de Kiangsi, que se refugiara em Macau 3 meses antes, ou seja, a 1 de Dezembro de 1708. Os portugueses, o clero local e os missionários estrangeiros, aqui refugiados, tomaram parte nas solenes exéquias fúnebres em Stº. Agostinho, onde foi sepultado na nave central a 21 de Março; a tropa assistiu também ao funeral. Na capela-mor de St.º Agostinho, no local da sua sepultura, está uma inscrição latina, que diz: “Aqui jaz o il. D. Fr. Álvaro, nascido da nobre familia de Benavente em Salamanca, onde ingressou na Ordem do Nosso Padre Agostinho. Pelo zelo de propagar a Fé, demandou a Provincia das Filipinas, foi transferido para o Império da China e, depois de ter administrado brilhantemente a mesma Provincia e a Missão da China, foi promovido a Bispo de Ascalona e a Vigário Apostólico; faleceu em Macau aos 20 de Março de 1709, com 63 anos de idade, 9 de Episcopado. Descanse em paz. Amen”.
Morre no Convento de St.º Agostinho D. Álvaro Benavente
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016). Bispo de Macau, nascido em S. Mateus, Ilha do Pico, Açores, 8 de Julho de 1924. Cursou o Seminário de Macau e ordenou-se sacerdote (1949). Depois de leccionar cinco anos no Seminário, segue para Roma onde obtém a licenciatura em Direito Canónico, na Universidade Gregoriana. Regressado ao Seminário de Macau (1960), foi professor e depois Reitor. Visita Timor em 1963. Na ausência do Prelado, no Concílio Vaticano II, foi nomeado Governador do Bispado. Em 1968 foi professor e prefeito de estudos no Seminário Diocesano de Hong Kong. Falecido D. Paulo José Tavares (1973), é eleito Vigário Capitular da Diocese de Macau e depois é nomeado Bispo; foi ordenado a 25 de Março de 1976. Na celebração do IV Centenário da Diocese (1976), exorta a um profundo e empenhativo exame de consciência perante a responsabilidade da evangelização. Em 1977, assina com os Bispos de Malaca-Johor e Singapura o acordo de transferência dos enclaves da diocese de Macau. No seu múnus pastoral, pautou-se pela discrição, evitando faustos e envolvimentos desnecessários. Colaborou com o Governo, por exemplo, no respeitante aos assentos nos livros paroquiais, e incentivando a população ao recenseamento eleitoral. Exprime-se com facilidade em oito línguas, incluindo o cantonense. Participou em todas as reuniões da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia, desde 1974 a 1988. Procurou novos reforços do pessoal missionário, conseguindo que se estabelecessem na Diocese a Prelatura pessoal da Santa Cruz e Opus Dei, os Irmãos (MCO) e Irmãs da Caridade (MCA), os Paulistas (SSP), e as Irmãs da Caridade de Sant’Ana (HCSA). Publicou mensagens pastorais, das quais destacamos o Baptismo das Crianças e o Sacramento da Reconciliação. Promulgou o Calendário Litúrgico próprio da Diocese. Promoveu a renovação do semanário O Clarim e do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau (actual Boletim Eclesial de Macau) e fez a reestruturação do Centro Diocesano de Comunicação Social. Instituiu (1981) a capelania da Universidade da Ásia Oriental (actual Universidade de Macau). Procurou assegurar a manutenção da vasta rede de escolas católicas. Através dos serviços da Caritas Diocesana prestou notável ajuda aos refugiados e população carenciada, criando a Escola de Assistentes Sociais (1977), e o Centro Diocesano de Apoio à Família (1978); em Macau, acolheu o II Encontro do Instituto Asiático para a Acção Social (1988). Assegurou a presença possível e discreta junto dos católicos da sua diocese na República Popular da China. Efectuou em 1985 uma visita de carácter oficial à China. Foi recebido pelo Bispo de Pequim e também pelo Bispo da Associação Patriótica da Igreja da China. Ficou esclarecido sobre a situação da Igreja Católica na China e da sua relação com o Governo. No encontro com o Director do Gabinete para os Assuntos Religiosos foi-lhe afirmado que a Igreja da China e o Gabinete não interfeririam na Igreja de Macau. Nas visitas aos bispos de Nanquim (Nanjing 南京), Xangai (Shanghai 上海) e Cantão (Guangzhou 廣州), ficou impressionado com o entusiasmo da fé nas liturgias, a seriedade na formação no Seminário de Xangai (Shanghai 上海), o espírito de oração no santuário de Sheshan 佘山 e o convite para renovar a peregrinação de Macau a Sanchoão. Aceite por Roma o seu pedido de resignação (1988), sucedeu-lhe D. Domingos Lam, seu Bispo Coadjutor e primeiro bispo de etnia chinesa na Cidade do Santo Nome de Deus de Macau. Em 1984 foi agraciado pelo Governo Português com o grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência; em 1986 recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade de Macau; e, em 1988, pelo Presidente Mário Soares, o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito. De regresso aos Açores, colabora na pastoral; faz parte do grupo de Bispos do Movimento dos Focolares (Obra de Maria). Bibliografia: CARDOSO, Padre Tomás B. (coord.), Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa, Bispo de Macau, 1976-1988, (Macau, 1999).
COSTA, D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA (1924-2016)
Frei Gaspar da Cruz terá nascido em Évora, em ano que não se consegue apurar, sendo mais tarde, também em data incerta, admitido no convento de Azeitão da Ordem dos Pregadores. Partiu para o Oriente em 1548, integrado num grupo de missionários Dominicanos, dedicando-se durante cerca de seis anos ao trabalho apostólico no litoral hindustânico. Em 1554 encontrava-se em Malaca, fundando uma casa da sua Ordem, e demorou-se na cidade até Setembro do ano imediato, pois nesta data embarcou num navio de mercadores portugueses com destino ao reino do Camboja. O incansável missionário permaneceu durante cerca de um ano em território cambojano, viajando um pouco através do reino, mas em Dezembro de 1556 estava já no litoral da China, tendo oportunamente conseguido autorização para visitar Cantão, onde estanciou durante cerca de um mês. Apesar de se terem gorado por completo os seus eventuais projectos de missionação, pois a China permanecia então fechada aos estrangeiros, com excepção precisamente do porto de Cantão, Frei Gaspar não perdeu tempo, e parece ter aproveitado ao máximo a sua curta estada no litoral chinês, calcorreando exaustivamente toda a cidade, observando ruas, casas e templos, trocando impressões com gente oriunda de variados estratos sociais, frequentando audiências dos mandarins, avaliando hábitos e costumes, documentando-se sobre práticas culturais e religiosas, enfim, recolhendo preciosas informações sobre os mais variados aspectos da realidade chinesa. Paralelamente, o nosso Dominicano entrevistou portugueses bem experientes em assuntos chineses, “pessoas dignas de fé”, como ele próprio referirá, chegando mesmo a obter uma cópia de “um compêndio de um homem fidalgo que cativo andou pela terra dentro”. Frei Gaspar referia-se ao tratado de Galiote Pereira, antigo prisioneiro que chegara a Sanchoão em finais de 1552 ou princípios do ano seguinte, depois de passar vários anos em prisões chinesas. Em princípios de 1557 estava novamente de partida, e, depois de escalar Malaca, iniciou um périplo pela Insulíndia, visitando nomeadamente o porto de Macassár, antes de regressar ao litoral do Industão, quase três anos mais tarde. Passou ainda por Ormuz, antes de embarcar em Goa, em 1564, com destino a Portugal. Viria a falecer anos mais tarde, em Setúbal, vítima de uma virulenta epidemia de peste que ajudava a combater. Em Fevereiro de 1570, duas semanas após a morte de Frei Gaspar da Cruz, o impressor André de Burgos publicava em Évora o célebre Tratado das Cousas da China, que era a primeira monografia exclusivamente dedicada ao Celeste Império a conhecer na Europa as honras da impressão. A escolha da oficina tipográfica parece sugerir que o missionário, após o regresso do Oriente, se teria estabelecido no mosteiro eborense da Ordem de São Domingos. E aí, o padre Dominicano procedera a uma exaustiva compilação dos materiais sobre a China até então reunidos pelos portugueses. O relato de Frei Gaspar, de uma forma brilhante, sistematizava as notícias, as imagens e as vivências resultantes de um longo, e nem sempre pacífico, convívio lusitano com a realidade chinesa. A obra do nosso autor, contudo, não se destacava apenas pela riqueza do conteúdo, pelo rigor da informação e pela variedade das fontes utilizadas, já que o Tratado das Cousas da China é atravessado do princípio ao fim por uma atitude de flagrante simpatia em relação às realidades sínicas. O missionário, ao longo de muitas páginas, elogia quase sem medida a eficácia das formas de governo, a imparcialidade da justiça, a exemplaridade dos castigos, o respeito pelas hierarquias, a habilidade manual extrema, que desenvolve as soluções mais inesperadas para os problemas da vida quotidiana, a caridade e a benevolência das instituições de assistência, o apurado ordenamento urbano, a organização meticulosa do sistema produtivo, etc. Enfim, a China é apresentada aos leitores da obra como um verdadeiro modelo social, digno da maior admiração e interesse, que apenas é manchado pelo facto de os chineses viverem na “ignorância da verdade”, totalmente apartados da “fé de Cristo”. O Tratado das Cousas da China parece ter conhecido alguma circulação além-fronteiras, pois vários escritores estrangeiros a ele se referirão em anos subsequentes, os mais célebres dos quais seriam talvez Bernardino de Escalante, autor de um Discurso de la navegación de los portugueses (Sevilha, 1577) e Frei Juan González de Mendoza, autor da celebérrima Historia de las cosas más notables, ritos y costumbres del gran reino de China (Roma, 1585). [R.M.L.] Bibliografia: CRUZ, Gaspar da, Tratado das Coisas da China, (Lisboa, 1997).
CRUZ, FREI GASPAR DA (?-?)
CASTRO, D. JOÃO PAULINO DE AZEVEDO E (1852-1918). Filho de Amaro Adrião de Azevedo e Castro e de Maria Albina Carlota da Silveira, D. João Paulino de Azevedo e Castro nasceu nos Açores (Lajes do Pico), no dia 4 de Fevereiro de 1852. Depois de frequentar os estudos primários e secundários nos Açores, ingressou no Seminário de Coimbra e matriculou-se no curso de Teologia da Universidade de Coimbra, que concluiu em Julho de 1879. Neste mesmo ano, a 31 de Agosto, foi ordenado sacerdote na Capela do Paço Episcopal de Angra do Heroísmo. Mantendo-se ligado à Sé desta cidade açoriana, D. João Paulino de Azevedo e Castro, em 1890, foi promovido a tesoureiro-mor, chegando a ocupar o lugar de vice-reitor do Seminário. A par da sua carreira eclesiástica, D. João Paulino de Azevedo e Castro dedicou-se à actividade docente no seminário diocesano, tendo leccionado Teologia, Filosofia, História Eclesiástica e Direito Canónico. Apesar de ter sido nomeado Arcediago, acabou por não tomar posse em virtude de ter sido eleito Bispo de Macau pelo papa Leão XIII, o que foi confirmado em 9 de Junho de 1902. D. João Paulino de Azevedo e Castro pertenceu a um grupo de prelados com origem nos Açores que desempenharam um relevante papel religioso e político no Território. Lembremos a figura de D. José da Costa Nunes, Vigário-Geral de D. João Paulino a partir de 14 de Julho de 1906, que o substituiu à frente do bispado de Macau em finais de 1910. Uma vez em Macau, onde chegou no dia 4 de Julho de 1903, D. João Paulino de Azevedo e Castro deparou-se com alguns problemas de grande complexidade político-religiosa a que teve de dar resposta. O primeiro dizia respeito à redefinição dos limites da diocese de Macau e da prefeitura apostólica de Cantão, determinada pela Sagrada Congregação de Propaganda: a ilha de Hainão passava para a jurisdição da prefeitura e o distrito de Zhaoqing 肇慶 ficava sob a alçada da diocese de Macau. O governo francês e o prefeito apostólico tentaram opor-se à aplicação desta determinação, o que obrigou D. João Paulino de Azevedo e Castro a protestar energicamente junto do governo de Lisboa, reclamações que foram encaminhadas para Roma. Em Macau, D. João Paulino dirigiu os destinos do bispado no período crítico da implantação do regime republicano. O decreto de 8 de Outubro de 1910 ordenou a expulsão dos Jesuítas, determinação que foi executada em Macau no dia 19 de Novembro. As repercussões do regime republicano na vida dos religiosos de Macau estendeu-se a outras ordens, quando, em 29 de Novembro, se determinou a sua saída do Território. Depois de entregar o bispado a D. José da Costa Nunes, D. João Paulino de Azevedo e Castro saiu de Macau com destino à China no dia 4 de Dezembro. Depois de uma breve passagem por Hong Kong, dirigiu-se a Cantão em visita pastoral às Missões da China. Em Janeiro de 1911 passou por Singapura e por Malaca, regressando a Macau no dia 7 de Abril. Os momentos políticos difíceis que passou em Macau, no seguimento da proclamação da República, estimularam D. João Paulino de Azevedo e Castro a reflectir sobre as relações entre o Estado e a Igreja e sobre o papel que esta desempenhava no Extremo Oriente. A testemunhar esta sua preocupação, encontramos os muitos escritos que nos legou, devendo ser dado especial destaque a iO Padroado Português no Extremo Oriente e a Lei de Separação do Estado das Igrejas. Neste texto, dividido em três capítulos, D. João Paulino de Azevedo e Castro defende a ideia de que a evangelização tinha sido uma trave-mestra do processo de expansão da civilização nas nações “idólatras” e “selvagens”, sublinhando o seu alcance moral, utilitário e político. Enaltece o papel de Macau enquanto centro donde irradiava a acção missionária no Extremo Oriente, tentando provar a utilidade política da acção missionária portuguesa na China e em todo o Extremo Oriente. Um exemplo é avançado: o direito de Portugal reclamar a soberania sobre a ilha da Lapa e a ilha Verde devia-se à acção missionária desenvolvida naqueles locais desde o século XVII. A pertinência deste argumento assumiu um significado político muito particular, atendendo a que a questão da definição dos limites de Macau permaneceu em aberto no diálogo luso-chinês durante todo o primeiro quartel de Novecentos. Em 1915, iniciou a publicação de Os Bens das Missões Portuguesas na China. Os seus textos revelam um homem profundamente conhecedor da acção da Igreja, particularmente no Extremo Oriente, tema que norteou a sua investigação e a sua intervenção política e religiosa, através da palavra escrita e oral. Da sua acção em Macau ressaltaram a criação do Colégio de Perseverança, entregue ao cuidado das religiosas canossianas, vocacionado a acolher raparigas sem família; a criação de um orfanotrófio para o ensino de artes e ofícios a jovens chineses, entregue aos salesianos de D. Bosco; a promoção de escolas e asilos nos subúrbios da cidade de Macau; a criação do Boletim da governo da diocese de Macau. D. João Paulino de Azevedo e Castro permaneceu em Macau, onde faleceu no dia 17 de Fevereiro de 1918. Bibliografia: CASTRO, João Paulino de Azevedo e, Os Bens das Missões Portuguesas na China, (Macau, 1995); TEIXEIRA, Padre Manuel, Arquivos da Diocese de Macau, (Macau, 1970).
CASTRO, D. JOÃO PAULINO DE AZEVEDO E (1852-1918)
No dia 18 de Julho de 1847, o Sendo Bispo da Diocese D. Jerónimo José da Mata, foi fundada em Macau a Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria, na Paróquia de Santo António. O 1.º Centenário foi solenemente lembrado em 15 de Abril de 1947, sendo pároco o Padre José António Augusto Monteiro. Ao longo dos primeiros 100 anos inscreveram-se, segundo o livro do catálogo,1691 associados. (Cfr. esta Cronologia…, 1947).
Fundada Arquiconfraria do Imaculado Coração de Maria em Macau
No dia 20 de Novembro de 1704, o Papa Clemente XI aprova um decreto da Inquisição contra os “Ritos”.
Decreto da Inquisição contra os “Ritos”
COUPLET, PADRE PHILIPPE (?-1694). O padre Jesuíta Philippe Couplet, talvez mais recordado pelo seu papel na propagação da missão da China Jesuíta na Europa, por alturas de 1680, e por ter publicado os Confucius Sinarum Philosophus (Confúcio Filósofo dos Sinos) em Paris, durante este período, nasceu em Mechlin, na Bélgica, no dia 31 de Maio de 1623. Após ter frequentado uma escola Jesuíta, entrou para o noviciado Jesuíta em 1640, mas as suas esperanças iniciais de servir na América do Sul não tiveram sucesso. Um encontro com Martino Martini S.J. inspirou-o também para ir para a China, mas foi só em 1656 que finalmente deixou a Europa, juntamente com François de Rougemont S.J.. Depois de numerosas tentativas falhadas de viajar de Goa para a China, Couplet e Rougemont fizeram finalmente uma viagem por terra para o Sião, e foi a partir daí que chegaram a Macau em finais de 1658. Após uma breve estadia em Macau, Couplet obteve autorização para seguir para a China, tendo ficado instalado em Fuzhou 福州. Em 1551, o Imperador Kangxi 康熙 subiu ao trono e, durante algum tempo, a actividade Jesuíta foi proibida e um certo número de padres, incluindo, tanto Ferdinand Verbiest, como Adam Bell von Schall, foram aprisionados em Pequim. Outros, incluindo Couplet, voltaram para Macau, onde aproveitaram o tempo para melhorar as suas capacidades, e foi neste período que começou o trabalho sobre o Confucius Sinarum Philosophus, a tradução da filisofia de Confúcio para o Latim. Em 1670, a proibição da actividade Jesuíta foi levantada e os padres voltaram para a China, onde Couplet estabeleceu a sua missão na Província de Jiangnan 江南. Em 1679, Couplet foi eleito Procurador da Missão Jesuíta na China e, nessa capacidade, foi nomeado para viajar para a Europa e para ver o Papa para avançar a causa Jesuíta, especialmente no que se referia à Questão dos Ritos. Foi inicialmente decidido que ele iria acompanhado por cinco cristãos chineses, incluindo Wu Li 吳歷 (Wu Yushang 吳漁山/Simão Xavier da Cunha), mas esse número foi eventualmente reduzido para dois, e Philippe Couplet deixou Macau em 1681, juntamente com um jovem chinês, Michael Shen, Fuzon 沈福宗 e um outro cuja identidade não é conhecida. Sofreram um naufrágio próximo de Batávia, e só um ano depois é que conseguiram prosseguir até à Europa, ainda que o segundo noviço cujo nome se desconhece haja decidido não continuar. Desembarcaram na Holanda no dia 8 de Outubro de 1683, de onde viajaram para a Flandres natal de Couplet e fizeram os preparativos para a sua ronda pela Europa. A complexidade política desta ronda havia já sido originada em Macau, onde a nomeação de Couplet como procurador havia tido a intenção de fazer avançar a missão Jesuíta através de um apelo à nobreza católica da Europa, mas igualmente de publicar o Confucius Sinarum Philosophus em Paris, a fim de produzir um impacto em pleno centro da actividade intelectual e científica de finais do século XVII. Em Macau, alguns padres tinham sérias dúvidas quanto à capacidade de Couplet para atingir estes vários objectivos e havia resistência também em relação ao jovem chinês Shen 沈 que o acompanhava, uma vez que o seu Latim não era suficientemente fluente para conversar nas cortes da Europa. Contudo, Couplet e Shen 沈 obtiveram algum sucesso e foram recebidos por Luís XIV em Versalhes, onde o uso dos pauzinhos foi demonstrado e as orações recitadas em Chinês para impressionar o monarca. Este interesse em Michael Shen 沈福宗 era exactamente o que os Jesuítas haviam esperado despertar e Luís XIV obsequiou os seus convidados com uma mostra das fontes de Versalhes, normalmente reservada aos embaixadores e à realeza estrangeira. De França, seguiram para Roma, onde foram recebidos pela Raínha Cristina da Suécia, mas tiveram de esperar até 1685 antes de serem recebidos pelo Papa Inocente XI. Esta missão estava particularmente preocupada com questões que iriam mais tarde explodir na con-frontação dos Jesuítas com a política do Vaticano e com a tentativa de conciliar a prática confuciana com a doutrina católica. Couplet teve de ser especialmente cauteloso ao lidar com o Papa, uma vez que assinar um juramento à Propaganda Fide teria alienado a monarquia portuguesa, cujo controlo do seu padraodo eles insistiam continuamente. Assim, Couplet encontrava-se preso entre rivalidades contestatárias, já que a submissão a Roma teria significado a exclusão da missão chinesa, que os Portugueses controlavam, enquanto que a desobediência a Roma teria conduzido a uma séria proscrição papal, o que acabou eventualmente por acontecer alguns anos mais tarde. A missão a Roma foi largamente um falhanço e Michael Shen 沈福宗, juntamente com um outro Jesuíta, Francesco-Maria Spinola, viajou para Londres, enquanto que Couplet voltou para Paris. Em Londres, Shen 沈 foi apresentado à Corte e Jaime II encomendou um retrato do cristão chinês a Godfrey Kneller, que se encontra agora no Castelo de Windsor. Shen 沈 viajou igualmente para Oxford, onde ajudou a catalogar os livros chineses na Bodleian Library (Biblioteca Bodleiana). Em Paris, Couplet atarefou-se com preparações para a publicação do Confucius Sinarum Philosophus. Juntou-se depois a Shen 沈 e Spinola, em Londres, e juntos viajaram para Lisboa, onde chegaram em 1688. Michael Shen 沈福宗 entrou então para o noviciado Jesuíta e pronunciou os seus primeiros votos no dia 9 de Outubro de 1690 e, na Primavera de 1691, partiu para Macau. No dia 22 de Setembro de 1691, Michael Shen 沈福宗 morreu no mar, um dia antes de chegar à Ilha de Moçambique. Não foi autorizado a Couplet viajar de volta para a China com Shen 沈, porque ele e Spinola haviam jurado obediência à Propaganda Fide, e foi só em 1693 que conseguiu embarcar para Macau. A viagem de volta foi particularmente difícil, com a quase totalidade dos dezasseis Jesuítas a caírem doentes. Couplet ficou muito penalizado ao saber da morte de Shen, no ano anterior, quando chegaram a Moçambique. O desastre continuava a rondar o grupo, e numerosos padres Jesuítas morreram e Couplet entrou cada vez mais em depressão, e no dia 9 de Setembro sofreu uma série de ataques. Contudo, a sua saúde melhorou e continuou para Goa mas, aquando de uma violenta tempestade, Couplet foi apanhado pala bagagem que caía e morreu, provavelmente a 15 ou 16 de Maio de 1694. [G.T.] Bibliografia: “Philippe Couplet: A Short Biography”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1693): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 17-19; FOSS, Theodore Nicholas, “The European Sojourn of Philippe Couplet and Michael Shen Fuzong: 1683-1692”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1693): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 121-140; MALATESTA, S.J.; EDWARD, J., “The Last Voyage of Philippe Couplet”, in HEYNDRICKX, Jerome, Philippe Couplet S.J. (1623-1692): The Man Who Brought China to Europe (Nettetal, 1990), pp. 163-181; SERRURE, C.P., Het Leven van Pater Petrus-Thomas Van Hamme, Missionaris in Mexico en in China (1615-1772), (Ghent, 1871).
COUPLET, PADRE PHILIPPE (?-1694)
Personagem: | Xavier, Francisco, 1506-1552 |
Tempo: | Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 |
1989 | |
Palavra-chave: | Religião |
Catolicismo | |
Lápide |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.º MNL.05.30.044.F |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
A cores | |
Formato das informações digitais: | TIF, 1396x2000, 7.99MB |
Identificador: | p0004217 |
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