
Informações relevantes
Data de atualização: 2020/09/03
Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
Data de atualização: 2020/09/03
O Dr. Paulo Siu, ou mais propriamente, Xu Guangqi 徐光啟, nasceu em Xangai (Shanghai 上海), a 24 de Abril de 1562. Tendo seguido a carreira das Letras, ultrapassou com êxito todas as etapas do complexo sistema de ensino chinês, atingindo o mais elevado grau académico, em 1604. Não menos brilhante foi a sua passagem por sucessivos patamares da carreira políticoadministrativa (director da Instrução Imperial, subsecretário do Tribunal dos Ritos, presidente do mesmo Tribunal), vindo a ascender, a 1 de Julho de 1632, ao mais alto posto da hierarquia chinesa: chanceler do império ou colao (gelao 閣老), cargo equivalente ao de conselheiro de estado. Desempenhava já tais funções, quando, no início de 1633, o imperador o nomeou preceptor do príncipe herdeiro. Todavia, não foram as invulgares capacidades de letrado ou a fulgurante carreira política, que fizeram deste mandarim objecto de notícia de inúmeras Cartas Ânuas e outros documentos da missão da China, e tornaram o seu nome conhecido nos círculos intelectuais europeus das primeiras décadas do século XVII, mas sim a sua conversão ao cristianismo e o papel decisivo que desempenhou na expansão e consolidação da jovem Igreja chinesa. Os primeiros contactos de Xu Guangqi 徐光啟 com a nova religião, recentemente introduzida no Império do Meio, tiveram lugar em Xao Cheu [Shaozhou 韶 州], província de Guangdong 廣東, quando, ainda bacharel, exercia funções docentes numa família desta povoação. Corria o ano de 1596, e foi seu primeiro interlocutor o jesuíta Lazzaro Cattaneo. Em 1600, encontrou-se pessoalmente, em Nanjing 南京, com Matteo Ricci, de quem tinha já vaga notícia, através da edição do seu Mapa-mundi. Tratou-se, no entanto, de um contacto passageiro e sem consequências imediatas, como refere António de Gouvea: “Tornado a Nan Kim o anno de 1600, visitou o Padre Matheus Ricio que estava naquella Corte, e ainda que começou a tratar da Ley de Deos, tudo foi tão de corrida e tão acaso que nenhua impressão fez nelle o que ouvio”. Todavia, decorridos três anos, encontrando-se em Xangai (Shanghai 上海), decidiu dirigir-se de novo a Nanjing 南京, em busca de Ricci. Anota Gouvea que, por esse tempo, Xu Guangqi 徐光啟 “andava suspenso, porque na sua Seyta dos Letrados [Confucionismo] não avia menção da outra vida nem das almas. Tinha ouvido muyto dos Pagodes [Budismo] e do que os seus menistros contam do inferno, mas nada o aquietava”. Em Nanjing 南京 não encontrou Ricci, mas sim o jesuíta português João da Rocha, que o acolheu, catequizou durante vários dias e, por volta de 15 de Janeiro desse mesmo ano, lhe administrou o baptismo, como informa Gouvea: “No anno de 1603, tornando o Siu a Nan Kim, visitando o Padre João da Rocha, Superior daquella Casa, começou a tratar em forma de sua Salvação. Alegrou-se muyto de ouvir praticar o Padre […]. Finalmente, com muyto boa intelligencia da Ley de Deos, recebeo o Santo Baptismo por mão do Padre Rocha, que a teve para dar à Missam da China tam grande encosto e columna. Chamou-se Paulo, competindo nelle Virtudes e Letras. Subio ao auge das honras sinicas, que he a dignidade de Colao. Sua fé foi tam firme, sua Christandade tam solida, que por toda esta historia o traremos sempre na penna e na memoria”. Tendo alcançado o grau de doutor, em Abril de 1604, fixou-se em Pequim (Beijing 北京), onde entrou em grande familiaridade com os jesuítas aí residentes e, em particular, com Matteo Ricci, de quem se tornou amigo e admirador, e sob cuja orientação traduziu e publicou, em 1606 e 1607, os seis primeiros livros dos Elementos, de Euclides. Em Maio de 1607, por ocasião da morte de seu pai, dando cumprimento a uma velha tradição chinesa, retirou-se para Xangai (Shanghai 上 海), sua terra natal. Durante a sua permanência e com o seu apoio explícito, foi possível dar início, nesta vila, a uma das mais promissoras comunidades cristãs de toda a missão. O seu regresso a Pequim (Beijing 北京) teve lugar em 1611, cerca de um ano após a morte de Ricci. A intervenção do Doutor Paulo em defesa do Cristianismo teve um dos seus pontos fortes durante o chamado processo de Nanjing, movido pelo vice-presidente do Tribunal dos Ritos desta cidade, entre 1615 e 1617. Não só movimentou toda a sua influência junto dos mais altos mandarins da corte imperial, como redigiu e divulgou uma apologia da fé cristã e acolheu em sua casa vários missionários, pondo seriamente em risco, quer a posição social, quer a própria vida. Com o objectivo de dar visibilidade aos conhecimentos científicos dos missionários e, através deles, granjear a benevolência do imperador e dos mais destacados mandarins para com o Cristianismo, em 1629, exercendo o cargo de subsecretário do Tribunal dos Ritos, Paulo Xu propôs os nomes dos jesuítas Giacomo Rho e Johann Terrenz Schreck para a reforma do calendário chinês. Esta tarefa viria, efectivamente, a ser concluída com êxito em 1635, graças à dedicação e capacidade científica dos padres Rho e Adam Schall, este último em substituição de Schreck, falecido em Maio de 1630. Não raras vezes fez, o Doutor Paulo, uso da sua influência junto do imperador e dos altos dignatários da corte, a favor da cidade de Macau e dos missionários e mercadores portugueses aí residentes. Apesar de ocupar um dos mais importantes e prestigiantes cargos da hierarquia imperial, quando morreu, em Novembro de 1633, encontrava-se tão pobre que não deixou dinheiro suficiente para o funeral. A expensas do erário público, foram os seus restos mortais conduzidos a Xangai (Shanghai 上海) e aí solenemente depositados numa sepultura mandada construir pelo próprio imperador. Considerado por todos como uma das mais firmes colunas da Igreja chinesa, a memória de Paulo Siu permaneceria ainda viva, durante várias gerações de missionários. Testemunha privilegiada dessa memória foi o padre António de Gouvea que, tendo chegado a Xangai (Shanghai 上海) apenas três anos após a sua morte, teve oportunidade não só de ouvir os relatos da sua virtude, mas também de contactar pessoalmente com a esposa, filho e netos, cuja piedade elogiou em várias das suas obras, de que é exemplo expressivo o seguinte passo da Carta Ânua, de 1636: “Fez-se na nossa Igreja um Presepe muito lindo e bem feito, concorrendo para elle com esmolas os netos e netas do Colao […]. A molher do Colao com todas as suas netas vierão à Igreja; nella estiverão toda hua tarde, folgando muito de ver o santo Presepe, perguntando muito meudamente por tudo o que nelle havia. Quando foy pelos Reys, tornarão a vir e ouvirão praticar daquelle misterio; confessarão-se todas e procedem como netas de tão bom christão como foy o Doutor Colao Paulo […]. O filho do Doutor Colao Paulo procede na materia de Christandade como dantes, sempre muito inteiro e grave, muito recolhido e retirado, e com grande cuidado sobre seus filhos e filhas e sobre toda sua familia, que sejão bons christãos e que adorem e sirvão ao verdadeiro Senhor do Ceo”. [H.P.A.] Bibliografia: Biblioteca da Ajuda, Lisboa, Códs. 49-V-1 e 49- V-2; D’ELIA, Pasquale, Fonti Ricciane, 3 vols., (Roma, 1942- 1949); GOUVEA, António de, Cartas Ânuas da China (1636, 1643 a 1649) , (Macau; Lisboa, 1998); SEMEDO, Álvaro, Relação da Grande Monarquia da China, (Macau, 1994).
SIU, DOUTOR PAULO (1562-1633)
BRAGA, MARIA ONDINA SOARES FERNANDES (1932-2003). Maria Ondina Soares Fernandes Braga nasceu em Braga em 1932 e estudou na Alliance Française em Paris, licenciando-se em língua inglesa pela Royal Asiatic Society of Arts de Londres. Foi professsora de Inglês e de Português em Angola, Goa e Macau, residindo em Lisboa desde 1965. Macau e a China estão bem patentes na obra da escritora, que viveu em ambos os locais: entre 1961 e 1965 em Macau, onde foi professora no Colégio Santa Rosa de Lima, e em 1982, em Pequim, tendo leccionado na Secção de Português do Instituto de Línguas Estrangeiras. Em 1965 publicou o seu primeiro livro, Eu Vim para Ver a Terra, no qual reune crónicas de Angola, Goa e Macau. Três anos depois é a vez de dar à estampa alguns contos de inspiração chinesa, escritos em Macau, na obra A China Fica ao Lado, com diversas edições, e traduzida para chinês em 1991. Nesse mesmo ano publicou Nocturno em Macau, obra galardoada com o Prémio Eça de Queirós, da Câmara Municipal de Lisboa. A notória ligação de Ondina Braga à China passa ainda pelo facto de, mesmo a sua autobiografia romanceada, que mais tarde viria a constituir o livro Estátua de Sal, ter sido escrita em Macau (1963), sem, naturalmente, deixar de referir a sua Angústia em Pequim, publicada em 1984. Ciclo este da vida da escritora de alguma forma fechado com Passagem do Cabo (1994), em que, tal como no seu primeiro livro, reune crónicas de Angola, Goa e Macau, sendo, no entanto, patente uma postura de despedida dessas terras que viu. Em Março de 1990, Ondina Braga voltou a Macau, o que se repetiria no ano seguinte, por ocasião do lançamento da versão bilingue de A China Fica ao Lado. As impressões que então colheu da terra que lhe fora tão familiar estão registadas em diversos artigos, crónicas e entrevistas publicados na imprensa local e nacional, de que também foi colaboradora assídua. No Território, Ondina Braga tem publicação dispersa, ao nível literário e ensaístico, nomeadamente na Revista de Cultura e na Macau. Sendo uma das contistas portuguesas mais prestigiadas e galardoadas da actualidade, Maria Ondina Braga, desenvolveu, com igual êxito, a novela, a crónica, a narrativa, a biografia, o ensaio e a tradução. A sua colectânea de contos, A Filha do Juramento, composta por três livros, sendo o segundo deles dedicado à China, publicada em 1995 na cidade de Braga, assinalou a passagem do 30.° aniversário da carreira literária da autora que, entretanto, retomou a vertente autobiográfica e memorialista ficcionada em Vidas Vencidas. – Principais Obras. Romances: Nocturno em Macau, 1991 (2.ª ed., 1993); A Personagem, 1978. Contos: A China Fica ao Lado, 1968 (4.ª ed., 1991); Amor e Morte, 1970; A Revolta das Palavras, 1975; A Filha do Juramento, 1995. Crónicas: Eu Vim para Ver a Terra, 1965; Passagem do Cabo, 1995. Novelas: Os Rostos de Jano, 1973; A Casa Suspensa, 1982; Lua de Sangue, 1986. Narrativa: Angústia em Pequim, 1984 (2.ª ed., 1988). Autobiografias e memórias romanceadas: Estátua de Sal, 1969 (3.ª ed., 1983); Vidas Vencidas, 1999. Publicação de conjunto: A Rosa-de-Jericó (contos escolhidos), 1992. Bibliografia: SENA, Tereza; BASTO, Jorge, Macau nas Palavras, (Macau, 1998).
BRAGA, MARIA ONDINA SOARES FERNANDES (1932-2003)
Académico francês que é nomeado, em 1868, professor do arsenal de Fuchau (Fuzhou 福州), construído pelos franceses a pedido do vice-rei Tso (Zuo 左) e onde reside durante sete anos. Parte de Marselha em Março de 1868 e, mais tarde, decide visitar a China durante onze meses, viagem no final da qual chega a Macau, deixando o Império do Meio cansado e entristecido pelo “deplorável espectáculo” causado pelo tufão de 1874. Em 14 de Dezembro desse ano, o viajante chega a França, onde redige artigos, apresenta comunicações na Société de Géographie sobre a cultura chinesa e publica, em 1878, A travers la Chine, na qual descreve sucintamente Macau, mais propriamente o poder destrutivo do tufão que assolou o território na noite de 22 de Setembro de 1874. A força dos ventos foi suficiente para a sua destruição se fazer sentir durante uma hora, durando a “cena de desolação” toda a noite. Os ruídos, os gritos das vítimas e as ruínas marcam esse momento aterrorizador, enquanto ladrões ateiam fogos em partes diferentes da cidade para poderem mais facilmente pilhar bens por todo o lado. A catedral é queimada, tal como muitas “centenas de casas”, tendo os tristes habitantes três opções: morrer afogados, ser queimados vivos ou esmagados pela queda dos edifícios. O autor refere a morte heróica do guardião do forte, que, respeitando as ordens do governador, não abandona o seu posto, que é invadido pelas ondas. De acordo com a narrativa, morreram mais de duas mil pessoas e inúmeros feridos encontravam-se entre os escombros, sendo a cidade forçada a desistir de enterrar todas as vítimas, optando por queimar alguns cadáveres no cais: “A cidade de Macau não era mais do que um montão de ruínas.” [R.M.P.] Bibliografia: ROUSSET, Léon, A Travers la Chine, (Paris, 1886 [1878]).
ROUSSET, LÉON (1845-?)
Poeta e historiador de renome de Guangdong 廣東. Juntamente com Chen Gongyin 陳恭尹 e Liang Peilan 梁佩蘭, eram conhecidos como os “3 Mestres Literários de Lingnan 嶺南 (Guangdong 廣東)”. Primeiro nome Shaolong 紹龍, cognome Jiezi 介子 e outro cognome Wengshan 翁山. Natural de Panyu 番禺, Guangdong 廣東. Em 1646, quando os manchus atacaram a cidade de Cantão (Guangzhou 廣州), participou na resistência organizada pelo seu mestre Chen Bangyan 陳邦彥. Após a segunda ocupação tártara de Guangdong 廣東, ocorrida em 1651, converteu-se em bonzo daoista para não ser perseguido. Após algum tempo de vida retirada num pagode em Panyu 番禺, percorreu o Norte da China, onde mantinha estreitos contactos com os chineses da etnia Han 漢 que resistiam à dominação tártara, numa tentativa de restabelecer a Dinastia Ming 明, pelo que foi objecto de uma ordem de captura nacional. Viu-se obrigado a se refugiar no mais restrito anonimato. Em 1662, voltou à sua natal Guangdong 廣東 e visitou Macau. Com a conquista tártara de Taiwan 臺灣, viu definitivamente perdida a causa da recuperação da Dinastia Ming 明 e passou a dedicar-se às letras. Da sua fértil produção literária, pode-se destacar Guangdongxinyu 廣東新語 (Novos Tratados de Cantão), que possui, além de uma entrada dedicada a Macau, múltiplas referências aos Portugueses desta região e uma vintena de poesias referentes a Macau nas suas antologias poéticas. [J.G.P.] Bibliografia: OU Chu; WaNg Guichen, Qu Dajun Quanji [Obras Completas de Qu Dajun], (Pequim, 1996); PTAK, Roderich, “Notes on the Kuang-Tung Hsin-Yü”, in Boletim do Instituto Luís de Camões, vol. 15, n°s. 1-2, (1981); QU Dajun, Guangdongxinyu [Novos Tratados de Cantão], 2 vols., (Pequim, 1985); TAN Kaijian, Mingqing Shidaifu Yu Aomen [Mandarins das Dinastias Ming e Qing e Macau], (Macau, 1998); WANG Zongyan, Qu Wensha Xiansheng Nianpu [Biografia Cronológica do Senhor Qu Wensha], (Macau, 1970); WU Zhiliang; IEONG Wan Chong, Aomen Baikequanshu [Enciclopédia de Macau], (Macau, 1999); ZHANG Wenqin, Aomen Yu Zhonghua Lishi Wenhua [Macau na História e Cultura Chinesas], (Macau, 1995).
QU DAJUN 屈大均 (1630-1696)
BOCARRO, ANTÓNIO (1594-?). António Bocarro nasceu em 1594, provavelmente em Abrantes. Filho de cristãos-novos, teve uma educação católica no colégio Jesuíta de Santo Antão. Mas, em 1610, foi convertido ao judaísmo por Manuel Bocarro Francês, um dos seus irmãos mais velhos. Em 1615 embarcou para a Índia, tendo prestado serviço militar em diversas expedições navais portuguesas. A determinada altura estabeleceu-se em Cochim, onde veio a casar e a estabelecer relações com a comunidade de judeus de origem portuguesa daquela cidade indiana. Por volta de 1624, contudo, depois de um período de sérias dúvidas existenciais, abraçou de novo o catolicismo, fazendo uma confissão voluntária perante a Inquisição de Goa, que o absolveu do seu passado judaizante. Em 1631, D.Miguel de Noronha, conde de Linhares, que tomara posse do governo do Estado da Índia dois anos antes, nomeava-o para o cargo de cronista e guarda-mor da Torre do Tombo goesa, com o propósito explícito de dar continuação às Décadas da Ásia, que haviam sido interrompidas com a morte de um dos anteriores cronistas, Diogo do Couto, em 1616. No exercício das suas novas funções, António Bocarro começou por preparar um Livro das plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental, vasta e rigorosa compilação, concluída em 1635, dirigida a Filipe IV de Espanha e III de Portugal, onde se fazia um levantamento exaustivo das possessões portuguesas no Oriente, bem como de todas as rendas de lá provenientes e de todos os cargos de nomeação régia. Este trabalho fora expressamente encomendado pelo monarca ibérico, poucos anos após a sua subida ao trono de Espanha e Portugal, em 1621, com o intuito de ficar a conhecer em maior detalhe a extensão das suas possessões orientais portuguesas, que, na realidade, se estendiam desde Sofala, na costa oriental de África, até Solor e Timor, nas mais remotas paragens da Insulíndia. Bocarro teve a valiosa colaboração de Pedro Barreto de Resende, secretário do conde de Linhares, que se encarregou de elaborar o magnífico conjunto de desenhos que ilustram a obra. Uma das descrições e um dos desenhos incluídos no Livro das Plantas são dedicados precisamente a Macau, porto luso-chinês que é apresentado como “uma das mais nobres cidades do Oriente, por seu rico e nobilíssimo trato para todas as partes, de toda a sorte de riquezas e coisas preciosas em grande abundância, e de mais número de casados e mais ricos que nenhuns que haja neste Estado” da Índia. Este trabalho de Bocarro ficou na época manuscrito, tendo apenas recentemente sido objecto de uma edição crítica. A Década 13, extensa crónica dos feitos portugueses no Oriente, entre 1612 e 1617, também preparada por Bocarro no período que vai desde a sua nomeação para cronista até 1635, ficou igualmente inédita, só vindo a ser impressa em 1876, pela Academia das Ciências de Lisboa. António Bocarro trata nesta obra dos cinco anos do vice-reinado indiano de D. Jerónimo de Azevedo, embora inclua igualmente bastante material sobre os anos imediatamente anteriores. Trata-se de uma fonte preciosíssima para o conhecimento da presença portuguesa na Ásia, na primeira metade do século XVII, período especialmente mal estudado pela historiografia recente, durante o qual se assistiu na Ásia à chegada em força de potências europeias como os Países Baixos e a Inglaterra, que desde cedo começaram a disputar muitas das posições estratégicas até então dominadas por Portugal. O cronista português, entretanto, dedica especial atenção à Ásia Oriental, revelando, à semelhança de tantos outros escritores europeus da época, especial fascínio e interesse pela China. A primeira e única edição da Década 13 é hoje uma obra extremamente rara, só disponível em bibliotecas especializadas, pelo que a volumosa obra do cronista português mereceria decerto uma nova edição. Até à sua morte, em 1642 ou 1643, Bocarro continuou a exercer o cargo para que fora nomeado em Goa. A documentação seiscentista permite atribuir a António Bocarro duas outras obras: uma Reformação do Estado da Índia, cujo paradeiro hoje se desconhece; e uma Relação dos feitos de Sancho de Vasconcelos, capitão português da fortaleza de Amboíno entre cerca de 1571 e 1591, publicada por Artur Basílio de Sá em 1956. Na realidade, esta última obra parece ter sido escrita por algum autor anónimo e apenas transcrita por Bocarro. Bibliografia: BOCARRO, António, O Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado da Índia Oriental, 3 vols., (Lisboa, 1992); BOXER, Charles R., “António Bocarro and the Livro do Estado da Índia Oriental”, n.° especial, (Lisboa, 1956), pp. 203-218.
BOCARRO, ANTÓNIO (1594-?)
Personagem: | Pessanha, Camilo de Almeida |
Tempo: | Época da República entre 1911 e 1949 |
Após o estabelecimento da RPC em 1949 até 1999 | |
1916 | |
1990 | |
Local: | Portugal - Lisboa |
Palavra-chave: | Poeta |
Português |
Fotografia: | Pires, Daniel |
Fonte: | Arquivo de Macau, documento n.º MNL.01.09f.Icon |
Entidade de coleção: | Arquivo de Macau |
Fornecedor da digitalização: | Arquivo de Macau |
Idioma: | Português |
Tipo: | Imagem |
Fotografia | |
Preto e branco | |
Formato das informações digitais: | TIF, 1324x2000, 7.58MB |
Identificador: | p0001240 |
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