1515-1517 – Tomé Pires (Pequim); 1552 – Diogo Pereira / Francisco Xavier S.J.; 1554 – Leonel de Sousa (ao largo de Cantão); 1563-1565 – Diogo Pereira / Gil de Góis (Cantão); 1582 – Matias Panela / Michelle Ruggieri S.J. (Zhaoqing 肇慶); 1600 – Matteo Ricci (Pequim); 1631 – Seis macaenses anónimos (Cantão); 1651 – Diogo Vaz Bávaro / Pedro Rodrigues Teixeira / Manuel Pereira S.J. (Cantão); 1667/1670 – Manuel de Saldanha (Pequim); 1678 – Bento Pereira de Faria (Pequim); 1710 – Francisco Cardoso S.J. (Pequim); 1726 – Alexandre Metello de Sousa e Menezes (Pequim); 1752 – Francisco Pacheco de Sampaio (Pequim); 1784-1785 – D. Frei Alexandre de Gouveia (Pequim). Os aspectos diplomáticos da gente lusa revestiram-se de dois tipos de interesses: os de natureza oficial oriundos de Goa ou Lisboa e os de natureza privada projectados pelos membros da elite macaense que esperavam a curto prazo por respostas e autorizações das autoridades mandarínicas. Essa limitação em termos de tempo era pouco consentânea com a morosidade das viagens e, principalmente, das respostas emanadas do vice-reinado de Goa ou até da própria Coroa. Ao distanciamento geográfico que impedia uma regular troca de correspondência, juntava-se a falta de compreensão por parte do poder central face às estratégias usadas pela elite macaense no dia a dia, bem como os constantes ataques piratas – de europeus e gente local – aos navios portugueses, que acarretavam significativas baixas. Desde a tentativade estabelecimento no sul da China, na década de cinquenta do século XVI, local fortemente aliciado pela existência das duas feiras anuais em Cantão e pela proximidade do Japão, assim como de Malaca, até ao século XX, houve sempre constantes pressões e épocas conturbadas para a continuação da comunidade portuguesa em Macau. No entanto, a permanência foi sendo gradualmente adquirida. Já no século seguinte a situação da cidade sofreu reveses muito sérios devido a vários factores como a queda da dinastia Ming 明 em 1644 e substituição pela Qing清, que acarretou várias guerras civis durante as décadas seguintes, a conquista de Malaca pelas forças holandesas deixando Macau desamparada em termos militares, a expulsão dos portugueses do comércio do Japão, a restauração da coroa portuguesa em 1640 (cuja notícia chegou à cidade apenas dois anos depois), a pirataria constante das gentes locais e de europeus que ao longo do século XVII foram ocupando espaços estratégicos na Ásia, e a terrível proibição de comércio, emanada pelo imperador Kangxi 康熙 em 1661 (chegou a mesma a Macau no ano seguinte), fazendo recuar todas as vilas e cidades das zonas costeiras das cinco províncias do sul da China. Esta proibição levou a cidade de Macau a um índice de pobreza sem precedentes desde o seu estabelecimento, pois, como não era zona agrícola, sem trato, a cidade lusa praticamente desapareceu. Dado que não era possível a utilização da força militar, a elite macaense optou pelo recurso diplomático. Assim, vão providenciar uma série de atitudes diplomáticas, levadas a efeito nessas épocas de maior aperto económico. Foi o caso de 1552 – Diogo Pereira/Francisco Xavier S.J.; 1554 – Leonel de Sousa (ao largo de Cantão); 1563-1565 – Diogo Pereira / Gil de Góis (Cantão); 1582 – Matias Panela / Michelle Ruggieri S.J. (Zhaoqing 肇慶); 1631 – Seis macaenses anónimos (Cantão); e 1651 – Diogo Vaz Bávaro / Pedro Rodrigues Teixeira / Manuel Pereira S.J. (Cantão). O conjunto de atitudes da elite vai oscilar entre as suas necessidades e as linhas políticas seguidas pelo governo chinês face aos acontecimentos históricos que se iam dando no império. No entanto, o principal centro político a ter em conta era justamente as autoridades das provncias de Guangdong廣東 e Guangxi廣西, para depois se irem alargando à escala do império, nomeadamente até ao seu centro principal, Pequim. Nesta perspectiva prendem-se as missões de Pereira e Xavier em 1552 e Sousa dois anos depois, no sentido de negociar em nome dos interesses privados portugueses a obtenção de uma base no sul da China. No entanto, atribui-se a Leonel de Sousa a carta de assentamento em 1554. Neste conjunto de atitudes houve o ultrapassar das autoridades lusas sedeadas em Goa e mesmo do capitão-geral de Malaca que, em última análise, deveria ser consultado para o efeito, em busca da sua concordância oficial. As missões em épocas de maior crise corresponderam de 1644 a 1678, com a de Bávaro,Teixeira e Pereira em1651,e em 1678 com a de Faria. Paralelamente a uma actividade diplomática de carácter mais privado e local por parte da elite macaense, houve uma outra oficial de estado a estado e delineada por Goa ou por Lisboa. As embaixadas e missões diplomáticas havidas entre Portugal/Macau e a China podem ser divididas em dois períodos distintos: o tempo da cortesia e otempo da soberania. No primeiro incluem-se as embaixadas de Tomé Pires (1515), Saldanha (1667) proveniente de Goa, e as de Metello de Souza e Meneses (1726) e Francisco Sampaio (1752). A deslocação de Matteo Ricci (1600), acompanhado pelo padre Pantoja, ao imperador Wanli 萬歷 aparentemente não teve o estatuto das anteriores, e provavelmente serviu apenas para abrir as portas da corte imperial à Companhia de Jesus, protagonizada no ano seguinte exactamente pelo jesuíta Mateus Ricci. No segundo período enquadra-se a deslocação de frei Alexandre de Gouveia, que levava a Pequim a prova de direitos de Portugal relativamente a Macau, atitude diplomática bastante diferentedas anteriores. A embaixada de Tomé Pires, embora enviada por Portugal teve um carácter pioneiro e de apresentação do rei português. Dado o desconhecimento do regime protocolar chinês, bem como dos seus costumes culturais, aliado à pouca sorte de terem realizado a deslocação numa época que coincidiu com o falecimento do imperador, a missão diplomática saldou-se por um fracasso de consequências trágicas para os seus participantes. As outras três embaixadas, Saldanha, enviada por Goa em 1667, a de Metello de Souza e Menezese de Francisco Sampaio, ambas enviadas por Lisboa em 1726 e 1752 respectivamente, consideram-se embaixadas de estado a estado, portanto ao mais alto nível. Foram projectadas para resolverem problemas relativos à sobrevivência de Macau e ao trabalho evangélico executado no âmbito do Padroado português, caso da de Saldanha, que pretendeu conseguir a chapa sínica a permitir a liberdade do comércio, fundamental para a sobrevivência da comunidade lusa de Macau, e as de Metello e Sampaio que desejavam maior liberdade de culto cristão na China, parar com as perseguições que estavam a ser alvo os missionários dentro do país e resolver as constantes disputas entre o Padroado Português e a Propaganda Fide. No entanto, cedo se desiludiram os referidos embaixadores pelo simples facto de terem sido fortemente aconselhados pelos jesuítas da corte imperial a não referir em Macau, pois as suas deslocações à capital tinham sido muito observadas pelo poder mandarínico, que tinha colocado sérias reservas à sua admissão em território chinês. Para alcançar a permissão de entrada tinha sido dito que o proposto das embaixadas se devia a uma atitude de cortesia e como tal, teriam de ser consistentes nessa ideia para evitar o descrédito e suspeição sobre os missionários obreiros da permissão imperial de entrada. O caso de Saldanha foi diferente dos seus congéneres, porque esteve cerca de dois anos em Cantão antes de receber autorização para prosseguir viagem. Dados os poderes de que vinha investido, depressa se envolveu nos assuntos da cidade, e nos conflitos e rivalidades próprios de uma cidade mercantil de pequena dimensão. No entanto, uma vez a caminho de Pequim, demarcou-se dos interesses da cidade e assumiu os propósitos oficiais da embaixada, dando origem a um desentendimento como secretário da embaixada, Bento Pereira de Faria, homem que representava o Senado e os interesses da elite mercantil. Se as três embaixadas não lograram atingir propósitos benéficos para a cidade, representaram muito bem Portugal, e nesse contexto tiveram recepção ilustre que também se traduziu pelos presentes oficiais oferecidos pelo imperador ao monarca português. Na sequência desta embaixada, teve lugar uma representação diplomática dirigida por Bento Pereira de Faria em1678, portador de um presente singular, um leão, para o imperador Kangxi 康熙. Os seus objectivos eram restabelecer o comércio no sul da China, nomeadamente para Macau. O animal provocou grande impacto na época, não só na China como por todo o Sudeste Asiático, entre os portugueses, que, em missivas trocadas entre si, se referiam ao presente de forma um tanto irónica, quando as suas pretensões políticas ou comerciais resultavam goradas. Com o século XVIII e com o governo de Marquês de Pombal (1750-1777), em Portugal viveu-se uma época de profundas reformas respeitantes ao reforço da intervenção estatal nos sectores da organização administrativa, políticomilitar e económica ultramarina. Esta linha política intensificou-se com a entrada em funções de Martinho de Mello e Castro, que, já no reinado de D. Maria II, acabaria por substituir o próprio Pombal. Macau foi um dos alvos dessa nova legislação que pretendia diminuir o espaço de manobra política e de autonomia governativa de poderes locais. Desta forma, o choque entre o Senado, representativo dos interesses da elite macaense, muito ciente da sua autonomia adquirida ao longo dos anos de permanência no Território e baseada no distanciamento geográfico já acima referido, e o novo governante nomeado foi inevitável. Coincidente no tempo, deu-se uma nova política chinesa visando uma melhor coordenação das actividades de estrangeiros em território chinês. A nova política de regulamentação foi levada à prática em 1725, mas a sua forma mais perfeita foi atingida no reinado de Qianlong 乾 隆 (1736-1795), particularmente em 1749, através do pacto convencional de doze artigos (Convenção do Décimo Quarto Ano do reinado de Qianlong). Isto traduziu-se por desentendimentos entre o governador e as autoridades mandarínicas sobre a aplicação da justiça sobre estrangeiros residentes no território de Macau. Criou-se assim uma situação em que o Senado demonstrava grande submissão em relação ao poder chinês e o desejo da política portuguesa de manter uma soberania que apenas teoricamente existia. A ruptura de Lisboa com o Leal Senado não demorou, e, em 1783, Mello e Castro decretou a implementação de um plano de reformas políticas, financeiras e militares para Macau. Mais do que uma reforma administrativa, pairava a vontade política de rever e modificar a questão da legitimidade da soberania portuguesa em Macau, desta feita centrada sobre o direito de conquista da Coroa portuguesa. Este tornou-se o principal propósito da embaixada de Gouveia, levada a cabo em 1784 a Pequim. O embaixador ainda teve por incumbência criar uma estrutura de apoio à diplomacia portuguesa, através de um grupo de tradutores e intérpretes capazes de substituírem os jesuítas, bem como acreditação de um ministro português em Pequim, de forma a fomentar bons contactos futuros. A embaixada saldou-se por um fracasso. A partir desta época, e com a imposição das reformas pombalinas a Macau, e também em face de pequenas crises de relacionamento com o mandarinato provincial, a diplomacia da cidade ficou sujeita a um enquadramento gradual na política oficial portuguesa em relação à China.
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