Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
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Trata-se de um significativo conjunto de cerca de seis mil folhas manuscritas, cronologicamente situadas, na sua grande maioria, entre meados do século XVIII e a primeira metade da centúria seguinte. A temática desta documentação diz respeito às relações entre as autoridades portuguesas e chinesas a propósito do território de Macau, versando múltiplos e variados temas, no âmbito dos contactos ofic
Após meses de preparação, a caravana constituída por três Mitsubishi Pagero, baptizados com os nomes de Macau, Taipa e Coloane partiram, do simbólico Jardim Camões, em Macau, para o II Raide Macau-Lisboa, no dia 27 de julho de 1990.
Chegamos a ver fotografias antigas de Macau, cujos cenários são irreconhecíveis. Agora o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro coloca as fotografias antigas de Macau nos cenários actuais, permitindo-nos viajar nos diferentes tempos ......
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Jesuíta e matemático italiano do século XVII, que foi missionário na China. Originário de uma nobre família milanesa, nasceu em Pavia a 29 de Janeiro de 1592 e ingressou na Companhia de Jesus em 1614, quando estudava teologia no colégio dos jesuítas de Milão. É provável que leccionasse matemática no mesmo colégio entre 1616 e 1617, altura em que foi chamado a Roma, ordenado padre e destacado para a missão da China. Nesse período, terá ainda frequentado a academia de matemáticas de Roma durante alguns meses. Embarca em Lisboa, em Abril de 1618, integrado na expedição de 22 missionários liderada pelo padre belga Nicolas Trigualt, a qual se distinguiu pelos vários astrónomos e matemáticos que a compunham e por transportar consigo uma importante colecção de mais de 7.000 livros científicos, que seria a base da Biblioteca Jesuíta de Beijing. Rho concluiu os seus estudos de teologia em Goa e chegou a Macau em 1622. A 24 de Junho desse ano, combateu ao lado dos macaenses contra a tentativa de assalto da esquadra holandesa comandada pelo almirante Cornelis Reijersz. Esta defesa ficaria célebre pelo recurso que o padre Rho e outros jesuítas fizeram ao uso de canhões a partir da posição que ocupavam na fortaleza de S. Paulo do Monte. Em 1624, Rho acompanhou o padre Alfonso Vagnoli ao interior da China, tendo realizado actividade apostólica na província de Shanxi 山西 (residência de Jiangzhou 江州), ao longo de cerca de seis anos. Em 1630, foi enviado pelo vice-provincial Manuel Dias (o júnior) para a Corte de Beijing 北京, a fim de colaborar com o padre alemão Johann Adam Schall von Bell nos trabalhos de correcção do calendário imperial. Esta convocatória surge na sequência da morte do suíço Johann Terrenz Schreck, S.J. (Terrentius), que tivera esses trabalhos a seu cargo desde o ano anterior. Na qualidade de conselheiros técnicos do Tribunal de Astronomia de Pequim (Qintian jian 欽天監), Rho e Schall serão responsáveis pela formação de vários jovens chineses nas matemáticas ocidentais e pela divulgação de diversos textos científicos europeus. Os seus esforços conjuntos culminam em 1635, quando apresentam o Chongzhen lishu 崇貞歷 書 [Novo Calendário do Ocidente]. Este, representa um momento decisivo na notável assistência que os jesuítas emprestariam ao Tribunal de Astronomia, até ao início do século XIX, assinalando, simultaneamente, a reforma da astronomia matemática chinesa e o princípio da transmissão da ciência da Europa para a Ásia. Giacomo Rho morre em Pequim (Beijing 北 京), em finais de Abril de 1638, depois de ter assinado dezenas de obras em chinês sobre matemática e astronomia europeia, sobretudo referentes aos manuais de instruções concebidos para a reforma do calendário. Entre estas encontra-se um tratado de análise neperiana, editado em 1628, que Nicolau Smogulenski e Xue Fengzuo 薛鳳祚 completaram em 1654 com novas tabelas de logaritmos. Também merece destaque o seu livro intitulado Wuwei lizhi 五緯歷 指 [Uma Introdução aos Cinco Planetas], no qual já assinala as contradições existentes entre a cosmologia aristotélica e as novas observações, conforme o desafio colocado pelo sistema cosmológico de Tycho Brahe. O padre Rho também publicou, na China, diversas obras sobre matérias de doutrina cristã e viu editadas, na Europa, várias cartas suas, duas das quais constituem o título Lettere del Padre. Giacomo Ro della Compagnia di Giesù Doppò la sua partenza di Lisbona per la Cina, che fù alli 6. d’Aprile 1618. Scritte al Signor Alessandro Rò I.C. suo Padre in mezo al Océano, Et poi da Goa capo della Indie orientali Al Signor Paolo suo fratello, publicada em Milão, 1620; tradução alemã, Augsburgo, em 1622. [F.R.O.] Bibliografia: BALDINI, Ugo, “The Portuguese Assistancy of the Society of Jesus and Scientific Activities in its Asian Missions until 1640”, in SARAIVA, Luís (dir.), História das Ciências Matemáticas, Portugal e o Oriente/History of Mathematics, Portugal and East Asia, (Lisboa, 2000), pp. 49-104 ; BRAGA, José Maria, Jesuítas na Ásia, (Macau, 1998); CARAYON, Auguste, Bibliographie Historique de la Compagnie de Jésus, (Genebra, 1970); DEHERGNE, Joseph, Répertoire des Jésuites de Chine, de 1552 à 1800, (Roma, 1973); DUTEIL, Jean-Pierre, Le Mandat du Ciel. Le Rôle des Jésuites en Chine, de la Mort de François-Xavier à la Dissolution de la Compagnie de Jésus (1552- 1774) , (Paris, 1994); IANNACCONE, I., “Giacomo Rho: un Astronomo Italiano del ’600 in Cina”, in Atti del LXIII Congresso Nazionale della Società Italiana di Fisica, (1987), pp. 241-245; HALSHBERGHE, Nicole, “Fontes e Interpretação do Capítulo I ao IV do Xin Zhi Lingtai Yixiang Zhi, discurso sobre os instrumentos astronómicos recentemente construídos no Observatório de Ferdinand Verbiest, Beijing, 1674”, in Revista de Cultura, n.º 21, II ser., (Macau, 1994), pp. 205-228; HAN Qi, “F. Furtado (1587-1653) S.J. and his Chinese Translation of Aristotle’s Cosmology”, in in SARAIVA, Luís (dir.), História das Ciências Matemáticas, Portugal e o Oriente/History of Mathematics, Portugal and East Asia, (Lisboa, 2000), pp. 169- 179 ; HASHIMOTO, Keizo, Hsü Kuang-ch’i and Astronomic Reform – The Process of the Chinese Adaptation of Western Astronomy, 1629-1645, (Osaka, 1988); HUANG Qichen, “Macau, Ponte do Intercâmbio Cultural entre a China e o Ocidente do Século XVI ao Século XVIII”, in Revista de Cultura, n.º 21, II ser., (Macau, 1994), pp. 153-177; NEEDHAM, Joseph, “Les Sciences en Chine du XVIe au XVIIIe Siècle”, in NEEDHAM, J., La Tradition Scientifique Chinoise, (Paris, 1974), pp. 227- 236; PFISTER, Louis, Notices Biographiques et Bibliographiques sur les Jésuites de l’Ancienne Mission de Chine, 1552-1773, vol. 1, (Xangai, 1932); ROSS, Andrew C., A Vision Betrayed – The Jesuits in Japan and China 1542-1742, (Edimburgo, 1994); SOMMERVOGEL, Carlos, Bibliothèque de la Compagnie de Jésus, tomo VI, (Paris, 1895); VAËTH, Alfons, Johann Adam Schall von Bell, S.J. , (Colónia, 1933).
Esta calçada conduz à cidadela. A Fortaleza do Monte ponto-chave da defesa da cidade durante séculos. Para além de dispararem tiros de salva e assinalaram a aproximação dos tufões, não há notícia destes canhões terem alguma vez feito fogo a sério. Fizeram-no apenas uma vez. Um tiro só que salvou a cidade Foi no dia 24 de Junho de 1622.
Vamos hoje falar sobre uma data histórica de Macau, 24 de Junho de 1622. O dia 24 de Junho é considerado o Dia da Cidade em Macau, e também é considerado o dia de São João Baptista. Foi em 1622 que se deu a derrota dos holandeses, por coincidência, é também o dia de São João Baptista. E a Praça de Vitória tem esse nome precisamente para lembrar a vitória. O dia de São João Baptista foi incluído na lista do Património Cultural Intangível de Macau em 2020.
As pretensões holandesas para ocupar Macau remontam ao início do século XVII. Esta praça portuguesa desenvolvia um próspero negócio entre a China e o Japão, para além de outras lucrativas rotas secundárias. Todavia, todas as tentativas de ataque ao referido território, nomeadamente em 1601, 1603 e 1607, tinham-se mostrado infrutíferas, em termos de ocupação efectiva. Em 1611 os holandeses conseguiram estabelecer-se em Firando, no Japão. No entanto, esse entreposto não era suficientemente lucrativo para aquilo que pretendiam obter. Comparativamente com o volume de mercadorias transaccionadas pelos portugueses através de Macau, Firando revelava-se uma pálida fonte. Assim, os directores da Companhia das Índias Orientais Holandesas compreenderam que, para manter e engrandecer a sua posição em terras nipónicas, teriam que se instalar no sul da China. Daqui obteriam seda crua e, conjuntamente com mercadorias europeias, poderiam seguir rumo ao Japão, a fim de as transaccionarem por ouro, cobre e, principalmente, prata. Em 1619, Jan Pieterzoon Coen foi nomeado Governador-geral das Índias Orientais pelo Governo holandês e um novo ataque foi preparado a partir de 1621. Macau nessa época era uma praça aberta, sem guarnição, que seria relativamente fácil de ser conquistada, pois a cidade ainda não tinha fortificação expressiva, por falta do consentimento chinês, que a julgava não necessária. Contudo, possuía alguns baluartes e canhões. No burgo habitavam à volta de 700 a 800 portugueses e mestiços e cerca de 10.000 indivíduos de etnia chinesa. Em 1621 foi feito um pedido à população de Macau para fornecer 100 homens e armamento bélico para apoiar a dinastia Ming 明 contra os tártaros, que a Norte pressionavam cada vez mais. Assim, a cidade encontrava-se muito desfalcada de homens válidos, para além de, concretamente, não haver ninguém a assumir o comando da cidade (este função era uma prerrogativa do Capitãoda- nau do Japão, quando tinha que forçosamente permanecer na praça, antes de se iniciar a época propícia). Segundo Beatriz Basto da Silva, em Abril de 1622, por alvará de Goa, tinham sido providos no cargo de capitães- de-guerra o Padre Frei António do Rosário (dominicano), Fernandes de Carvalho e Agostinho Gomes, sem dependência dos capitães-da-nau do trato. No entanto, só tomaram posse em Julho do referido ano. Os holandeses consideravam a posição portuguesa muito delicada e, por tal motivo, alvo fácil para um ataque bem sucedido. O governador Coen, apesar de não querer de maneira alguma a participação inglesa no desembarque bélico, bem como na posse da fortaleza que os holandeses pretendiam erguer na praça lusa, aceitou o apoio dos ingleses e enviou dois navios, conjuntamente com mais dois holandeses, para bloquearem Macau. No dia 10 de Abril de 1622, a esquadra holandesa partiu de Batávia em direcção ao alvo a atacar. Faziam parte dela os seguintes navios: Zierikzee, comandado por Cornelius Reijersen, que acumulava o cargo de Comandante em Chefe da expedição; Groeningen, comandado pelo Capitão Bontekoe; Oudt Delft, sob o comando do Capitão Andriessen; Enchuizen, tendo D. Pietersen por Capitão; De Galiias, sob a responsabilidade de D. Floris; De Engelsche Bear, capitaneado por L. Naning; St. Nicholas, por J. Constant; e Palicatta, sob o comando do Capitão J. Jacobson. O número total de homens atingia os 1.024. Integrado neste número estavam oficiais, marinheiros, soldados guzerates (gente oriunda de Guzerate, na Índia), bandanenses (elementos da população das ilhas de Banda, tomadas pelo governador Coen entre 1619-1621) e alguns japoneses. Salvo os dois últimos navios indicados, de menor tonelagem, todos os outros eram naus. Segundo Charles Ralph Boxer, tinham entre 70 a 200 toneladas. Os tripulantes de menor categoria trabalhavam na arrumação da carga ou como remadores de botes. A armada realizou o seguinte itinerário: zarparam a 10 de Abril de Batávia, seis dias depois passaram pelo Estreito de Palembang ou Bangka, aportaram em Bintang a 3 de Maio e, dali, seguiram para Pulo Condore. Ao longo deste trajecto encontraram-se com outro navio holandês, Nieuw Zeelandt, que havia aprisionado barcos portugueses. No dia 26 do mesmo mês, chegaram à baía de Pandorang. Aqui, não só dominaram juncos chineses, como também se lançaram ao ataque de duas fragatas portugueses, que se encontravam cerca de 16 milhas a Norte. A 30 de Maio, o capitão Nieuwroode, com quatros navios de menor tonelagem, (o Haan, o Tiger, o Victória e o Santa Cruz), fez a sua aparição a fim de se juntar às forças atacantes. Entretanto, o capitão Bontekoe, a bordo dos navios enviados a Comorin [Cam Ranh] com o intuito de hostilizar as fragatas portuguesas que aí se encontravam, apresentou o resultado da sua expedição, que se tinha saldado pelo apresamento de uma das fragatas e incêndio de um junco chinês em fase de construção. Todavia, toda a tripulação, exceptuando o piloto, tinha conseguido escapar. Tal situação revelava-se preocupante, pelo facto de haver a possibilidade de uma fuga de informação sobre a pretensão holandesa, dando a oportunidade à cidade de se precaver contra um assalto inimigo. No dia 10 de Junho, a esquadra partiu de Comorin [Cam Ranh], onde tinha chegado três dias antes, mas sendo já composta por 11 navios. Pelo caminho encontraram um junco de guerra do Sião com japoneses, entre a tripulação vulgar. Estes, que já tinham estado ao serviço dos portugueses de Macau e tinham logrado escapar depois de uma contenda com os siameses, ofereceram-se para integrar a expedição holandesa de ataque. Após uma redistribuição de todos os homens envolvidos, surgiram nove companhias de soldados e marinheiros europeus, comandados por nove oficiais (estes, por sua vez, encontravam- se sob o comando de Reijersen). As nove companhias formavam três regimentos, que receberam 600 libras de munições de mosquete e espingarda, seis barricas de pólvora, um cirurgião, uma bandeira com as cores nacionais da Holanda, 60 escadas, 1.000 sacos e três peças de artilharia. No dia 20 de Junho passaram ao largo da ilha de Sanchoão, já muito próximo de Macau, e no dia 21 fundearam junto à localidade portuguesa, onde já se encontravam as quatros naus enviadas pelo Governador Coen. O total de europeus envolvidos no potencial ataque seria de 600. Entre as fontes portuguesas e holandesas surge uma certa discrepância sobre o número exacto, na medida em que apresentam sempre uma diferença de 200 homens envolvidos directamente no ataque. Provavelmente, segundo Charles Ralph Boxer, isso deveu-se ao facto dos holandeses não contabilizarem os japoneses, bandaneses e guzerates, por não serem europeus. Os mesmos aparecem referenciados nas fontes portuguesas, em virtude de se encontrarem entre as forças atacantes. Também nas cartas ânuas do Colégio de Macau, de 1622, a referência ao número de naus atacantes ascende a 27. No dia 22 de Junho desembarcaram três homens com o objectivo de sondarem, junto do bairro chinês, qual seria a receptividade da sua população em caso de ataque. Tal sondagem revelou- se infrutífera, obrigando mesmo, no dia seguinte, a ida a terra do próprio comandante em chefe, Reijersen, para fazer o reconhecimento da cidade e arredores, a fim de se decidir pelo melhor local para o desembarque das tropas. Assim, decidiu efectuar este a partir da praia de Cacilhas, a Nordeste da Península, desenvolvendo- o dessa zona para Sul. Entretanto, na tarde de 23 de Junho, com o objectivo de permitir estas manobras preparatórias, três navios holandeses travaram um duelo de artilharia com o baluarte de S. Francisco. O facto de tão grande armada estar fundeada junto a Macau, pos sibilitou aos moradores da praça a conclusão de um ataque massivo inimigo. Logo cedo do dia 24, o ataque desencadeou-se em duas frentes: uma ao baluarte de S. Francisco pelos navios Groeningem e Gallias e outra através das hostes atacantes na praia de Cacilhas. Utilizando o truque de incendiar uma barrica de pólvora, cuja fumarada escondia o desembarque, foi possível efectuar o mesmo com êxito. A defesa portuguesa era bem pobre. Integrava cerca de 60 portugueses e 90 filhos da terra, sob o comando de António Rodrigues Cavalinho. Neste confronto, os holandeses sofreram uma importante baixa, o próprio Reijersen, que embora não tivesse falecido, teve de ser evacuado para bordo. No entanto, as forças lusas foram recuando à medida que os inimigos iam avançando. O comandante substituto, Ruffijn, não conseguiu de imediato o apoio dos outros comandantes, impasse que permitiu aos moradores retirarem-se e reorganizarem uma defesa melhor. Na praia ficaram duas companhias com cem homens cada, tendo os restantes avançado sobre a cidade. Não havendo nesta um líder implicitamente aceite por todos, a defesa foi pensada e elaborada de forma colectiva. Distribuíram-se armas pelos elementos aptos para o contra-ataque, incluindo escravos. As mulheres e crianças refugiaram-se no seminário jesuíta de S. Paulo, por ser o único edifício sólido e eficaz para esse efeito na cidade. A atitude seguinte dos holandeses foi atacar e ocupar a colina da Guia, pois era ponto estratégico para bombardear a cidade. No entanto, viram os seus intentos gorados, pois um morador, Rodrigo Ferreira, com 8 europeus e 20 filhos da terra fizeram-lhes frente, obrigando ao seu recuo. Entretanto, já os comandantes dos fortes de Santiago e do Bom Parto se tinham apercebido que o ataque se estava desenrolar essencialmente a Nordeste da cidade e apressaram o envio de um reforço de homens sob o comando de João Soares Vivas. O padre Giacomo Rho, S.J., que se encontrava de passagem por Macau a caminho de Pequim, conseguiu infringir pesadas perdas ao inimigo ao atingir o paiol de pólvora dos mesmos, a partir da Fortaleza do Monte. Outra pessoa que se distinguiu neste combate foi Lopes Sarmento de Carvalho. O mesmo, ao carregar sobre os inimigos, conseguiu provocar uma baixa que desorientou os holandeses: a morte de Ruffijn. A partir desse momento iniciou-se a debandada holandesa. Perseguidos pelos portugueses, foram mortos ou morreram afogados na tentativa de alcançarem os navios, embora alguns se tivessem posto a salvo. Ao sentirem-se vitoriosos, os moradores agraciaram de imediato alguns escravos com a liberdade e, em seguida, dirigiram-se para S. Paulo, onde celebraram uma acção de graças. Reijersen, no seu diário, reconheceu a vitória dos portugueses, tendo também salientado as baixas sofridas entre os seus homens. Esta saldou-se por 136 mortos e 126 feridos com gravidade. Os holandeses perderam dez bandeiras, sete capitães, quatro tenentes, sete alferes e nove tambores. Pela parte portuguesa, referem as fontes que pereceram seis europeus (dois deles espanhóis) e alguns escravos. Houve cerca de 20 feridos, mostrando uma clara diferença de baixas sofridas entre os dois lados. As fontes documentais portuguesas divergem sobre estes números, já que as escritas em épocas posteriores apresentam um número bastante inflacionado sobre o número de vítimas entre os holandeses. Na opinião de Charles Ralph Boxer, o documento mais credível é o relato oficial português, redigido logo após o acontecimento, e que aponta 300baixas ao inimigo. Os holandeses afastaram-se de Macau a 29 de Junho, após uma tentativa infrutífera para resgatar os prisioneiros holandeses. A vitória dos moradores e comerciantes de Macau assumiu um significado de grande relevo junto dos holandeses: primeiro, não conseguiriam estabelecer-se no estratégico entreposto marítimo tão ambicionado; segundo, o comércio com o Japão dificilmente lhes iria para às mãos enquanto os portugueses lá continuassem. Deste modo, só após a conquista de Malaca, em 1641, é que os holandeses começaram a marcar terreno no Sudeste Asiático. O profundo golpe vibrado nas rotas alternativas dos mercadores de Macau foi significativo, não só pelo lucro proveniente, como pelo local de passagem entre Macau e a Índia. Em 1639-1640 os japoneses expulsaram definitivamente a elite macaense do seu círculo de negócios, dando então aos holandeses a oportunidade que esperavam havia já algumas décadas. O dia 24 de Junho, dia de S. João Baptista, tornou-se o Dia da Cidade de Macau e, em 1864, o Leal Senado decidiu erguer um monumento comemorativo da efeméride. [A.N.M.] Bibliografia: BOXER, Charles R., Estudos para a História de Macau, (Lisboa, 1991); COSTA, João Paulo (ed.), Cartas Ânuas do Colégio de Macau (1594-1627) , (Macau, 1999); LJUNGSTEDT, Anders, Um esboço histórico dos estabelecimentos dos Portugueses e da Igreja Católica Romana e das missões na China, (Macau, 1999); SILVA, Beatriz Basto da, Cronologia da História de Macau, 1°. vol., (Macau, 1992).
O conceito e história das forticações de Macau tem que ser visto não apenas como a memória de umas ruínas e monumentos arquitectónicos, mas na sua utilidade táctica nas estratégias político-militares. Macau pode orgulhar-se de ser o único exemplar existente no Sudeste Asiático representativo da evolução das teorias europeias das construções militares entre os séculos XVI e XX. Em meados do século XVI, a expansão do império português confrontava-se com a crescente escassez de soldados, de armadas e de recursos económicos. Por outro lado, o número de concorrentes e inimigos aumentava.Piratas e corsários infestavam os mares daEuropae da Ásia. Para manter a extensa rede ultramarina de entrepostos comerciais, os portugueses usaram um sistema de defesa marítima semelhante ao dos gregos, constituído por cidades forticadas, bem defendidas, comunicando entre si por uma marinha mista; mercante e militar. Este sistema permitia o máximo de rendimento com o mínimo de recursos. Para este efeito eram necessários portos seguros, com pontos fortes no alto de colinas. Os nossos parceiros ibéricos do Tratado de Tordesilhas, por possuírem a maior armada e exército da Europa, seguiam o clássico sistema mediterrânico, exemplificado em Cadiz, Havanae Veracruz, constituído por cidades planas, organizadas sob uma forma reticular, e defendidas por uma muralha poligonal envolvente, de acordo com o regulamento urbano imperial para as novas cidades coloniais conhecido por Ordenacões Filipinas. Este sistema‘sem colinas’ provou ser menos eficaz quando confrontado por poderosas armadas. Em Macau, a primeira fortificação em terra firme foi no Porto Interior, nas proximidades doJardim de Camões, onde se encontra a rocha onde o poeta Lusitano escreveu parte da sua odisseia. “Tem mais esta cidade Capitão Geral, que Governa as coisas da guerra com cento e cinquenta soldados” refere António Bocarro no Livro de todas as fortalezas da Índia Oriental. A primeira linha de defesa era constituída por embarcações armadas com artilharia, sobre tudo as naus de maior tonelagem ou galeões, que eram autênticos castelos no mar. A segunda linha de defesa eram as paliçadas e construções provisórias reforçadas com a artilharia proveniente dos barcos. Tanto portugueses como espanhóis, e mais tarde os holandeses, procuravam portos seguros, de defesa fácil, para estabelecerem com alguma segurança um entreposto comercial. Normalmente era escolhida uma zona da costa marítima, com entrada difícil e apertada em “S”, para impedir o ataque e entrada directa no porto. Em muitos casos, o acesso ao porto interior dos navios de guerra de maior tonelagem era realizado pelo reboque de embarcação a remos. O campo de tiro de varrimento horizontal das naus só era ultrapassado pela superioridade do tiro realizado a partir das fortalezas em zonas elevadas como as colinas. Progressivamente, em paralelo com o desenvolvimento das construções def nitivas promovidas pelas ordens religiosas, foram fortificados com a erecção de muralhas e artilharia as zonas do Monte, onde se construiu o colégio e fortaleza de SãoPaulo, na esplanada do convento de S. Francisco e no Ermitério dos monges agostinhos, no Bom Parto. Estas praças fortificadas permitiam dar fogo de cobertura nos portos interior e exterior. Na zona de transição, ou Barra, foi construída a fortaleza de S. Tiago. Na altura do ataque e desembarque holandês, realizado em 24 de Junho de 1622, apenas estavam operacionais peças de artilharia localizadas nas baterias de Bom Parto, Barra e na plataforma da fortalezado Monte, em fase de construção pelos jesuítas. O desembarque verifi cou-se na zona na praia Cacilhas, que carecia de fortificações. Somente após este ataque foi autorizada pelos chinesesa construção de muralhas e de fortes que asseguravam a defesa de um possível ataque pelo mar ou pelo continente. Já no período deregência de Filipe II, em 1589, Mateos de Saz começou a construção das muralhas de Manila. Em Macau, D. Francisco de Mascarenhas, primeiro capitão general de Macau, confiscou a fortaleza de São Paulo aos Jesuítas, expandiu as existentes baterias, e mandou construir fortalezas e baluartes na Guia, Penha, na Praia Grande. Assim, no mapa de António Bocarro de 1636 observamos que a cidade estava murada e pontuada de pontos fortes, que seguiam um modelo arquitectónico e urbano inspirado tanto na estruturas medievais como nas provenientes da experiência da Guerra dos Trinta Anos, nas quais foi alterado o conceito de fortaleza-castelo para o de plataformas detiro. A maioria destas construções eram de taipa, uma mistura compactada de argamassa de cal de pó de ostra (chunambo), lodo, areia e brita. Esta mistura era às vezes reforçada com palha. A fundação dos muros de taipa era feita com sólidos blocos de pedra. D. Francisco também ordenou a fundição de canhões perto doBom Parto, na zona designada por Chunambeiro, a cargo de Manuel Bocarro. A filosofia medieval de cerco e ataque a uma fortificação implicava um complexo sistema de construções e equipamentos, tais como fossos, valas, torres, aríetes catapultas, etc., que no início do século XVII foi totalmente substituído pelo uso de artilharia e das armas de fogo. As novas fortificações são mais baixas, em forma de estrela, com baluartes salientes, de interior ‘enchido’, para formar uma ampla esplanada e proporcionar uma plataforma de tiro, e com guarnição suficiente para um contra--ataque. No seu interior existem cisternas, arsenais, acomodação para as guarnições. Neste primeiro período de construções militares, que corresponde até finais do século XVII, Macau era uma cidade murada que compreendia as seguintes forças: Fortaleza de SãoPaulo, a maior e melhor apetrechada fortaleza de Macau, residência do capitão gera e mais tarde do governador de Macau até 1772; Fortaleza de N. S. daGuia; Fortaleza de S. Tiago da Barra; Fortaleza de N.S. do Bom Parto; Fortaleza de S. Francisco; Forte doPatane/Palanchica; B. de S. João; B. de S. Paulo; B. deS. Januário. Deste período apenas sobrevivem a Fortaleza do Monte,convertida num dos melhores museus históricos do Sudeste Asiático, a Fortaleza e Capela da Guia, e a Fortaleza da Barra, adaptada para Pousada. Do Bom Parto e S. Francisco apenas restam parte das muralhas e plataformas ajardinadas. O segundo período de Arquitectura militar inicia-se com a construção nas Ilhas, em 1847, da Fortaleza da Taipa, para protecção contra ataques piratas à vila da Taipa. Sob o impulso inicial do governador Ferreira de Amaral, foram realizadas construções militares para fortificação da colina de Mong-Há (Wangxia 望廈) em 1849 (concluída em 1866), Dona Maria II em 1852, Ilha Verde em 1865 (em ruínas) e Forte de Coloane em 1884. AFortaleza – “Messe na Taipa” possuía a maior capacidade de abrigo de tropas das ilhas. Também foram introduzidos trabalhos de modernização em várias fortalezas antigas, tais como na Fortaleza do Monte,Bom Parto e Guia. Em 1873 foi construída a Bateria 1.º de Dezembro, nos socalcos inferiores da Fortalezade São Francisco. O terceiro período de construções militares data do início do século XX, onde se evidenciam as teorias do pós-Grande Guerra de 1914-1918, particularmente através do conceito francês de defesa promovido pelo ministro francês André Maginot, uma versão moderna da muralha da China, nos anos 1930. A Linha Maginot de Macau foi construída ao longo da Colina da Guia, na Penha (já demolida), e na Colinada Taipa Grande. Os aspectos mais visíveis à superfície da Colina, ainda que camuflados pela vegetação, são as casamatas, bunkers e ninhos de metralhadoras. Por debaixo da Colina, ligados por túneis subterrâneos, existem cisternas, arsenais, elevadores para carregamento de munições, ventiladores, postos de comando, etc. As peças de artilharia de 75 mm podiam cobrir o Porto Exterior. Devido ao estado de guerra civil na China, das acções de pirataria e ao perigo de invasão japonesa, foram destacados para Macau dois braços móveis da Marinha, constituídos respectivamente pelos cruzadores Adamastor e República bem como foi criado em 1928, o centro de aviação naval de Macau, constituído inicialmente por três hidroaviões, na qual o hidroavião Santa Cruz, que fez a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em 1922. Os hangares da Taipa e do Porto Exterior de Macau foram destruídos pelos Americanos nos últimos dias da Guerra do Pacífico. Este sistema de defesa estático possuía o braço móvel de unidades navais e de hidroaviões. [F.V.P.] Bibliografia: GRAÇA, Jorge, As Fortificações de Macau, (Macau, 1984); JAVELLANA, René B., Fortress of Empire, (Manila, 1997); KWAN, Wong Shiu. “Arquitectura de Macau; Uma Mistura de Influências Portuguesas e Chinesas”, in Revista de Cultura, n.°s 34-35, (Macau, 1998) ; TEIXEIRA, Padre Manuel, Militares em Macau, (Macau, 1984); TEIXEIRA,Padre Manuel, Toponímia da Macau, (Macau, 1979); RODRIGUES, Manuel A. Ribeiro, 400 Anos de Organização e Uniformes Militaresem Macau, (Macau, 1999).
Hoje é difícil imaginar que aqui se tenha erguido a primeira fortaleza construída em Macau, mas é verdade. De facto não se tratava de uma fortaleza em pedra como as outras que existem em Macau. Não! Era um pequeno baluarte, uma espécie de trincheira construída com terra, troncos de árvore e reforçada com o célebre e resistente chunambo uma mistura feita à base de cascas de ostra e que ficava tão dura como o cimento. Palanchica era o nome dado a este tipo de estrutura.
Após a vitória da pequena guarnição militar coadjuvada por todos os homens válidos da colónia sobre os holandeses, em 24 de Junho de 1622, o Leal Senado proclamou S. João Baptista Padroeira da Cidade do Nome de Deus. E mais decidiu que essa data fosse assinalada todos os anos com várias cerimónias religiosas. E as gentes de Macau, por sua vez, sentiram sempre a obrigação de solenizar tal acontecimento. Não só porque a vitória alcançada fora decisiva para a continuação portuguesa em Macau, mas ainda porque o mesmo Leal Senado determinara que o 24 de Junho fosse comemorado como o Dia da Cidade. As cerimónias religiosas, correspondentes ao voto solene que havia sido feito, iniciavam-se na tarde do dia 23 de Junho, na Sé Catedral. Cantavam-se Vésperas, a que se seguia Missa de Pontifical, celebrada pelo Prelado Diocesano, que, à alturada homilia, usava da palavra para relembrar o seignificado histórico e religioso da vitória que fora alcançada sobre os invasores holandeses. Saía depois a Procissão, sendo transportada a imagem de S. João Baptista, que se venerava na capela privativa do edifício do Leal Senado. O andor do Santo Padroeiro, artisticamente ornamentado com flores naturais, era conduzido aos ombros dos fiscais municipais e ladeado por uma guarda de honra do Corpo de Bombeiros. Como todas as procissões que se realizavam na Sé Catedral, também esta seguia pelo Largo da Sé, descia a Travessa do Roquete,contornava o Largo do Senado, fazendo umapequena paragem em frente do histórico edifício doLeal Senado, subia a Rua de S. Domingos e regressavaà Se pela Travessa do Bispo. Abriam o cortejo os guiõese estandartes dos colégios e escolas diocesanas e, logoa seguir, a formar filas, os alunos do Seminário de S. José, membros do clero religioso e secular, e finalmente os venerados Cónegos da Sé. Sob o pálio, o Bispo de Macau empunhava o Santo Lenho, vendo-se, logo atrás, as autoridades civis e militares, estes envergando as suas fardas de gala. Em lugar de desta que, o secretário do Leal Senado transportava a bandeira da Câmara Municipal. Um grande acompanhamento fechava a procissão que era abrilhantada pela Banda Municipal, notando-se ao longo dos passeios muitos chineses, não católicos, a admirar tão luzido cortejo.
No dia 24 de Junho de 1685, os oficiais da Câmara da Cidade de Macau prestaram solenemente o voto público de, por si e por todos os seus sucessores que vierem a servir na Câmara, fazerem todos os anos a novena em honra de S. João Baptista, glorioso padroeiro e protector desta nobre e sempre leal cidade, com a mesma pompa e assistência do Senado, como se fez nesse ano de 1685, a fim deste Santo tomar debaixo do seu amparo a singular protecção desta cidade e interceder pela empresa, que se ia tentar, de abrir de novo as portas do Japão para comércio com esta cidade, com a viagem da fragata São Paulo.
Não existem referências sobre as estruturas militares portuguesas em Macau até 1583. A autoridade era exercida pelo capitão-mor das viagens ao Japão, quando ali estava à espera da monção favorável que o fizesse seguir caminho para o arquipélago nipónico. Em 1583, a jurisdição militar foi separada da administrativa. Esta ficou a cargo do Senado e a primeira foi confiada ao capitão-mor, que teria uma função de comandante militar. No entanto, apesar do comando se encontrar razoavelmente definido, continuava a ter um carácter precário, dado que o referido oficial apenas permanecia em Macau um período de tempo no ano. Assim, em 1621, os moradores fizeram sentir ao vice-rei da Índia a necessidade de um capitão permanente e soldados para defesa da cidade. O desejo era muito pertinente, como se verificou no ano seguinte, quando Macau foi atacada pelos holandeses. A defesa da mesma foi levada a cabo pelos próprios moradores e escravos, chefiados por Lopo Sarmento de Carvalho. Macau, nessa epoca, via nascer uma fundição de canhoes e artilharia que, durante muitos anos, funcionou como uma pedra basilar na zona do sul da China. A polícia da cidade teve a sua origem na Ronda, grupo de cidadãos que durante a noite faziam uma vigilia de forma a assegurar o sossego e o respeito pela propriedade de cada um. Com a evolução dos tempos, a mesma foi adquirindo outros contornos, apoiada por legislação e regulamentos, como o alvará régio de 30 de Abril de 1689, que atribuía ao Senado a nomeação dos capitães de ordenança, chefes responsáveis pelas rondas. A determinação foi repetida em 14 de Março de 1691 e a data constitui actualmente a comemorativa da fundação da Polícia de Segurança Pública deMacau. Em 1822, da referida corporação surgiu a Polícia Marítima e Fiscal, que se transformou em Polícia do Mar em 1868. Em 1849 aportou à cidade a Força Expedicionária à China, vinda de Goa. A referida força era composta de 5 oficiais e 100 praças, que utilizavam o uniforme do Regimento de Artilharia de Goa. A sua missão prioritária era reforçar todo o serviço extraordinário e ordinário de guarnição de Macau, tarefa até aí realizada pelo Batalhão de Artilharia. Com o desenvolvimento da cidade, os fortes e fortalezas foram aparecendo, levando à necessidade de centralizar o comando da força militar. A 30 de Janeiro de1850 foi nomeado João Tavares de Almeida para comandante do Batalhão de Artilharia, transformando essa unidade na primeira força militar efectiva de Macau. Em 1857, a corporação foi transformada no Batalhão de Macau, com estado-maior e menor, uma companhia de artilharia e três companhias de infantaria. No antigo Convento de S. Francisco foi construído um quartel, projecto da responsabilidade do então governador José Rodrigues Coelho do Amaral, inaugurado com o aquartelamento das tropas em 30 de Dezembro de 1866. Por Decreto de 2 de Dezembro de 1869, foram organizadas as Forças do Ultramar, e em Julho de 1870, foi criada a Legião do Ultramar,com três batalhões de infantaria. Em 18 de Abril de1876 foi extinto o Batalhão de Infantaria de Macau, tendo sido substituído pelo 1.º Batalhão do Regimento de Infantaria do Ultramar, destacado na cidade. Em 1883 foi criada a Inspecção de Serviços de Incêndio, com o objectivo específico de combater os fogos e socorrer vítimas. Essa corporação tornou-se no Corpo de Bombeiros em 1915, passando a usufruir de regulamento orgânico quatro anos depois. Por decreto de 16 de Agosto de 1895, foram extintas a Guarda Policial e a Companhia de Artilharia, e organizadas duas companhias de guerra, criadas no mesmo ano. A união destas duas constituiu o Grupo de Companhias de Infantariade Macau no dia 1 de Fevereiro de 1898. Dois anos depois, desembarcou na cidade o Corpo Expedicionário, constituído por uma companhia de caçadores, uma bateria de artilharia, e membros dos serviçosde Saúde e administrativos. Em Novembro de 1901foi aprovada uma nova organização do Ultramar, pela qual o Corpo da Polícia ficou militarmente organizado e composto por um pelotão de cavalaria e duas companhias de infantaria, uma europeia e outra de mouros e chineses. Em 1921 foi extinto o Corpo de Polícia e criadas três companhias, duas de infantaria e uma de metralhadoras. Dois anos mais tarde, nenhuma delas existia, tendo sido substituídas pelo Grupo Misto de Metralhadoras, que, em 1933, deu lugar à Companhia de Metralhadoras. Esta companhia teve várias designações ao longo do tempo, como Esquadrão Motorizado, Esquadrão de Reconhecimento e Esquadrão de Cavalaria. Oficialmente, teve o seu fim a 11 de Agosto de 1975. Paralelamente, existia o Batalhão de Caçadores do Norte, que chegou aMacau a 24 de Junho de 1946 e que nesse mesmo ano se transformou em Grupo de Companhias de Caçadores. O grupo foi substituído em 4 de Maio de 1948 pela Companhia Independente de Caçadores das Beiras, oriundos da Covilhã, Castelo Branco e Figueirada Foz. Em 1949, a cidade recebeu unidades expedicionárias, tendo uma Companhia de Engenhos. Em 22 de Setembro de 1951, o Comando, Formação eTrem RI1 (Unidade Mobilizadora de Portugal) foram transformados em Comando Militar e Quartel-General. Em 1957 e 1960 aconteceram várias reorganizações dessa corporação, tendo em 17 de Janeiro de1961, pelo Decreto-Lei n.º 43351 de 24 de Novembrode 1960, passado a designar-se Comando Territorial Independente de Macau (CTIM). Após aRevolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal, quando se fez sentir a necessidade de reestruturar as forças militares e militarizadas de Macau, foi extinto o CTIM, para dar lugar às Forças de Segurança deMacau. A cerimónia oficial que marcou a transição teve lugar no dia 30 de Dezembro de 1975, no Quartelde S. Francisco. Os últimos comandantes do organismo extinto foram o Tenente-Coronel de Engenharia Manuel Joaquim Álvaro Maia Gonçalves e o Major deArtilharia José Fernando Jorge Duque. A nova instituição foi consagrada através do Boletim Oficial n.º 292, I Série, pelo Decreto-Lei n.º 705/75. No seu artigo1.º estabeleceu-se que todas as forças militares e militarizadas de Macau ficariam debaixo de um único comando. E a sua organização compreendia, para além do comando, o Conselho de Segurança e as Forças deSegurança, que abrangiam a Polícia de Segurança Pública(PSP), a Polícia Marítima e Fiscal (PMF) e o Corpo dos Bombeiros (CB). A Polícia Judiciária cooperaria com as F.S.M. nos termos legalmente previstos. O Comandante seria um Oficial Superior do Exército, nomeado por despacho conjunto do Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e do Ministro competente do Governo da República, sob proposta do Governador de Macau. O referido comandante tinha e continuou a ter após a passagem da soberania em 1999 a categoria de Secretário-Adjunto da Segurança em Macau. A admissão dos quadros das diversas corporações fazia-se através do Centro de Instrução Conjunto (CIC), criado em 1977, que assegurava a instrução dos jovens admitidos nos Serviços de Segurança Territorial. Só em 1988 foi criada a Escola Superior das Forças de Segurança de Macau. O Conselho de Segurança tem funções consultivas e obrigatoriamente tem de ser ouvido quanto a questões relativas a emprego, organização e preparação d ainstituição. O organismo é constituído pelo Comandante e 2.º comandante das F.S.M., pelo respectivo Chefe deEstado Maior, pelos comandantes da P.S.P. e da P.M.F. e pelo Director da Judiciária. A P.S.P. é um corpo militarizado e tem por objectivo a protecção civil e a segurança interna, como assegurar a ordem e tranquilidadepúblicas; exercer a prevenção e repressão da delinquência; defender os bens públicos e privados, intervir na protecção civil e assegurar o serviço de migração. A Polícia Municipal é também um corpo militarizado, constituído por pessoal da P.S.P. destacado na Câmara Municipal e cujas tarefas são colaborar com a administração do município nas acções de fiscalização do cumprimento das posturas, regulamentos e outras determinações de interesse municipal; policiar os mercados e outros recintos municipais; fiscalizar a construção civil no domínio da prevenção das obras ilegais; promover medidas fiscalizadoras tendo em vista evitar a insalubridade e prevenir incêndios, fiscalizar estabelecimentos comerciais e hoteleiros; vigiar o património municipal e colaborar na resolução de problemas relacionados com os utentes. O comandante desta Polícia é nomeado por despacho do Comandantedas F.S.M., depois de ouvido o presidente do Leal Senado, entidade na qual pode ser delegado adirecção operacional e administrativa da P.M.. A Polícia Marítima e Fiscal, igualmente um corpo militarizado, destina-se a fiscalizar o cumprimento das leis e regulamentos marítimos e fiscais; assegurar a ordem e tranquilidade públicas nas zonas de jurisdição marítima, que incluem pontes, cais e praias; fiscalizar o embarque e desembarque de mercadorias; proteger os bens públicos e privados e, finalmente, intervir na protecção civil. O Corpo dos Bombeiros tem por objectivo a prestação de socorros em caso de incêndio, inundações; desabamentos ou qualquer sinistro que venha a pôr em causa a vida e haveres de pessoas; prevenção de incêndios em edifícios públicos ou municipais, casas de espectáculos e outros recintos abertos ao público; colaboração com outras forças em caso de calamidade pública ou de emergência; protecção de socorro a doentes e sinistrados, e colaboração nos trabalhos de protecção civil. A 28 de Janeiro de 1991, através do Decreto-Lei n.º 705/75, foi extinto o Comandodas Forças de Segurança de Macau e criada a Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau (DSFSM). O organismo foi criado como sendo uma unidade orgânica da Administração Pública deMacau, dotada de autonomia administrativa, a qual tinha atribuições de apoio técnico e administrativo no âmbito das Forças de Segurança de Macau. A Direcção organizou-se segundo um esquema onde existia um Conselho Administrativo, dependente da primeira, e vários departamentos como: Divisão de Pessoale Logística, Divisão de Administração, Serviço deInfraestruturas, Comissão Instaladora do Serviço de Informática, Serviço de Comunicações, Serviço deRelações Públicas e Secretaria-Geral. Esta nova instituição de carácter directivo e administrativo das Forças Armadas tem por objectivos a colaboração no estudo e análise de propostas, quando superiormente determinadas; a prestação de apoio técnico, administrativo, planificação, coordenação e normalização de procedimentos nas áreas jurídicas, de pessoal, logística, administração financeira, comunicações, infraestruturas, organização e informática no âmbito das Forças Armadas; participar e dar parecer em assuntos relacionados com actividades que envolvam as FSM; estudar e propor medidas de natureza regulamentar, administrativa e técnica; desempenhar, por determinação do Governador, outras tarefas não compreendidas anteriormente. O Sistema Integrado de Comunicações das FSM (SICOMACAU), projectado em 1991 e instalado no ano seguinte, inclui os sub-sistemas: Renovaçãodo Sistema Telefónico, Renovação do Sistema Rádio, Telemetria e Controlo de Infraestruturas e Sistemas de Apoio Rádio, Rede de Fibras Ópticas, Automatização e Informatização do 999, e Rede de Dados Móveis. Tais operações permitiram uma maior segurança nas comunicações, possibilidade de comunicações e alarmes de emergência, interligação telefónica, ou seja, possibilidade de uma comunicação telefónica ser difundida pela rede rádio. O Convento de S. Francisco é onde se encontra instalado o Comando das FSM. A partir de 1995, os militares portugueses foram sucessivamente substituídos por quadros superiores locais formados pela Escola Superior das FSM. O aniversário das DSFSM comemora-se no dia 28 de Janeiro, data da publicação do Decreto da sua constituição. – I. Comandantes da FSM. 1.De 16-1-1976 a 18-9-1978 – Joaquim Chito Rodrigues; 2. De 1-3-1979 a 3-7-1981 – José Carlos Moreira Campos; 3. De 25-7-1981 a 27-5-1986 – Manuel Maria Amaral de Freitas; 4. De 21-7-1986 a 10-4-1990 – José Fernando Proença de Almeida. – II. Directores das DSFSM. 1. De 31-7-1991 a 15-9-1996– Renato Gastão Schulze da Costa Ferreira; 2. De10-10-1996 a 25-2-1999 – Eduardo Alberto deVeloso Matos. [A.N.M.] Bibliografia: Forças de Segurança de Macau, (Macau, 1999); TEIXEIRA, Padre Manuel, A Polícia em Macau, (Macau,1991).
No dia 19 de Novembro de 1864, foi entusiasticamente recebido e com grandes festejos o Corpo dos Voluntários Artilheiros de Hong Kong, sob o comando do Coronel Brine. Durante os dois dias de permanência fizeram-se em Macau grandes festas, reinando a melhor camaradagem e cordialidade entre portugueses e ingleses. No dia 24 de Junho de 1866, o Corpo de Voluntários de Hong Kong ofereceu em Macau uma espada ao Governador José Rodrigues Coelho do Amaral como sinal de reconhecimento, pela cordial recepção que teve nesta cidade, na sua visita, em 19 de Novembro de 1864.
No dia 24 de Junho de 1940, foram inauguradas as estátuas do Governador João Maria Ferreira do Amaral, no aterro da Praia Grande, e a do Coronel Vicente Nicolau Mesquita, o herói de Passaleão, no Largo do Senado, ambas do escultor Maximiliano Alves. A primeira foi retirada pelo Governo (a 28 de Outubro de 1992) e remetida para Lisboa; a segunda foi apeada durante o 1.2.3 (1966, Dezembro), pelos amotinados. [No “Notícias Ilustrado” fora referida em 1928 a maquete do monumento em memória de Ferreira do Amaral, como obra também devida ao Arquitecto Carlos de Andrade]. O Anuário de Macau de 1940-41 tem fotos do dia da inauguração.
No dia 24 de Junho de 1942, segundo o jornal Va Kio desta data, há em Macau um Instituto de Língua Japonesa. De facto o governo japonês obrigava ao ensino da sua língua nos países e áreas que ocupou durante a Guerra do Pacífico. Mas Macau, mantendo a neutralidade, não tem escolas de japonês por essa determinação, tanto assim que a frequência era facultativa. Deverá supor-se que os anúncios na imprensa se dirigiam a eventuais interessados que por motivos vários se encontravam esporadicamente a residir em Macau. Conforme o professor Shinji Ginoza, há registo de 362 anúncios de instituições diversas oferecendo o ensino do japonês ao longo de 10 meses, após o que desaparecem por completo. Razões, professores, escolas, métodos, material didáctico, tudo perpassa pelo estudo do académico japonês.V. Ginoza, S. – Japanese Language Teaching and Learning in Macau, 1942, Actas…, pp. 469-684. [Ginoza foi Director do Centro de Estudos Japoneses da Universidade de Macau de 1993 a 2003. Faleceu em Fevereiro de 2003 e a U.M. instituiu um prémio em seu nome para os melhores alunos desse Centro de Estudos. V. também Jin Guo Ping e Wu Zhiliang – “Terá Havido Acordos Secretos Entre Portugal e o Japão Durante a Segunda Grande Guerra?” - In : Administração, nº 51, Vol.XIV, pp. 139-175.].
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