Surgimento e mudança da Ribeira Lin Kai de San Kio
Macau e a Rota da Seda: “Macau nos Mapas Antigos” Série de Conhecimentos (I)
Escravo Negro de Macau que Podia Viver no Fundo da Água
Que tipo de país é a China ? O que disseram os primeiros portugueses aqui chegados sobre a China, 1515
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O projecto “Memória de Macau” foi galardoado com “Estrela de Descobrimento” do “Prémio Global 2024 para Casos Inovadores em Educação do Património Mundial (AWHEIC)”.
Trata-se de um significativo conjunto de cerca de seis mil folhas manuscritas, cronologicamente situadas, na sua grande maioria, entre meados do século XVIII e a primeira metade da centúria seguinte. A temática desta documentação diz respeito às relações entre as autoridades portuguesas e chinesas a propósito do território de Macau, versando múltiplos e variados temas, no âmbito dos contactos ofic
Após meses de preparação, a caravana constituída por três Mitsubishi Pagero, baptizados com os nomes de Macau, Taipa e Coloane partiram, do simbólico Jardim Camões, em Macau, para o II Raide Macau-Lisboa, no dia 27 de julho de 1990.
Chegamos a ver fotografias antigas de Macau, cujos cenários são irreconhecíveis. Agora o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro coloca as fotografias antigas de Macau nos cenários actuais, permitindo-nos viajar nos diferentes tempos ......
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No dia 6 de Junho de 1632, foi resolvido remeter para o Japão os indivíduos que, tendo trazido prata dos negociantes desse país para adquirir mercadorias, o não fizeram, a fim de lá pagarem tudo o que deviam, para evitar a quebra do comércio com esse país; incluíam-se os que não tivessem de momento com que pagar, para fazerem as contas com os seus credores, na esperança de ser quitada parte das suas dívidas ou de lhe serem concedidas moras para seu pagamento.
No dia 2 de Junho de 1710, na tarde deste dia reuniram-se todos os prelados e alguns homens bons, na residência do Governador, Diogo de Pinho Teixeira, a fim de o convencerem a desistir do seu propósito de forçar a entrega da corporação do Senado, que se tinha refugiado no Colégio de S. Paulo, e que fora por ele demitida, originando com isso graves desordens e inquietações que puseram em perigo a cidade. O Pe. Marco da Companhia de Jesus e o Vigário-Geral conseguiram com fortes razões levar o Governador a mandar retirar as sentinelas com que havia cercado o Colégio de S. Paulo. No dia 6 de Junho de 1710, não obstante Diogo de Pinho Teixeira ter mandado retirar as sentinelas que vigiavam o Colégio de S. Paulo, não terminou o conflito, que trazia a cidade dividida em partidos, pois funcionavam dois senados: um, o governamental, na casa da Câmara, e o outro, que fora dissolvido pelo Governador, no Colégio de S. Paulo dos padres da Companhia de Jesus. O Governador convocou neste dia os cidadãos para a eleição do juiz que faltava, sendo sucessivamente eleitos João Soares, Manuel Peres e António Pinheiro, que se recolheram ao Colégio de S. Paulo, à medida que iam sendo eleitos, continuando assim vago o cargo de juiz.
BOCAGE, MANUEL MARIA L’HEDOUX DE BARBOSA DU (1765-1805). Bocage nasceu em Setúbal, em 15 de Setembro de 1765, e morreu em Lisboa, a 21 de Dezembro de 1805. Muito jovem (1781), fugiu de casa para o Quartel de Infantaria de Setúbal, onde assentou praça, ingressando no ano seguinte na escola da Companhia dos Guardas-Marinhas. Frequentador da boémia lisboeta, acabou por abandonar a escola, sendo dado como desertor em 6 de Junho de 1784. Inadaptado aos cânones sociais da época, uma paixão, cantada nos seus versos, trouxe-lhe o desejo de estabilidade económica. Assim, consegue vir a ser nomeado guarda-marinha, qualidade em que embarcou para a Índia em 4 de Abril de 1786. Chegado a Goa em 1787, sempre considerou a sua estadia no Oriente como um exílio, sentimento aliás bem patente na própria obra. Bocage foi promovido a tenente em 1789, após o que foi colocado em Damão, daí fugindo ao fim de dois dias, em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas. O navio em que viajava terá aportado em Cantão e o poeta sido acolhido nas feitorias estrangeiras, vindo depois para Macau, onde residiu entre Outubro de 1789 e Março do ano seguinte. É ainda na China que toma conhecimento da morte, ocorrida em 11 de Setembro de 1788, do príncipe herdeiro D. José – a promissora esperança de um partido da Corte a que Bocage não parece ser indiferente – compondo então uma elegia em sua memória, texto no qual se remete mais uma vez à situação de exilado. Beneficiando do apoio e da hospitalidade do comerciante Joaquim Pereira de Almeida (a quem apelida de “benfeitor e amigo” na elegia que lhe dedica por ocasião da morte do pai), Bocage vem para Macau onde, por intermédio deste seu protector, se relaciona com as principais famílias da terra. Embora se trate de um período pouco estudado e documentado da vida do autor, deixou-nos o mesmo, através de uma produção poética sobretudo encomiática (tão ao gosto da época e de que foi um dos mais famosos cultores), não só o testemunho daqueles que integrariam o círculo das suas relações, ou se comportariam como os seus mecenas, mas também o reflexo do que seriam os seus sentimentos nos mais recônditos fins do Universo. Aliás, o soneto “Um governo sem mando, um bispo tal”, que lhe foi atribuído, constitui uma crítica mordaz sobre o que seria Macau na época (embora a autoria de Bocage, que aliás nunca foi pacífica, seja cada vez mais contestada), poderá de alguma forma equivaler à sua visão da cidade, e de modo mais genérico, ao sentimento, então mais ou menos generalizado, da decadência da presença portuguesa no Oriente. Apesar desse seu desprezo, o nome de Bocage foi dado a uma rua de Macau, que começa na Praça de Ponte e Horta e termina na Travessa das Virtudes. Durante a sua estadia no Território, dedicou outros poemas ao desembargador Lázaro da Silva Ferreira, governador interino de Macau(1789-1790), que lhe possibilitou o regresso a Portugal, como é o caso da ode “A Gratidão”; a D. Maria de Saldanha Noronha e Meneses, a quem, numa elegia e num soneto, pede intervenção para que consiga regressar a Portugal e não à Índia (de onde desertara, recorde-se), havendo ainda homenageado a rara beleza e sensibilidade de D. Maria de Guadalupe Topete Ulhoa Garfim. Renunciando ao posto de tenente, consegue finalmente regressar a Lisboa em 1790, não mais retomando a vida militar. Integra-se nos círculos culturais da capital, nomeadamente na Academia Nova Arcádia, onde assumiu o nome de Elmano Sadino, datando dessa época a publicação de três volumes das suas Rimas, que, aliás, viriam a ser reeditadas ainda em vida do autor, nomeadamente em 1800 e 1802. Em 1794, por se ter envolvido em contendas com alguns companheiros, é expulso da Academia e, em 10 de Agosto de 1797, preso às ordens de Pina Manique, sendo a peça principal do auto de acusação o poema “Pavorosa Ilusão da Eternidade”. Em 7 de Novembro é transferido para os cárceres da Inquisição e, em 22 de Março de 1798, para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades. A disciplina que então foi obrigado a seguir incutiu-lhe hábitos de trabalho e, uma vez posto em liberdade, traduziu para português as Metamorfoses de Ovídio e Os Jardins de Delille, entre outros. A sua obra – cuja publicação foi feita de um modo um tanto disperso, dando azo a algumas edições apócrifas após a sua morte – é constituída por todos os géneros poéticos do tempo, combinando elementos neoclassicistas e pré-românticos, sendo os temas mais tratados a solidão, o amor, o sofrimento, o belo-horrível e a morte, mediatizados pela sua própria experiência de vida. Considerado o maior poeta português do século XVIIII, ele mesmo estabelece o paralelismo entre o seu destino e o do grande poeta nacional, Luís de Camões. – Principais obras: Rimas, Tomo I (1791); Tomo II (1799); e Tomo III (1804); Obras Poéticas, Tomo IV (1812); Tomo V (1813); Poesias de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, ed. Inocêncio da Silva, (Lisboa, 6 vols., 1853); Obras Poéticas de Bocage, ed. Teófilo Braga, (Porto, 6 vols., 1875); Opera Omnia de Bocage, ed. Hernâni Cidade, (Lisboa, 6 vols., 1969-1973). Bibliografia: Bibliografia: GRACIAS, José António Ismael, Bocage na Índia – Memória Histórica e Crítica, (Nova Goa, 1917); TEIXEIRA, Padre Manuel, “Bocage em Macau”, in Boletim do Instituto Luís de Camões, vol. XI, n.° 4 (Macau, 1977), pp. 237-256; VALE, António, “Bocage, Autor do Soneto Sobre Macau?”, in MacaU, n.° 54, (Macau, 1996), pp.170-177.
O artista George Chinnery nasceu em Londres, a 5 de Janeiro de 1774, e foi o terceiro filho sobrevivente de um “mestre da escrita”, William Chinnery, que tinha exposto retratos na Sociedade Livre de Artistas em 1764 e 1766. Chegou a Macau em 1825 e aí morreu, em 1852. Macau foi a sua casa durante a maior parte destes 27 anos. Foi o mais eminente artista ocidental que viveu e trabalhou na costa da China. O seu irmão mais velho, outro William Chinnery, fez fortuna como agente oficial em várias colónias da Coroa. Emprestou dinheiro ao irmão artista nos primeiros tempos da carreira deste. Contudo, em 1812 soube-se que a maior parte da riqueza de William Chinnery tinha sido obtida através de fraudes e ele fugiu do país para não mais voltar. O segundo irmão, John Terry Chinnery, foi para a Índia ao serviço da Companhia das Índias Orientais; juntou-se-lhe, em 1802, George Chinnery, o irmão mais novo. George Chinnery já tinha ganho uma reputação considerável em Londres. A 6 de Junho de 1792 inscreveu-se na Royal Academy Schools, o primeiro passo para se tornar artista professional. ‘’Os seus modelos eram Sir Joshua Reynolds (que morreu pouco antes de Chinnery começar os seus estudos nas Escolas) e Thomas Lawrence, a estrela em ascensão entre os retratistas britânicos. Entre 1791 e 1785 expôs 12 retratos em miniatura e retratos desenhados nas exposições anuais da Real Academia. Em 1796, mudou-se para a Irlanda e fixou-se em Dublin, onde tinha parentes afastados. A alta burguesia protestante irlandesa encontrava-se no auge da sua riqueza e do seu poder e o jovem artista recebeu encomendas de uma quantidade de retratos, não só miniaturas mas também retratos a óleo em tamanho natural. A 19 de Abril de 1799 casou com Marianne Vigne, a filha mais nova do senhorio. Em 1800, foi fundada a Sociedade de Artistas da Irlanda; Chinnery foi o primeiro Secretário da Sociedade e um dos seus membros mais activos. No final do ano de 1800 foi abolido o Parlamento irlandês, de maneira que o povo irlândês só era representado em Londres. Em consequência disto, muitos dos residentes abastados de Dublin saíram da cidade; alguns deles, incluindo George Chinnery, foram para Inglaterra. Decidiu ir para junto do irmão, John, que estava na Índia, onde vários artistas britânicos tinham desfrutado uma carreira lucrativa, embora outros artistas prometedores tenham falhado, ou morrido prematuramente. Solicitou à Companhia das Índias Orientais autorização para viajar para a Índia, a fim de trabalhar como pintor. Foi-lhe autorizado o pedido (à segunda tentativa), e partiu para a Índia em Junho de 1802 a bordo do Gilwell, um navio construído na Índia e baptizado com o nome da casa de campo do irmão mais velho. Deixou em Inglaterra a mulher e dois filhos pequenos. Era costume os homens casados irem sozinhos para o Oriente e a família juntar-se-lhes mais tarde, logo que estivessem definitivamente instalados. Em Dezembro de 1802, Chinnery juntou-se ao irmão em Madras. No início, parece que as coisas correram lentamente, embora tivesse conseguido pintar os retratos de vários colegas do irmão, civis e militares. O seu quadro mais famoso do período de Madras é o retrato de William e Katherine Kirkpatrik que representa o filho e a filha meio-indianos do embaixador na corte de Hyderabad, pouco antes da partida destes para Inglaterra. Chinnery também desenvolveu o seu talento de desenhador produzindo uma série de gravuras, The Indian Magazine and European Miscellany, publicadas em 1807. No mesmo ano, recebeu a incumbência de pintar o retrato mais importante até aquele momento, o do novo Presidente do Supremo Tribunal de Bengala, Sir Henry Russel. Isto levou-o a Calcutá, que, era de facto, a capital das Indias Britânicas. O retrato cerimonial (no Supremo Tribunal de Calcutá) foi muito elogiado e foi feita em Londres uma gravura do mesmo retrato. Mas antes de se mudar definitivamente para Calcutá, foi encontrar-se com o seu amigo Sir Charles D’Oyly em Dacca. D’Oyly era um artista amador entusiasta e, depois de ele se ter juntado a Chinnery em Calcutá, em 1812, foi em casa de D’Oyly que um grupo de artistas amadores se reuniu, em torno de Chinnery e tentou seguir o seu exemplo. Em Calcutá, Chinnery, tornou-se o principal artista expatriado, retratando muitas das figuras mais importantes da sociedade de Calcutá e suas famílias.Tornou-se uma figura muito conhecida na cidade, famoso pela sua excentricidade e pela sua graça à mesa. Tinha muito boa relação com a família do Governador Geral, o primeiro Conde de Minto, do qual pintou pelo menos quatro retratos. Para além disto, pintou inúmeros desenhos (e alguns óleos) de cenas de aldeia Bengal, muitas vezes com habitações em ruínas, túmulos arruinados e animais domésticos. Vê-se os aldeões carregando bilhas de água, a preparar comida em fogões provisórios ou a lavar roupa à beira de um rio. A mulher e os filhos, finalmente, juntaram-se-lhe. Em Julho de 1817 chegou à Índia a filha, Matilda, seguida, em 1818, pela esposa, Mariana e pelo filho, John, em 1822. Por esta altura, porém, Chinnery e a mulher viviam separados. Chinnery esteve algum tempo com o filho, que depois começou uma viagem fluvial para ir visitar a mãe, mas adoeceu e morreu antes de chegar junto dela. Chinnery era bem remunerado por muitos dos seus trabalhos em Calcutá. Mas gastava ainda mais do que ganhava e as dívidas transformaram-se num problema crescente. Em 1821, foi viver para o estabelecimento dinamarquês de Serampore, onde não se aplicava a lei civil britânica. Os amigos emprestaram-lhe dinheiro para permitir que o artista voltasse para Calcutá e pagasse as dívidas, mas acontece que o artista tinha subestimado as suas responsabilidades. Para fugir aos credores, partiu de barco para a costa da China, em 13 de Julho de 1825, dizendo que fazia a viagem por mar para restabelecer a saúde. A mulher e a filha (agora já casada) ficaram para trás, assim como os dois filhos ilegítimos, de mãe indiana, nascidos em 1812-1813. Chegou a Macau a 29 de Setembro de 1825. Passou aqui o Outono e, em Junho do ano seguinte, arrendou a curto prazo uma habitação na Rua de Ignácia Baptista, número 8, perto da igreja de S. Lourenço. Os arquivos do Senado de Macau registam que, “a 17 de Junho de 1826, Maria de Carvalho, mulher de Manuel Homem de Carvalho, pediu licença para alugar por seis meses a sua casa na rua de São Lourenço que desce para a praia do Manduco” a ‘George Chinnery, comerciante estrangeiro’. Parece que ocupou estas instalações durante o resto da sua vida. Em 1830, os seus vizinhos mais próximos eram o missionário Dr. Robert Morrison e dois empregados da Companhia das Índias Orientais, Robert Hudleston e John Jackson. Durante alguns anos, entre 1826 e 1832, Chinnery dividiu o seu tempo entre Macau e Cantão. Embora a sua potencial clientela fosse aqui menor do que em Calcutá, conseguiu pintar os retratos tanto de oficiais chineses – incluindo os mercadores hong conhecidos como Howqua e Mowqua – e ocidentais, entre os quais William Jardine, James Matheson e vários outros associados destes. Pintou, também, as gentes locais que encontrava – barbeiros e carregadores, pescadores, ferreiros e tancareiras chineses. Macau oferecia-lhe grande variedade de assuntos: a Praia Grande vista de vários ângulos, as igrejas e seminários no alto de colinas, os jardins de Camões, o templo de Á-Ma (Mage Miao 媽閣廟) com os rochedos circundantes, as tendinhas apinhadas de gente no mercado de rua, em volta do mercado de S. Domingos. A partir de 1832, raramente saía de Macau. As suas movimentações podem ser inferidas com alguma confiança a partir dos seus desenhos, os quais são muitas vezes datados com precisão. Mais que isso, apresentam muitas vezes anotações, em estenografia, no sistema Gurney, que ele aprendeu, sem dúvida, quando era jovem. Estas anotações, em estenografia, nos esboços pintados serviam como auxiliares de memória, que o artista podia consultar quando chegava a executar uma versão à pena, uma aguarela ou uma pintura a óleo, do assunto. Em Macau, Chinnery continuou a gozar uma vida social activa, tal como fizera em Calcutá. Relatos contemporâneos, particularmente o diário da americana Harriett Low, descrevem-no a jantar a rigor (tinha um bom apetite famoso), a jogar cartas e a participar em representações teatrais amadoras. Em Calcutá, Chinnery e os seus discípulos amadores tinham desenhado os cenários para os eventos teatrais na Câmara de Calcutá e no teatro Chowringhee. De forma idêntica, em Macau, pintou cenários e, para além disso, participava nas peças fazendo papéis femininos de efeito muito humorístico. Em 1833 Chinnery concluiu o retrato da própria diarista Harriett Low, uma das suas obras mais bem documentadas que se encontra no Peabody Essex Museum, em Salem, Mass. Ao chegar a Macau com o tio, William Low, comerciante de Nova Inglaterra, ela descobriu que era a única mulher solteira na comunidade de expatriados ocidentais. Tal como outros visitantes, teve lições de esboço com Chinnery e copiou os desenhos deste. No diário refere-se a Chinnery como um contador de histórias, guloso, actor cómico, um génio divertido, ‘um dos homens mais feios que existem’ e ‘especialmente desagradável ao pequeno almoço’. A primeira vez que visitou o estúdio dele (ou a sala dele, como ela geralmente o descreve), admirou as “belas semelhanças’que ali viu. Contudo, quando o seu próprio retrato foi finalmente executado (juntamente com os retratos do tio e da tia) ficou menos satisfeita e escreveu que “não alimentou mesmo nada a minha vaidade’. Os visitantes dos aposentos de Chinnery, em Macau, viram muitas vezes auto-retratos, tanto desenhos como pinturas. Os auto-retratos que sobreviveram, especialmente os que foram pintados em idade mais avançada, parecem enfatizar a “fealdade” de que ele se orgulhava. Uma das versões mais lisonjeiras foi levada para a América pelo comerciante Benjamin Willcocks e está agora no Metropolitan Museum, em Nova Yorque. Os retratos mais tardios incluem o que está na National Portrait Gallery, em Londres, (exposto em 1846), no qual o artista confronta o espectador com uma postura agressiva, com sobrancelhas pesadas, cenho carregado e um vermelhão forte – um leitmotiv dos seus retratos – aplicado nos lábios e no nariz. Ao lado, encontram-se pinturas que representam as duas fases mais importantes da sua carreira: um túmulo na Índia e a Praia Grande em Macau. Este auto-retrato foi um dos catorze quadros que Chinnery enviou de Macau ou Cantão para serem expostos na Royal Academy, em Londres. Desta maneira, ele mantinha a reputação na pátria, que deixara em 1802 e à qual nunca voltou. Outros quadros expostos incluíam Howqua, o viajante cego Tenente Holman, RN (Royal Society, Londres), o missionário pomeraniano Charles Gutzlaff, que viajou nos barcos de ópio de Jardine e Matheson para trazer o Evangelho à China (em local desconhecido), o Dr Thomas Colledge, na sua enfermaria oftalmológica, com as suas assistentes chinesas (Peabody Essex Museum, Salem, Mass.); e ‘Assor, uma tancareira de Macau’ (em local desconhecido). Apesar da sua fama e do seu estatuto de figura lendária procurada por muitos dos que visitavam Macau, Chinnery nunca foi capaz de tirar muito proveito da sua obra. Alguns dos seus credores na Índia continuavam a pressionar para serem pagos muito tempo depois da sua partida. Conseguiram uma ordem do tribunal exigindo-lhe que pagasse metade dos seus ganhos ilíquidos durante cinco anos, a partir de 11 de Março de 1836. Quando ele não pagava, James Mattheson, em Macau, tratava com o agente em Calcutá para fazer ‘mais um esforço para o libertar’, estabelecendo um crédito de 16.000 rupias para os credores de Chinnery. Nessa altura, Chinnery estava a sofrer a concorrência dos artistas chineses ‘de exportação’, que pintavam num estilo ocidentalizado. O seu rival mais notável era Guan Qiaochang (關喬昌), conhecido pelos ocidentais como Lamqua (Lin Gua 林呱). Já se disse muitas vezes que Lamqua (Lin Gua 林呱) teve lições com Chinnery, mas o próprio Chinnery o negou. De qualquer maneira, Lamqua (Lin Gua 林呱) adoptou com notável facilidade o estilo de Chinnery e baixou muito os preços. Quando Chinnery se estabeleceu definitivamente em Macau, Lamqua ficou sem rival em Cantão e trabalhava com muitos assistentes num enorme estúdio, em Cantão, o qual foi sucessivamente descrito por muitos visitantes. Para mais, no início dos anos 40 do século XIX, Lamqua (Lin Gua 林呱) pintava também retratos para clientes ocidentais em Macau e, em 1845, abriu um estúdio na Queen’s Road, em Hong Kong. Na primeira fase da ‘Guerra do Ópio’, o nome de Chinnery foi referido, numa proclamação chinesa de 1840, como um um dos seis expatriados que recebiam ordem de sair da colónia, sob pena de captura imediata pelas autoridades chinesas. Tentou, sem êxito, arranjar passagem para Bengala. O alívio que sentiu com a chegada das forças navais britânicas está expresso numa nota, em estenografia, num desenho datado de 16 de Junho de 1840 – ‘o dia mais importante que os ingleses jamais experimentaram na China’, escreveu ele. Pouco depois do Tratado de Nanquim, executou um dos seus mais célebres retratos de grupo, On Dent’s Verandah. Neste, dois “mercadores na China” e amigos próximos do artista, o americano William Hunter e o francês J. A. Durran, aparecem ao lado do Capitão William Hall, comandante do vapor de ferro Nemesis. À medida que Hong Kong se desenvolvia depois da Guerra, muitos dos clientes de Chinnery mudaram-se de Macau para lá. Ele mesmo passou seis meses em Hong Kong, em 1846, mas não estava bem de saúde e não chegaram até nós muitos dos seus desenhos desta época. Em 1843, a casa em que ele vivia, foi ocupada pela missão católica. Chinnery não pagou o aluguer aos novos senhorios e o dinheiro em dívida só foi recuperado depois da sua morte pelo padre Superior, Frei Joaquim Leite. Chinnery morreu a 30 de Maio de 1852, aos 78 anos – uma idade excepcionalmente avançada para europeus nas costas da China. A autópsia foi feita pelo seu amigo (e artista amador) Dr. Thomas Boswall Watson, que declarou que o célebre estômago do artista estava de perfeita saúde, mas ele tinha morrido de uma “apoplexia séria”, ou, em termos modernos, de um ataque. Foi sepultado no Cemitério Protestante de Macau . Não se encontrou qualquer testamento, mas uma venda das obras do estúdio, em 28 de Julho de 1852, atraíu bastante público. O Hong Kong Register relatava que “uma regata, um baile e as obras do falecido senhor Chinnery em Macau, afastaram a elite da sociedade de Hong Kong, esta semana”. A 30 de Março de 1974 foi descerrada uma lápide com uma inscrição trilingue criada por Sir Lindsay Ride. A lápide foi colocada sobre a grande pedra tumular do século dezanove, que tinha apenas a inscrição ‘George Chinnery’. Na mesma altura, uma rua, perto do lugar da sua antiga casa, que até então se chamava Rua do Hospital dos Gatos, mudou oficialmente de nome para ‘Rua George Chinnery’. As autoridades de Macau também deram um novo nome chinês ao artista. Em lugar do nome que era tudo menos elogioso de Chin lup Ley (Qiannali 錢納利) (dinheiro a juros), passou a ser Chin Lin Lei (Qiannianli 千年利) (mil anos de benefício). Bibliografia: CONNER, Patrick R. M., George Chinnery 1774- 1852, Artist of India and the China Coast, (1993); NUÑEZ, César Guillen, (ed.), “Macau, uma Viagem Sentimental”, in George Chinnery 1771-1852, (Lisboa, 1995); Museu Luís de Camões, ‘George Chinnery – Macau’, (Macau, 1985); BONSALL, Geoffrey W., “George Chinnery’s Shorthand”, in HUTCHEON, Robin, Chinnery. The Man and the Legend, (1975), pp. 147-153; HODGES, Nan; HUMMEL, Arthur W., (eds.), Lights and Shadows of a Macao Life. The Journal of Harriett Low, Traveling Spinster, 2 vols., (2002); HUNTER, William C., An American in Canton (published originally as The ‘Fan Kwae’ at Canton before Treaty Days, 1825-1849, and Bits of Old China), (1994); TEIXEIRA, Padre Manuel, George Chinnery no Bicentenário do seu Nascimento, (Macau, 1974).
Por carta régia de 6 de Junho de 1814, foi nomeado intérprete João José da Silva, macaense, com o ordenado de 480 taeis. Seguiram-se os macaenses João Rodrigues Gonçalves, Manuel Maria Dias Pegado, José Martinho Marques, José Joaquim Vieira; a estes seguiram-se outros dois macaenses, Pedro Nolasco da Silva e Eduardo Marques, nomeados por Portaria n.os 9 e 10, de 26 de Janeiro de 1871, e confirmados pelo Dec. de 25 de Abril do mesmo ano. O cargo viria a ser regular e comum, criando-se a carreira de intérprete e a multiplicação de funcionários].
(6 de Junho de 1818) Grande incêndio na “Praia Pequena” pelas 9 da noite e atingindo o Bazar, com origem nas barracas clandestinas que serviam de habitação e botica a uma franja da população chinesa entre o vadio e o tendeiro. Na ocasião, o Procurador da Cidade escreve ao Suntó de Cantão pedindo-lhe apoio que não encontra nos Mandarins de Casa Branca, para fazer valer, junto desses ociosos chineses, a lei que proíbe tais barracas, que são também couto de ladrões e jogadores, mesmo chegadas a casas vizinhas dos portugueses. O Procurador Pereira participa ainda que, para evitar a propagação de mais incêndios, a cidade vai abrir uma rua larga, cercada por uma parede entre os dois focos habitacionais. Arderam também boticas chinesas, mas algumas de boa seda. Talvez um prejuízo de 1 milhão de patacas. O Convento de S. Domingos esteve em perigo. A propósito deste incêndio, comenta o Dr. J. Caetano Soares (Cfr. op. cit.), que os portugueses tinham assistência médica, mas não os chineses, que continuaram esquecidos mesmo depois deste incêndio: “nem, quando após o incêndio que destruiu a maior parte do Bairro de S. Domingos, vulgarmente conhecido como Bazar Grande, a Casa de Beneficência chinesa Sam Kai-Hui-Kun [assembleia dos habitantes das três ruas] pretendeu instalar-se mais à larga, nem mesmo essa oportunidade foi devidamente aproveitada”. A sede desta sociedade era o Sam-Kai-Miu (Pagode das três ruas), único edifício poupado pelo incêndio; a sociedade tinha também carácter político, sob a hegemonia do Mandarim de Heong-Shan e Casa Branca. Quando nela se deu uma cisão, o governo de Macau ajudou-a, dando-lhe um terreno suburbano, onde, em 1872, se construiu o Kiang-Wu (Hospital Chinês de Macau), que ficou sendo a sede da mesma sociedade. (Cfr. Macau e a Assistência, op. cit., p. 129).
A Portaria Provincial n.º 51 de 6 de Junho de 1881 aprova os Estatutos da Associação 'Club Y-on'. Segundo os estatutos, a fim desta associação é promover divertimentos para recreio dos mesmos sócios. Os divertimentos consistirão em jogos permitidos por lei como jogos carteados, dominó (kuat-pay), Chiong-iun, xadrez chinês, leitura dos jornais e livros, banquetes, concertos musicais e jogos de grilo. No recinto do clube não será permitido jogar o fantan e a roleta chinesa. O capital desta associação consiste em $4,000, dividas em 80 acções de $50. A associação será regida por uma comissão directora composta de um presidente, de um vice-presidente e de um tesoureiro. Julgamos ter sido nesta data que foi criado o primeiro Clube Chinês, seguido de outros semelhantes onde se cultivava o associativismo e a troca de temas de negócio. (V. Diário do Governo: n.º 244, de 1868; n.º 133, de 1870; n.º 51, de 1894).
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