A Escola Comercial Pedro Nolasco iniciou a sua actividade em 8 de Janeiro de 1878, tendo-se mantido em funcionamento até 1 de Setembro de 1998. Nesta data, os seus alunos, professores e instalações transitaram para a Escola Portuguesa de Macau,entretanto criada. A criação da Escola Comercial correspondeu a uma velha aspiração dos macaenses que não viam satisfeitos os seus desejos de dar aos filhos qualquer tipo de escolarização e muito menos uma educação que os preparasse para a vida. Correspondeu à realização do sonho de verem na sua terra uma escola que desse aos jovens uma preparação profissional para poderem seguir a única carreira possível nestas paragens, na época: trabalhar nos escritórios comerciais nacionais e estrangeiros, não só de Macau, mas também de Hong Kong e Xangai, do Japão, de Singapura, do Sião, da Austrália, etc.. Em 1871 foi criada a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), por um grupo de cidadãos de Macau e Hong Kong, com o principal objectivo de fundar e manter um Collégio Commercial (“uma casa de educação e de instrução que satisfaça as aspirações dos macaenses”) que oferecesse garantias de estabilidade. Estipulava-se nos seus estatutos, aprovados pela Portaria Provincial de 29 de Setembro de 1871, no Artigo 13.º e seguintes que, depois de 5 anos a contar adquela data, se não fosse possível conseguir o fim para o qual se destinava aassociação, a mesma seria dissolvida caso a mesa da assembleia geral dos accionistas assim o entendesse. Durante os primeiros anos, a APIM fez várias tentativas no campo do ensino. Subsidiou escolas do Território, entre elas o Colégio da Imaculada Conceição. No final de 1877, este Colégio acabou por fechar as suas portas, deixando mais de uma centena de crianças sem escola. Em Agosto de 1877, a APIM decidiu avançar com a criação do Collegio Commercial, apesar das muitas dificuldades quer de natureza económica quer relacionadas com a falta de docentes. A escola abre numa casa particular, em 8 de Janeiro de 1878, com seis pofessores recrutados localmente, quatro deles em regime de voluntariado, a que se vieram juntar, passado pouco tempo, mais dois, respectivamente de Inglaterra e de Calcutá. Estes dois professores estiveram ao serviço da escola durante cerca de seis anos, a leccionar especialmente a disciplina de Inglês, deixando aos seus alunos compêndios de apoio à aprendizagem da referida língua. Também a língua chinesa mere- ceu a atenção da APIM que mandou vir de Pequim um professor, o qual ensinou a “língua mandarina a muitos jovens e a todos os interpretes sinologos que se encontravam ao serviço do governo portuguez”. Seis anos passados, a escassez de recursos e a falta de professores levou ao estabelecimento de um convénio com o Prelado da Diocese, no sentido de que a Escola Comercial funcionasse, em salas designadas para o efeito, no Seminário de S. José, sendo para aí transferidos os professores. Apesar de esta escola ter dado bons frutos durante dezasseis anos, a Associação não se sentia completamente satisfeita. A oferta por parte da escola mantinha-se reduzida, não ultrapassando a parte elementar do curso comercial, o que desgostava os dirigentes que viam partir quem podia para completar a sua formação em Hong Kong e Xangai, onde, em 1911, estudaria mais de meio milhar de alunos oriundos de Macau. Pedro Nolasco da Silva, o grande impulsionador do sonho da APIM, idealiza, em1899, a criação de um Instituto Comercial. Como não consegue que o Seminário lhe forneça professores, decide agregá-lo ao Liceu de Macau, fundado havia pouco tempo, ficando a APIM com a responsabilidade da orientação das disciplinas técnicas. Passados três anos, o Instituto estava anexado ao Liceu, deixando a APIM de ter influência na sua existência. Durante as duas primeiras décadas do século XX a Escola manteve uma actividade com pouca visibilidade, nem por isso menos meritória e mais fácil. Finalmente, em 1919, dá-se um decisivo impulso com a cedência pelo Governo de um edifício próprio, construído para o efeito na Calçada do Gamboa e com a aprovação oficial do “programa do curso de língua Sínica para as Escolas Central e Comercial”. Seguiram-se três décadas em que a Escola viveu tempos conturbados, tal como o foi, neste período, a vida económica e social do Território, em especial devido à segunda guerra mundial. Em 28 de Junho de 1952, um diploma ministerial concede validade oficial ao curso geral de comércio da Escola Comercial, mediante a realização de um exame final e autoriza que seja ministrada a secção preparatória para os institutos comerciais, o que muito contribuiu para o prestígio da Escola. Depois da oficialização, a população escolar cresceu consideravelmente. A Escola, que contava em 1952 com 109 alunos, era frequentada em 1967/1968 por 525. No dia 28 de Maio de 1966 foi inaugurado um novo edifício, construído sob orientação do arquitecto português Chorão Ramalho,em terreno de arrendamento vitalício e gratuíto, concedido à APIM pelo Governo, entre as Avenidas Infante D. Henrique e D. João IV. Na década de sessenta, Macau viveu tempos conturbados politicamente. Muitos macaenses receosos pelos reflexos no Território, da Revolução Culturalda República Popularda China, abandonaram Macau. A Escola Comercial ressentiu-se e as suas turmas começaram a diminuir. Em 1970 a frequência era de 325 alunos e em 1973/1974 reduziu ainda para 212. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, com a extensão a Macau da reforma educativa que criou o ensino unificado, perspectivava-se a descaracterização da Escola Comercial, o que provocou grande controvérsia a nível local. Finalmente, foi encontrado o consenso e, a partir do ano lectivo de 1980/81, a Escola Comercial pôs em funcionamento o curso unificado, equivalente ao Curso Geral do Comércio, mantendo no 7.º, 8.ºe 9.º ano as opções vocacionais de Dactilografia e Administração e Comércio e leccionando também a Área C (estudos económico-sociais) no ensino secundário unificado. A partir desta data as condições de funcionamento da Escola alteraram-se profundamente. O Governo do Território nome ou alguns professores do ensino oficial, assim como um director em dedicação exclusiva para prestar serviço na Escola. Esta situação fez esbater as diferenças entre o ensino oficial e o ensino particular, embora se mantivesse a autonomia e a independência da APIM. A partir de 1989/1990 passaram a ser ministrados no ensino secundário cursos profissionais e técnico-profissionais ligados à Administração, Comércio e Informática. Estes cursos funcionaram não só em regime diurno mas também em regime pós-laboral. No ano lectivo de 1992/1993 entrou em funcionamento o 1.º ano do 1.º ciclo e os cursos tecnológicos de Administração e Informática do novo ensino secundário. Em 1997/1998, quando cessou a sua actividade, a Escola Comercial contava com uma população escolar de 435 alunos, distribuídos do 1.º ao 12.º ano de escolaridade. Durante mais de 120 anos, a Escola Comercial Pedro Nolasco funcionou ininterruptamente como escola particular sem fins lucrativos, dando a sucessivas gerações de jovens macaenses uma formação de matriz portuguesa, sem deixar de responder às necessidades e desafios da realidade local. Em 21 de Dezembro de 1977, por ocasião do centésimo aniversário da sua fundação, a Escola Comercial Pedro Nolasco foi agraciada pelo Presidente da República Portuguesa com o título de Membro Honorário da Ordem do Infante Dom Henrique. Em sessão da Comissão Directora da APIM, de 9 de Dezembro de 1919, foi deliberado dar à Escola Comercial o nome de Pedro Nolasco. [M.F.S.]
Bibliografia: CANHOTA, António Augusto da, Bodas de Diamante da Escola Comercial “Pedro Nolasco”, (Soi Sang, 1953); BARATA, Aureliano, O Ensino em Macau, 1572-1979, (Macau); Brochura da APIM, (Macau, 1986); GUEDES, João; MACHADO, José Silveira, Duas Instituições Macaenses–Associação Promotorada Instrução dos Macaenses ; Escola Comercial “ Pedro Nolasco”, (Macau, 1998); TEIXEIRA, Padre Manuel, Pedro Nolasco da Silva – Macau, (Macau, 1942); TEIXEIRA, Padre Manuel, I Centenário da Associação Promotorada Instrução dos Macaenses – Macau 1871/1971; “125 Anos da APIM – Formare Instruir a Juventude Macaense”, in Revista Macau, II série, n.° 48, (Macau, Abril 1996).

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Data de atualização: 2023/05/16