Franciscano da Província de S. Tomé da Índia, nasceu em Macau por volta de 1570 e faleceu em Goa, a 25 de Janeiro de 1651. Os dados biográficos deste frade, recolheu-os e divulgou-os, com toda a segurança documental e espírito crítico, Frei Fernando Félix Lopes, pela primeira vez em 1962, na introdução à principal obra que Frei Paulo da Trindade deixou manuscrita e a partir de então editada. Desconhecem-se tanto o seu como os nomes dos seus ascendentes, bem assim como as datas do seu nascimento e baptismo, sendo totalmente despicienda a informação tardia que o pretende dar como filho de nobreza conhecida, mas sem se apontar concretamente o nome de ninguém. Depois de ter ido para Goa, ingressou na Ordem Franciscana, em que professou em datas ignoradas, com o nome com que é conhecido. Em 1595 era o mais jovem dos coristas do convento de Santo António de Basais. Aí cursou Artes e Teologia com Frei Manuel do Monte Olivete, português que aí teve questões com a Inquisição, vindo ele próprio a substituir o Mestre, em 1609, quando este regressou a Portugal. Permaneceu então Leitor de Teologia até se jubilar. Em 13 de Julho de 1618, e na qualidade de Leitor de Prima, coube-lhe dar a lição inaugural. Envolveu-se, ou envolveram-no, em reivindicações de autonomias de governo de Franciscanos das Índias relativamente aos Franciscanos de Portugal, nas primeiras décadas do século XVII, como se vê de queixas e correspondências apresentadas diante da Cúria Romana e da Propaganda Fide, directamente ou por meio do Colector da Santa Sé em Portugal. Em 1629, estava nas terras de Bardês e no Capítulo da Província, a maioria quis elegê-lo Provincial, tendo contudo o Comissário Geral Frei João de Abrantes feito vingar a candidatura dum apaniguado seu. Na sequência do óbito do recém-eleito Comissário Geral dos Franciscanos para a Índia, em Setembro de 1633, Frei Paulo da Trindade tivera de assumir este cargo. O Vigário Geral, Frei António Henriques, nomeou- o Comissário Geral na Índia, em 1633. Nessa qualidade, viera a desempenhar, para o período de 1634-1636, as funções de visitador de ambas as Províncias franciscanas de S. Tomé e da Madre de Deus, tempos atrás elevadas a tal categoria, por letras apostólicas Ex iniuncto de 1 de Setembro de 1612, do Papa Paulo V e pela Constituição Apostólica Sacri Apostolatus, de 11 de Janeiro de 1622, do Papa Gregório XV. A 7 de Janeiro de 1635, presidiu em Goa ao Capítulo Provincial que mandou a Roma Frei Miguel da Purificação para defender a Província que o Rei de Portugal pretendia reduzir novamente a Custódia. Em Janeiro de 1637, o Vice-Comissário que presidiu ao Capítulo da Província da Madre de Deus já não foi ele, mas Frei Valério de S. Miguel. Escreveu algumas obras e opúsculos de Teologia e Direito, deixadas manuscritas e recenseadas por Barbosa Machado, designadamente: uma “Theologia Moral”; “O juramento delRey D. Affonso Henriques. Embaixada que elRey D. Manoel mandou a Roma. Inventario do prezente, que o Embaxador levava a Sua Santidade e outras noticias curiosas”; “Breve Recopilação do poder... que tem os Confessores Mendicantes... para absolver e dispensar particularmente nas partes da Índia Oriental, e Occidental”; “Conquista Spiritual do Oriente em que se dá relação de algumas cousas mais notaveis, que fizerão os Frades Menores da Santa Provincia de S. Thome da Indi.a.. repartida em tres livros”. Este último manuscrito, composto por volta de 1630, embora com aprovação dada em 1643 pela Inquisição de Goa para a impressão, só foi publicado em 3 volumes, respectivamente em 1962, 1964 e 1967, pelo Centro de Estudos Históricos Ultramarinos de Lisboa, com transcrição, introdução e notas de Frei Félix Lopes, OFM, tendo como base o texto do códice latino n.º 7746 da Biblioteca do Vaticano. Descoberto em 1924 por Leonardo Lemmens, é o único exemplar completo actualmente conhecido, e vários foram os que pensaram editá-lo, nomeadamente Martinho da Silva Carvalhosa, OFM, para a Faculdade de Missiologia da Universidade Propaganda Fide, Frei Aquiles Meersman, OFM e o Padre António da Silva Rego, que na impossibilidade de o fazer pessoalmente, recorreu à competência de Frei Félix Lopes. Trata-se de uma obra com 279 capítulos, que perfazem 1362 páginas na versão impressa. Redigida ao estilo da época, ostenta certo sabor apologético, pois tem em vista refutar e demonstrar ser historicamente uma monstruosidade o que certo autor afirmou em italiano, ao dizer que “os frades de S. Francisco na India não se occupavão em fazer Christandades, mas somente em enterrar diffuntos, e cantar missas de Requiem”. O certo é que, ao efectuar tal, a sua obra “saiu tão documentada e completa, que sempre a consideraram uma verdadeira Crónica”. [A.S.A.]
Bibliografia: TRINDADE, Frei Paulo,
Conquista Espiritual do Oriente, 3 vols., (Lisboa, 1962); MEERSMAN, Achiles, “The Chapter of the Madre de Deus Province in India”, in
Studia, n.º 5, (Lisboa, 1960); TEIXEIRA, Padre Manuel,
Macau e a sua Diocese, vol. III, (Macau, 1956-1961).
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