Jesuíta castelhano, que foi missionário na China no início do século XVII. Nascido em Valdemoro (Madrid), a 24 de Abril de 1571, Diego de Pantoja ingressou no noviciado da Companhia de Jesus de Toledo, em Abril de 1589. Concluídos os estudos, procurou as missões estrangeiras, tendo embarcado em Lisboa com destino ao Japão, a 10 de Abril de 1596. Ia integrado num contingente missionário do qual fazia parte o padre Niccolò Longobardo, que, em 1611, sucederia ao padre Matteo Ricci no cargo de superior da Missão da China. Chegado a Macau, em Junho de 1597, Pantoja prossegue os seus estudos de Teologia no Colégio de São Paulo, enquanto aguarda o abrandamento das perseguições movidas à Igreja Católica, no arquipélago nipónico. No entanto, em Julho de 1598, o padre Alessandro Valignano, o visitador jesuíta da China e Japão, determinou que seguisse para a China profunda. No final de 1599, Pantoja toma o caminho de Nanjing 南京, conduzido pelo padre Lazzaro Cattaneo. Entre Maio de 1600 e Janeiro de 1601, realiza a segunda parte da sua viagem através da China, acompanhando o padre Ricci e o irmão Sebastião Fernandes entre Nanjing 南京 e Pequim (Beijing 北京). Braço direito de Ricci no momento fundador da Missão de Pequim, aí se distingue ao realizar actividade apostólica em alguns povoados vizinhos, tendo feito a profissão dos quatro votos em 1603 ou 1604. Depois da morte deste seu confrade italiano, Diego de Pantoja ocupa boa parte do tempo a redigir as principais obras sobre temas de doutrina e apologética cristã que publicará em língua chinesa, caso de
As sete vitórias contra os sete pecados capitais, de um Tratado sobre a origem do homem, de Os doze artigos do Símbolo dos Apóstolos ede um apêndice ao Tianzhu shiyi 天主實義 (
Verdadeira Doutrina do Senhor do Céu), o catecismo que o padre Ricci publicara em 1603. Empenha-se também na composição de cartas geográficas, na escrita de uma síntese sobre a geografia do mundo, na revisão da versão chinesa dos
Elementos de Geometria de Euclides co-publicada por Ricci e pelo erudito Xu Guangqi 徐光啟 em 1607, assim como na correcção do calendário imperial e na coordenação de trabalhos como a
Exposição sumária das matemáticas ocidentais de SunYuanhua 孫元化. Na sequência do processo persecutório desencadeado pelo vice-presidente do Tribunaldos Ritos de Nanjing 南京, a 18 de Março de 1617 Pantoja será forçado a abandonar Pequim (Beijing 北京) em conjunto com o napolitano Sabatino de Ursis, seu companheiro nos trabalhos de revisão do calendário. Deportado para Macau, distinguir-se-á ao lado de Nicolas Trigault e de Alfonso Vagnoli como partidário das teses de Ricci na célebre “questão dos termos”, tendo pela frente os padres Longobardo, De Ursis e João Rodrigues Tçuzzu. Morre neste enclave português na China em Janeiro ou em Julho de 1618. Diego de Pantoja foi o único inaciano espanhol que trabalhou no interior da China nos anos em que aí permaneceu, assim como o único inaciano espanhol que constará por largas décadas dos catálogos da missão jesuíta chinesa. O seu Tratado dos sete pecados capitais conhecerá numerosas edições em língua chinesa entre 1614, data da sua aparição, e 1962, quando se editou pela última vez (Taiwan 臺灣). No Ocidente, o seu nome é sobretudo conhecido por via do tratado intitulado
Relación de la entrada de algvnos Padres dela Cõpañia de Iesvs en la China, y particulares sucessos que tuuieron, y de cosas muy notables que vieron en el mismo Reyno. Esta obra foi dedicada a D. Teresa de Zuñiga, Duquesa de Arcos, e apareceu editada em Sevilha, por Alonso Rodriguez Gamarra, em 1605 (por vezes, surge referida uma edição prévia, publicada em Valladolid, em 1604). Para além de ter sido reeditada em castelhano, conheceu diversas traduções nos anos seguintes: em italiano (Roma, 1607); em latim (Mogúncia,1607); em francês (Arras, 1607; Lyon, 1607; Rennes, 1607; Rouen, 1608); em alemão (Munique,1608); e em inglês. O tratado em causa consiste no desenvolvimento de uma carta que o próprio Pantoja escreveu em Pequim (Beijing 北京), a 9 de Março de 1602, dirigida ao padre Luis de Guzmán, provincial da Companhia de Jesus em Toledo, seu patrono espiritual e autor de uma importante
Historia de las Missiones de la Compañia de Iesvs en la India Oriental, y en los Reynos de la China y Iapon. Trata-se do primeiro título jesuíta exclusivamente dedicado ao Celeste Império, tendo antecedido os diários de Ricci publicados postumamente pelo padre Nicolas Trigault sob o título
De Christiana Expeditione apvd Sinas svscepta ab Societatis Iesv. No essencial, a
Relación de Pantoja compreende duas parcelas autónomas. Em primeiro lugar, apresenta a narrativa da viagem que Pantoja e Ricci realizaram entre Nanquim e Pequim, assim como os pormenores relativos à abertura da residência jesuíta na capital da China e às perspectivas de trabalho apostólico tal qual estas se perfilavam, em Março de 1602. Em segundo lugar, Pantoja procede a um levantamento das particularidades geográficas, históricas, produtivas, etnográficas, religiosas, políticas e militares mais salientes da China. Oferece também algumas amostras de escrita chinesa e faz referência a dois mapas do país com legendas sobre os rendimentos de cada província, o número de habitantes e a distribuição de cidades e fortalezas. Apesar de não constarem do impresso e de serem dados como perdidos, os indícios colhidos levam a supor que tais mapas se baseassem numa das edições do
Guang Yutu 廣輿圖 ou
Ampliação do Mapa Terrestre de Luo Hongxian 羅洪先. Do ponto de vista do processo de construção do conhecimento geográfico sobre a China na Europa, a
Relación de la entrada en la China de Pantoja assume uma especial importância em virtude de ter representado o primeiro impresso onde surgiram esclarecidas, em simultâneo, as questões fundamentais da latitude de Pequim (Beijing 北京), da latitude máxima do Império chinês, da identificação entre o Cataio medieval e a China e da coincidência entre a Cambaluc de Marco Polo e Pequim (Beijing 北京). [F.R.O.]
Bibliografia: TEIXEIRA, Padre Manuel,
Macau e a sua Diocese, vol. 8, (Macau, 1972); ROSS, Andrew C.,
A Vision Betrayed –The Jesuits in Japan and China 1542-1742, (Edimburgo, 1994); Zhang Kai,
Diego de Pantoja y China, (Pequim, 1997); OLIVEIRA, Francisco Roque de,
A Construção do ConhecimentoEuropeu sobre a China, c. 1500 – c. 1630, [em linha], dissertação, (Barcelona, 2003), [Consult. 28 Set. 2004], disponível em:http://www.tdx.cesca.es/TDX.1222103-16016/.
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